Marcos André Batista Santos, mais conhecido por Vampeta, empilhou troféus com o Corinthians e com a seleção brasileira. Aposentado como atleta profissional desde 2011, o folclórico e bem-humorado baiano de Nazaré atua como comentarista e palestrante.
Em entrevista ao O POVO, o "Velho Vamp" avaliou o momento do futebol cearense, elogiou Juan Pablo Vojvoda, técnico do Fortaleza, explicou a torcida pelo Ceará e projetou o Brasil visando a Copa do Mundo de 2026, pontuando sobre Arthur Cabral, atacante revelado pelo Ceará e reforço do Benfica, de Portugal, para a temporada 2023–2024.
O POVO - Como você enxerga o atual momento do Fortaleza na Série A e Copa Sul-Americana?
Vampeta - Eu, como bom baiano, acompanho o futebol nordestino e fico muito feliz pelo que o Fortaleza vem fazendo, conheço seu presidente (Marcelo Paz), (é um time) bem dirigido, administrado. Todo mundo que vai enfrentar o Fortaleza, em Fortaleza, vai sempre preocupado. Hoje, pelas grandes equipes daqui do Sul e Sudeste, o Fortaleza é temido. Até mesmo Flamengo e Palmeiras, com plantéis caros, passam dificuldades. O Fortaleza está bem na Sul-Americana, está oscilando no Brasileiro, mas está muito achatado e eu acho que o clube terminará entre os dez primeiros.
OP - Você enfrentou o Fortaleza algumas vezes como jogador. Como eram esses confrontos e como vê a evolução do clube?
Vampeta - Tive a oportunidade, lembro bem, de quando comecei minha carreira no Vitória, enfrentei o Fortaleza pela Série B do Brasileiro, um jogo em Fortaleza, um 0 a 0, e um jogo na Bahia. Pelo Brasiliense, foi um jogo em Fortaleza. Faz quase 16 anos que parei de jogar, é uma evolução muito grande. Você ver, hoje, clubes nordestinos, não apenas como o Fortaleza, o Sport, Bahia, que virou SAF, o próprio Vitória, que está na Segunda Divisão, tem oportunidade, devido às arrecadações, de trazer jogadores que normalmente pensavam em jogar no Sul e Sudeste.
Vemos o Fortaleza conseguindo manter seu treinador, o Vojvoda, que foi assediado por outros clubes do Sul e Sudeste. E ele (Vojvoda) manteve a palavra, o contrato de ficar no Fortaleza. A presença do público, a média de público, a festa, principalmente que a torcida do Fortaleza faz quando joga, a gente fica observando. É muito legal.
Os jogadores quando têm uma proposta, não medem esforços. O Marinho teve proposta para vir para o São Paulo e optou por ir para o Fortaleza. […] Lamento muito pelo Ceará ter ido para a Segunda Divisão. Também fazia jus, fez boas campanhas no Brasileiro, chegou a ser o clube que teve a melhor campanha da Sul-Americana. Com a saída do Dorival (Júnior), e eu acho que uma aposta por um treinador inexperiente, o Lucho González para comandar o Ceará, eles erram nisso.
OP - Em que prateleira você coloca o Vojvoda entre os técnicos do Brasil?
Vampeta - Vojvoda, para mim, está entre os cinco melhores treinadores do Brasil. Ele só fica atrás do Abel Ferreira, mas pela estrutura que o Abel tem também (no Palmeiras). Coloco o Vojvoda como o segundo melhor treinador do país, pelo trabalho que desenvolve, não tem a arrecadação que (têm) Palmeiras, Flamengo, Fluminense, Corinthians e São Paulo, e ele consegue fazer um grande trabalho. O Fortaleza ainda não tem essa receita tão grande como tem Flamengo, Palmeiras e outras agremiações, e o Fortaleza encara de igual para igual qualquer time, principalmente no Estado do Ceará.
OP - Em algumas entrevistas, você disse que torce pelo Ceará. Explica essa identificação e como é a relação com o clube?
Vampeta - O presidente do Fortaleza é meu amigo, esteve aqui (em São Paulo) comigo, saímos para jantar, e eu disse para ele que tenho um carinho maior pelos clubes preto e branco. Torço para Juventus de Turim, gosto do Real Madrid, do Corinthians, do Botafogo, apesar de ter um carinho pelo Fluminense. O Ceará é um time preto e branco, é o time que torço, tem o ABC, em Natal, é mais pela cor da camisa, pela cor preto e branco.
