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Onda de calor: entenda como as altas temperaturas afetam a saúde
Reportagem Especial

Onda de calor: entenda como as altas temperaturas afetam a saúde

Calor pode gerar desidratação, insolação, problemas cardiovasculares e respiratórios e perda de nutrientes. Cuidados devem ser redobrados, principalmente no caso dos grupos vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com doenças respiratórias

Onda de calor: entenda como as altas temperaturas afetam a saúde

Calor pode gerar desidratação, insolação, problemas cardiovasculares e respiratórios e perda de nutrientes. Cuidados devem ser redobrados, principalmente no caso dos grupos vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas com doenças respiratórias
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Uma condição que incomoda, desenvolve irritabilidade, cansaço, fraqueza e até dificuldade para se concentrar. Esses são uma das queixas dos efeitos do calor. A exposição às altas temperaturas associada ao tempo seco sem cuidados pode causar alterações mais graves com riscos à saúde, principalmente em crianças, idosos e pessoas com doenças respiratórias e cardiovasculares.

Antes de destrinchar os efeitos, é importante alertar que a mudança do clima está entre os maiores problemas ambientais e ameaças para a saúde global apontados pela Organização Mundial de Saúde (OMS). O cenário de calor extremo é registrado em algumas regiões do País, ocasionado pelo fenômeno climático El Niño Fenômeno que tem como principal característica o aquecimento atmosférico e da superfície do oceano Pacífico. , onde temperaturas chegaram a atingir picos acima de 40º C e sensação térmica de 50ºC, como na região Sudeste.

Exposição às altas temperaturas associadas ao tempo seco sem cuidados pode causar alterações  graves com riscos à saúde(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Exposição às altas temperaturas associadas ao tempo seco sem cuidados pode causar alterações graves com riscos à saúde

No Ceará, a maior temperatura deste ano foi registrada no município de Jaguaribe, a 293 km de Fortaleza e que chegou a 41,9ºC, no dia 31 de outubro. Além de Jaguaribe, os municípios de Barro e Crateús são as regiões mais propícias a altas temperaturas no Estado. No mês de outubro, as cidades registraram 16 picos de temperatura acima dos 40ºC. Os dados são da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) e do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

Conforme o meteorologista da Funceme Agostinho Brito, em relação à sensação térmica, algumas condições diferenciam Fortaleza das demais regiões do Brasil, assim como das cidades do interior do Estado. As cidades, por exemplo, podem estar com a mesma temperatura, mas as pessoas vão sentir o calor de forma diferente.

“Região com maior umidade, há uma maior sensação térmica, ou seja, sensação de calor, como no sertão cearense e no Rio de Janeiro. Em regiões mais secas, como Fortaleza, a sensação térmica é menor. Outra característica é a questão dos ventos, que reduz mais a sensação que sentimos. Além disso, tem o aspecto individual de cada pessoa que pode ter sensações diferentes devido às características do corpo”, explica o meteorologista.

O calor com a exposição às altas temperaturas faz com que o corpo comece a ter reações para regularizar a temperatura interna, entre 36º e 37º graus. A primeira reação é eliminar o calor pelo suor que, apesar de natural, leva à desidratação e perda de nutrientes. O cenário fica ainda preocupante quando o suor não evapora e a temperatura central do corpo aumenta sem controle, onde a respiração, pele e coração podem ser afetados.

Onda de calor que cobre várias regiões do país exige proteção à pele e à saúde como um todo (Foto: AdobeStock)
Foto: AdobeStock Onda de calor que cobre várias regiões do país exige proteção à pele e à saúde como um todo

De acordo com a médica cardiologista e diretora do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), Aurora Issa, o corpo precisa se adaptar às condições. Ocorre nesse cenário a dilatação dos vasos sanguíneos para melhorar a circulação do sangue, com objetivo de resfriar o corpo por meio da transpiração e da evaporação, e o aumento da frequência cardíaca, ou seja, o coração trabalha mais diante do calor para manter a temperatura corporal sob controle.

Ainda conforme a cardiologista, “o organismo, no entanto, fica mais suscetível à arritmia cardíaca, ao vazamento dos líquidos para outros órgãos e à alteração cerebral”. O quadro também pode gerar sonolência e desmaios. E as pessoas com condições cardíacas pré-existentes podem ter maior risco de complicações associadas ao calor extremo.

Os efeitos do calor junto à baixa umidade relativa do ar afetam diversos sistemas do corpo humano. O médico dermatologista Cláudio Dias explica que, na pele, as consequências mais diretas em virtude do calor são a vermelhidão, desidratação, descamações, coceiras e formação de eczemas. O especialista alerta também para o surgimento de problemas respiratórios.

“No nariz, no pulmão e na garganta, por conta da baixa umidade relativa do ar, costuma ter um sistema mais favorável ao desenvolvimento de infecções. A gente acaba perdendo a capacidade de limpeza da árvore traqueobrônquica e faz com que aquela pessoa seja mais propícia a desenvolver infecções respiratórias”, explica.

