Ao descrever a cidade de Zoé ao imperador Kublai Khan, o viajante veneziano Marco Polo afirma que "cada pessoa tem em mente uma cidade feita exclusivamente de diferenças, uma cidade sem figuras e sem forma, preenchida pelas cidades particulares". A personagem do romance As cidades invisíveis, escrito pelo italiano Italo Calvino em 1972, visita memórias simbólicas e pergunta-se: "Mas então qual é o motivo da cidade?"
Em minhas cartografias mais íntimas, Fortaleza se desdobrou em muitas quando me avizinhei do Poço da Draga nos idos de 2012. Nas proximidades da centenária Ponte Velha, conheci Ivoneide Góis, Izabel Cristina e Francisca Iolanda - mulheres que se entrelaçaram na minha trajetória afetiva pela Cidade.
Entre o movimento incessante de gente e máquinas, as moradoras sentam-se em cadeiras de balanço na calçada do Poço da Draga e desafiam a lógica da pressa. Demoram-se na escuta, observam com atenção. O batente é um convite ao diálogo entre o público e o privado. Como Marco Polo, eu não sei o motivo da cidade - a minha Fortaleza, entretanto, é a da vizinhança.