
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros
Não importa o que tenhamos conseguido. Se não somos de verdade felizes com nossa existência, chega um dia em que necessitamos responder três grandes perguntas: De onde viemos? Quem somos? E para onde vamos? Ainda que possa parecer o mesmo, há uma enorme diferença entre o existir e estar vivo. Muitas pessoas têm que estar a ponto de morrer para compreendê-la. E não se trata somente de morte física, mas também psicológica. É um dia levantar pela manhã e notar um incômodo mal-estar no estômago. De parar uns minutos ao meio-dia e experimentar uma falta absoluta de sentido e deter-se um momento ao anoitecer e sentir um profundo vazio no coração.
Estamos nos convertendo em robôs programados para produzir e consumir de forma mecânica, levando-nos a uma existência alienada, monótona e triste. Estamos tão desconectados que funcionamos com piloto automático, indo de um lado para o outro por pura inércia. Tendo muitas vezes chegado à conclusão de que esta desconexão é o normal e que o raro é ser feliz.
Tiranizados por nossos medos e covardias, ao entrar na idade adulta abrimos mãos de nossos sonhos, construindo uma vida seguindo as normas estabelecidas. E como resultado, nos vamos afastando de nossa verdadeira essência, convertendo-nos em alguém que não somos e colhendo intermináveis frustrações. Até que chega um dia em que o mal-estar, o sem sentido e o vazio tornam-se insuportáveis.
Somente então nos atrevemos a mudar. Há poucos dias escutei de uma grande amiga que vai fazer 60 anos a seguinte “sentença”: “Até aos 59 eu me achava jovem e agora aos 60 passei a me achar velha”, estava diagnosticada sua crise.
Não se sabe exatamente como funciona. Muitos definem como um “clic”. Outros, como o “despertar da consciência”. Seja como for, cada vez mais, seres humanos estão padecendo da denominada “crise existencial”. O curioso é que este processo psicológico não tem nada a ver com a idade, o sexo, a cultura e a posição social. Sabemos de pessoas a quem a “crise” acontece durante a adolescência e outros durante a aposentadoria.
Para o bem ou para o mal, chega um momento em que nos é impossível seguir fingindo e enganando-nos. Em todos esses casos, percebemos que nosso vazio existencial não está relacionado com o que temos e sim com o que somos. A necessidade de mudar conecta-nos com a coragem para adentrar em um território incerto e desconhecido: nós mesmos.
A “crise existencial” nos leva a questionar de onde viemos. Trata-se de refletir acerca das motivações que nos tem levado a seguir um determinado estilo de vida e responsabilizar-nos por a pessoa que cremos que somos e por a que podemos chegar a ser. Somente através do questionamento podemos conhecer nossa verdade e ser livre mentalmente.
A crise nos move a saber quem somos, uma pergunta que não pode responder-se com palavras e nem conceitos, mas através de nossa própria experiência. Apesar desta “busca interior” parecer não sair de moda, há mais de 2.500 anos, grafada no frontão de um templo em Delfos, na antiga Grécia, a mais repetida inscrição ao longo de todos os tempos: “Conhece-te a ti mesmo, mas não exageres”. É esse ato de conhecimento, capaz de promover nossa autotranscedência, de que fala Sócrates. Conhecer a mim mesmo para saber como modificar minha relação para comigo, com os outros e com o mundo. Uma vez sabendo de onde viemos e descobrindo quem somos, estamos preparados para decidir aonde queremos ir.
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