Primeira facção criminosa surgida no Ceará, a Guardiões do Estado (GDE) se expandiu para Alagoas e Rio Grande do Norte e já arregimentou mais de 25 mil membros em mais de três anos de existência. Os detalhes foram revelados após as prisões de Yago Steferson Alves dos Santos, o Yago Gordão, Francisco de Assis Fernandes da Silva, o Barrinha, e Francisco Tiago Alves do Nascimento, o Tiago Magão. Capturados no intervalo de quatro meses, eles são apontados como "conselheiros finais" da organização.
Os chefes máximos seriam 13, segundo Barrinha, e 14, de acordo com Yago, conforme os interrogatórios aos quais O POVO teve acesso. Enquanto Tiago negou fazer parte da cúpula da facção, Barrinha e Yuri confessaram o pertencimento — eles teriam ainda participado da fundação da GDE. Ambos, no entanto, se recusaram a nomear os demais conselheiros.
"Se eu disser isso vou morrer", justificou Yago. Para desvendar o comando da facção, O POVO fez um levantamento de todos os criminosos já apontados pela Polícia Civil ou Ministério Público do Ceará (MPCE) como comandantes máximos da facção. No total, chegou-se ao nome de 13 "conselheiros" (ver quadro).
Trecho de uma conversa por aplicativo obtido pela Draco, envolvendo Barrinha e Yago, detalhou o funcionamento dessa cúpula. Trata-se de uma mensagem encaminhada por Barrinha cujo conteúdo seria uma votação do conselho final da GDE. A pauta: "quebrar a comarca de Quixadá e pegar os alemãos".
O significado, conforme a Draco, seria uma ordem para o domínio do município, mediante confronto com os rivais do Comando Vermelho (CV). Nove chefes haviam votado a favor e apenas um foi contra. Os conselheiros teriam influência em uma vasta base de faccionados. Segundo Yago, o número total de membros da GDE é 20 mil. Já Barrinha apontou a existência de 35 mil.
Os dois discorreram também sobre o surgimento da facção. De acordo com Yago, a fundação ocorreu em 1º de janeiro de 2016, dentro do sistema penitenciário. Yago rechaçou a versão de que a facção teria surgido no bairro Conjunto Palmeiras. Essa interpretação, diz ele, só ocorre porque foi lá que apareceu a primeira pichação da organização.
Já a criação seria a forma de responder à "opressão" imposta pelos rivais do Comando Vermelho (CV). "Eles achavam que alguém era caboeta e já decretavam logo (condenavam à morte)". Barrinha foi além e atribuiu o surgimento à sede do CV e do Primeiro Comando da Capital (PCC) de dominar o Estado.
A expansão das duas facções do Sudeste teria gerado a morte de vários "nativos". Por isso, foi criado a facção, um "mecanismo de defesa" dos criminosos cearenses contra os "abusos" do PCC e CV. Daí o Guardiões no nome da organização. (Lucas Barbosa e Thiago Paiva)