Nunca tive nenhum contato com alguém do Ceará, pelo contrário, tenho mais amizade com o presidente do Fortaleza, que esteve aqui, é mais pela identificação com o preto e branco. Identificação que veio desde o tempo do Corinthians. É gostar, não é torcer contra o Fortaleza, eu gosto da cor preto e branco.
OP - Você é a favor de técnico estrangeiro na seleção brasileira?
Vampeta - Eu, como ex-atleta da seleção, campeão da Copa do Mundo e da Copa América, não sou a favor de treinador estrangeiro. Nada contra treinador estrangeiro. Nenhuma seleção, na história da Copa do Mundo, ganhou com treinador estrangeiro. Todos os países que ganharam tinham treinadores locais. A França, Alemanha, Brasil, Argentina, Uruguai, Inglaterra… Nenhuma tinha treinador estrangeiro.
Eu daria oportunidade ao Dorival Júnior naquele momento, mas já que está tentando mudar, esperando o (Carlo) Ancelotti, tem tempo para isso… Aumentaram o número de seleções em Copa do Mundo, acho que qualquer treinador que você botar no Brasil, leva a seleção à Copa do Mundo. Agora levar o título, pode ser o Guardiola, Ancelotti, Diniz ou Dorival, é uma interrogação. Eliminatórias, Copa América, qualquer treinador pode levar a seleção ao título.
OP - O que tinha na seleção de 2002 que você percebe que se perdeu nas seleções atuais?
Vampeta - Naquela seleção de 2002, você tinha Ronaldinho Gaúcho, que foi duas vezes melhor do mundo; Ronaldo Fenômeno, três vezes melhor do mundo; Rivaldo, eleito uma vez; Roberto Carlos, segundo melhor do mundo, perdendo para o Ronaldo; o Cafu, um dos melhores laterais do mundo; e foi uma luta para ganharmos a Copa do Mundo. Foi muito difícil. A estreia contra a Turquia, eles saem na frente, empatamos e depois tem aquele pênalti escandaloso que o Luizão sofre fora da área. Teve gol anulado contra a Bélgica.
É muito difícil ganhar a Copa do Mundo. Em 2006, poderia ter conquistado, reunindo Kaká, Ronaldinho, Ronaldo e Adriano. A cada ano que passe, não que o Brasil deixou de produzir talentos, mas produzimos talentos piores do que tínhamos lá trás, não é melhor. Se formos pegar Thiago Silva, Daniel Alves, Neymar, Marcelo, Miranda, Casemiro, Fernandinho… Hoje eles estão mais velhos e não estou vendo jogadores melhores. Está cada vez piorando em qualidade. Não me é surpresa nenhuma (as eliminações) em quartas de final contra seleções que não são grandes, Bélgica e Croácia, embora tenham gerações muito boas. E vai ter mais dificuldade ainda.
OP - Arthur Cabral tem vaga na Seleção?
Vampeta - Seleção tem que ir os melhores. O treinador da seleção não pode ser treinador de clube. No clube você treina todos os dias, na seleção você tem que convocar os melhores. Os caras se preparam, sonham com isso, se dedicam ao máximo nos seus clubes. O Arthur Cabral foi muito bem, começou aí (no Ceará), foi para o Palmeiras e depois para a Suíça (Basel) e para a Fiorentina (Itália). Está todo mundo de olho. Todo mundo tem seus sonhos. Quem estiver no melhor momento, tem que ir para a seleção. Seleção não tem cadeira cativa, seleção é dos melhores.
OP - Qual o sentimento de disputar clássicos?
Vampeta - Comecei a vivenciar os clássicos com o Ba-Vi (Bahia x Vitória). Depois sou vendido para a Holanda e começo a jogar PSV x Feyenoord e PSV x Ajax. Vim para o Rio de Janeiro, tive a oportunidade de disputar o Fla-Flu, Fluminense x Vasco, Fluminense x Botafogo, Flamengo x Botafogo. Joguei nas duas equipes do Rio, Fluminense e Flamengo. E aqui, em São Paulo, enfrentei Palmeiras, Santos e São Paulo. Isso me tornou jogador grande. Eu gostava de jogar esses jogos, perdia e ganhava, perdi títulos, isso é o que mais amadurece. Jogador tem que sonhar com isso. Foi uma carreira muito legal.
OP - Qual a sua opinião sobre os cânticos homofóbicos nos estádios?
Vampeta - O mundo é outro, né? Gerações em gerações, as coisas vão mudando, algumas para melhores e outras para piores. Você tem que se adaptar ao modo de vida, por tudo que está vivendo, eleições, internet. Sou muito feliz em ter participado lá trás e muito feliz de ver muita coisa boa hoje, que não tinham lá trás.