O especialista ainda cita outros problemas: a exposição ao sol em temperaturas muito altas pode ocasionar um quadro de insolação, caracterizada pelo aumento da temperatura corporal e que gera impactos que vão além da pele. Os efeitos são o surgimento de dores de cabeça, confusão, náuseas e desmaios.

Excesso de exposição ao sol é desaconselhado entre 10hs e 16hs(Foto: Francesco Angotti)
Foto: Francesco Angotti Excesso de exposição ao sol é desaconselhado entre 10hs e 16hs

As consequências em virtude do calor ainda podem ser uma preocupação maior diante da extremidade da condição, gerando aumento do risco de morte. “Chega um momento em que o corpo entra em colapso, e ele não consegue manter a quantidade de líquido necessário para ter um bom funcionamento do organismo. Os órgãos começam a sofrer um processo de isquemia que, se prolongada, leva à morte”, diz.

Cláudio explica que os primeiros sinais desse processo são a desidratação, tontura, vertigem, boca, olhos e nariz secos, o organismo passa a reconhecer a necessidade de beber mais líquidos e os batimentos cardíacos ficam mais rápidos. Os casos podem ocorrer em qualquer situação, mas na prática de esportes em horários de altas temperaturas, das 10 às 15 horas, pode aumentar o risco.

 

Como se proteger do calor

 

Riscos são maiores para crianças e idosos

 

Estar exposto ao calor e a altas temperaturas é um risco em qualquer idade, mas tendem a ser maiores para crianças e idosos. As crianças perdem líquidos mais rapidamente e dependem de cuidados extras para reforçar a hidratação diária. “Elas têm dificuldade na comunicação para pedir a ingestão de líquidos, e a taxa metabólica da criança é diferente da do adulto, onde requer uma quantidade maior de líquidos”, informa o dermatologista Cláudio Dias.

No caso dos idosos, a médica cardiologista Thaís Moreno explica que o público não sente sede porque há um envelhecimento natural das papilas gustativas. Com isso há a perda da capacidade do reconhecimento da desidratação e dificuldade de manter-se hidratado. Além disso, existe ainda o público acamado que tem necessidade maior de atenção para manter a hidratação do corpo diante do calor.

Maurício Feitosa, 41, vendedor de água de coco reclama de calor sufocante(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Maurício Feitosa, 41, vendedor de água de coco reclama de calor sufocante

O calor também pode aumentar o risco em trabalhadores que estão expostos ao sol, como vendedores ambulantes. O vendedor de água e água de coco Maurício Feitosa, 41, que trabalha no Centro de Fortaleza todo dia, das 8 às 14 horas, sente o incômodo do calor. “A temperatura está fora do normal. Cansa muito rápido, me deixa incomodado e estressado”, cita.

Ainda segundo Maurício, para tentar se proteger da exposição às altas temperaturas, ele começou a usar roupas mais leves e longas e adotar meios para amenizar a sensação térmica. “Venho de boné, calça e blusa longa. Eu trago água e coloco gelo por cima e, ao longo do dia, molho minha cabeça para tentar resfriar e aguentar o dia”, conta.

 

Efeitos do calor no corpo e na saúde

A estudante Patty Souza, 40, que pratica atividade física ao ar livre, principalmente corrida, precisou mudar alguns hábitos devido ao calor em Fortaleza. Ela começou a sentir tonturas, desconforto, falta de ar e náuseas em virtude do calor durante as atividades, então passou a correr em um horário mais cedo.

“Eu começava a treinar às 5h30min e agora é às 5 horas porque quando dava 6h20min, o sol já incomodava”, conta. Ainda segundo a estudante, roupas mais leves, viseira e protetor solar são alguns cuidados que ela intensificou para proteção ao sol e a hidratação para amenizar o efeito do calor.

Rodrigo Sampaio, 33, professor de inglês, desde que chegou da Colômbia em Fortaleza tenta se adaptar com o clima(Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA Rodrigo Sampaio, 33, professor de inglês, desde que chegou da Colômbia em Fortaleza tenta se adaptar com o clima

O estudante e professor de Inglês Rodrigo Sampaio, 33, passou a sair de casa com chapéu e óculos escuros. Há seis meses desde que saiu da Colômbia e retornou à Fortaleza, a readaptação ao calor está difícil. Ele conta que não se recordava de sentir tanto os efeitos da condição climática.

“Tinha me desacostumado com o calor, e agora há uma necessidade de beber água a todo momento. Quando está muito quente eu sinto a respiração afetada, tudo fica seco e tenho algumas crises de rinite, além de muita dor de cabeça e sempre o cansaço. A busca é por se proteger ainda mais diante das altas temperaturas”, garante.

 

Cidades com tendências de altas temperaturas no Ceará 

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