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A intimidade transformada
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Zenilce Vieira Bruno é psicoterapeuta de adolescente, adulto e casal, especialista em educação sexual e membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana. Escritora, é autora dos livros

Zenilce Bruno comportamento

A intimidade transformada

No contexto brasileiro, principalmente entre os segmentos médios urbanos mais intelectualizados, o casamento tradicional regido pela dominação masculina vem dando lugar a outra forma de casamento, em que a mulher reivindica igualdade e há uma constante negociação no relacionamento

As mudanças que vêm acontecendo no amor, no casamento e na sexualidade, ao longo da modernidade, resultaram em transformações radicais na intimidade e na vida pessoal dos indivíduos. Nesse processo, a chamada revolução sexual e a emancipação feminina tiveram um papel fundamental. As novas formas de relacionamento que resultaram dessas mudanças têm como base a igualdade e os princípios democráticos. Esse processo de democratização das relações pessoais afeta profundamente as representações e vivências do casamento. No contexto brasileiro, principalmente entre os segmentos médios urbanos mais intelectualizados, o casamento tradicional regido pela dominação masculina vem dando lugar a outra forma de casamento, em que a mulher reivindica igualdade e há uma constante negociação no relacionamento. Nesse tipo de casamento, a intimidade tende a se reestruturar com base em novos valores, entre os quais amizade e companheirismo se colocam como fundamentais.

A transformação da intimidade passa necessariamente por uma análise de gênero. Os novos estudos nesse campo questionam a ideia predominante na literatura de que os homens têm mais problemas com a intimidade do que as mulheres. Como diz Giddens, a intimidade é acima de tudo uma questão de comunicação pessoal, com os outros e consigo mesmo, em um contexto de igualdade interpessoal. Nesse cenário, as mulheres tiveram um papel de revolucionárias emocionais da modernidade e prepararam o caminho para expansão da intimidade. Vale lembrar que elas não fizeram esse trabalho sozinhas. A construção de relações amorosas e sexuais mais democráticas e igualitárias dentro ou fora do casamento é uma conquista de homens e mulheres. Tal conquista tem permitido o surgimento de outras formas de relacionamento amoroso, tanto no contexto heterossexual quanto fora dele.

Vivemos hoje no signo da pluralidade. O casamento formal, heterossexual com fins de constituição da família, continua sendo uma referência e um valor importante, mas convive com outras formas de relacionamento conjugal, como as uniões consensuais, os casamentos sem filhos ou sem coabitação e também as uniões homossexuais.

Nesse processo de transformação da intimidade, dos valores e das mentalidades, a tendência da sociedade é tornar-se cada vez mais flexível para acolher essas novas configurações das relações amorosas. Os mesmos movimentos de mudança levam os casais a reverem suas idealizações sobre o casamento, o amor e a sexualidade. Novas formas de amar e se relacionar estão sendo construídas para responder as exigências de uma sociedade onde os valores, as regras econômicas e sociais estão sempre em mutação.

 

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