A Praça do Marco Zero, localizada no coração do Recife, amanheceu mais silenciosa nesta Quarta de Cinzas. O espaço recebeu o principal palco dos foliões durante o Carnaval, cujo início aconteceu pela primeira vez na quinta-feira, 8.
Ao longo de seis dias de agenda, milhões de pessoas compareceram ao local para prestigiar atrações que performaram desde hits do brega até clássicos frevos de Pernambuco.
Os artistas foram apresentados ao público por meio de uma programação em homenagem a Chico Science (1966 - 1997) e Lia de Itamaracá, ambos cantores e compositores pernambucanos.
O primeiro, um dos catalisadores do movimento Manguebeat, foi destaque a partir de um holograma feito com inteligência artificial.
O vídeo simulou uma performance da música “A Praieira” e marcou o começo do show “Recife, Cidade do Mangue”, comandado pela cantora e compositora Louise Taynã, a Lula, filha de Chico, e com participação de Céu, Isadora Melo, Ylana Queiroga, Jorge Du Peixe, Maciel Salú, Toca Otgan e Nailson Vieira.
Já Lia de Itamaracá, considerada a rainha da ciranda, participou da data de encerramento na terça-feira, 13, com show que entrelaçou a tradição com a multiplicidade das convidadas: Dulce e Severina, da dupla As Filhas de Baracho; Dona Totinha do Coco, Nega Duda, Daúde e Isaar.
Entre a surpresa do espetáculo de abertura e o último momento das atividades musicais, os recifenses e turistas mostraram total envolvimento com a folia momesca.
Adornados com fantasias, banhados de glitter e abastecidos com Axé - bebida local feita com cachaça, canela, gengibre e cravo - na mão, os carnavalescos lotaram o palco principal e acompanharam em coro artistas como Gilberto Gil, Ludmilla, Thiaguinho e Alceu Valença.
A festa, claro, também se alastrou pelos arredores. Afinal, de acordo com fala do prefeito João Campos (PSB) durante coletiva de imprensa, a proposta era realizar “o maior Carnaval da história” com mais de 3.000 apresentações divididas em 49 polos.
Destas, 98% eram de artistas do próprio Estado, dado que marca o compromisso com a identidade cultural local.
Todos os calendários de ações foram iniciados pela salvaguarda dos brincantes com produções da Matriz de Cultura Popular (MCP) que focavam nas agremiações: blocos líricos, maracatus, escolas de samba, afoxés, ursos, bois, troças, clubes de boneco, caboclinhos e cirandas.
Estes são apenas alguns dos grupos que arrastam milhares de pessoas pelas ruas e pelos tablados, de manhã ou à noite, em uma diversidade de opções que são capazes de preencher, pelo menos, um mês inteiro de Carnaval.
Ainda tem o Rec-Beat, festival voltado à música alternativa e que aconteceu durante os dias 10 e 13 de fevereiro. O cantor Mateus Fazeno Rock foi o único cearense no line-up de 2024 e apresentou um repertório composto por músicas dos álbuns “Role nas Ruínas” e “Jesus Ñ Voltará”. “Voltar (ao Recife) me fez pensar no reencontro com a cidade e com as pessoas que escutam a gente aqui”, comentou o artista.
Não há, entretanto, como falar da festividade carnavalesca sem mencionar o Galo da Madrugada, considerado o maior bloco do mundo pelo Guiness Book. Neste ano, o evento aconteceu no sábado, 10, com o tema “Reginaldo Rossi no Reinado do Frevo”.
A edição de 2024m que homenageou o cantor Reginaldo Rossi (1944-2013), reuniu 30 trios elétricos - nomeados com canções do Rei do Brega - divididos em seis alegorias que percorrem um percurso de 6,5 quilômetros.
Well Leandro, 63, participa do evento desde 1987 e explica o motivo: “o melhor do Galo é a multidão, a música, a multiculturalidade, esse movimento de Pernambuco falando para o público”.
(A jornalista viajou a convite da Prefeitura de Recife)