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A necessidade da consciência de consumo no mercado cultural
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A necessidade da consciência de consumo no mercado cultural

Empresário no setor de eventos culturais, Kássio César aponta que público de Fortaleza precisa de responsabilidade no consumo para que a área consiga crescer
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Kássio César, promotor de eventos na Caixa de Evento (Foto: FERNANDA BARROS)
Foto: FERNANDA BARROS Kássio César, promotor de eventos na Caixa de Evento

O empresário Kássio César havia acabado de sair do Ensino Médio quando começou a projetar uma carreira no setor de eventos. A ideia surgiu de maneira inesperada, a partir de uma manchete de jornal que anunciava a criação do Centro de Eventos de Fortaleza. Ali, ele percebeu que a área poderia ser uma possibilidade para o futuro. Hoje, ele soma duas décadas de atuação no setor e atua com um olhar panorâmico que vai desde o campo corporativo até o entretenimento.

Fundador da empresa Ideia de Evento e Caixa de Evento, o profissional também é diretor no Sindieventos Ceará e da Associação Brasileira de Promotores de Eventos (Abrape Ceará). Entre os projetos mais recentes, Kássio aposta no Bloquinho Goxtoso (bloco de rua que segue com programação neste domingo, 4, na Praia de Iracema) e segue com propostas para incentivar a sustentabilidade do mercado de entretenimento.

O POVO - Você começou no mercado de eventos muito novo, com 17 anos. De que maneira aconteceu a inserção no meio?

Kássio - Foi no fim do Ensino Médio, quando eu prestei vestibular e passei no curso de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), que era super concorrido e eu não queria fazer. Eu sempre tive vocação para eventos, desde a época da escola. Eu não fiz a minha matrícula no Direito, naquele tempo não tinha nenhuma graduação em eventos, meses depois surgiu o curso técnico, que era o que tinha de mais completo em termos de estudos na área. Depois eu fui fazer administração, o produtor é um administrador de eventos. Um evento nada mais é que uma empresa que tem data para começar e terminar, tudo que uma empresa tem, um evento tem. Tem o comercial, o marketing, áreas que precisam ser geridas. E bom organizador de eventos precisa ter essas habilidades para gerir melhor. Nossa produtora tem selo Sebrae na categoria diamante, dentro de vários critérios como inovação e gestão. Acho importante para que a gente possa ter a melhor entrega para o nosso público, proporcionar a melhor experiência, e possa conduzir da melhor forma possível para desenvolver esse mercado que movimenta uma cadeia produtiva. Não é somente festa, você tem sonhos, projetos, famílias que dependem que os projetos sejam bem sucedidos e sustentáveis. A gente precisa ter muita responsabilidade para saber gerir.

O POVO - A Caixa de Eventos, produtora direcionada ao mercado de entretenimento, começou em 2018. Quais foram as principais mudanças na área desde o início da empresa?

Kássio César - Na verdade, a gente apostou nesse nicho de entretenimento alternativo porque a gente viu a deficiência que a noite de Fortaleza tinha na entrega de serviços. Eram eventos que eram cancelados na véspera sem muitas informações, que deixavam o público na porta sem necessidade. Os meus amigos começaram a me dizer: "Por que você não faz festa também? Tem experiência no mundo corporativo". Quando a Ideia de Eventos fez dez anos eu pensei que era um momento de investir nesse nicho aqui em Fortaleza. Ainda tem deficiência, mas já melhorou muito. E a gente não tinha essa oferta dentro desse perfil de evento. O público começou a receber bem essas propostas e outras produtoras também passaram a trabalhar com esses artistas. Não era toda produtora que ia investir seu capital numa possibilidade. Quando você investe em um artista, é uma possibilidade. Hoje a gente tenta romper essas bolhas e trazer esses artistas pra cidade.

OP - Muitas produtoras relatam a dificuldade de trazer grandes shows, até mesmo internacionais, a Fortaleza. O que torna a rota dessas atrações tão difíceis na Capital?

Kássio - Como os eventos se financiam? Basicamente, são três receitas: a bilheteria, que está diretamente ligada à adesão do público. O patrocínio, e as marcas estão cada vez mais fechadas para isso. E uma terceira receita é o consumo durante o processo. A gente precisa que o público chegue junto, que ele de fato vista esta camisa, compre o ingresso. O nosso ingresso é o nosso pão. Agora mesmo, a gente transformou o Bloquinho Goxtoso, que ficou totalmente gratuito, mas bancado com recursos próprios. As pessoas gostam da festa, mas não tem a responsabilidade de apoiar a sustentabilidade dessa festa por meio do consumo dentro da festa. A gente tem todo o cuidado com a entrega do evento para que o público tenha uma boa experiência. A iniciativa privada oferece entretenimento para a população e espera ter um retorno. No caso do consumo, como já havia dito. É um desafio muito grande financiar projetos, nós não temos uma consciência de consumo cultural de entretenimento. Se a gente tem essa troca, outro projeto similar pode surgir na Cidade de forma gratuita. A gente vê que o mercado quer fazer, mas falta uma educação de consumo de entretenimento em Fortaleza. Eu acho que a gente precisa evoluir muito nisso para que o mercado também possa evoluir e ter uma sustentabilidade.

OP - A gente está num período que tem um potencial econômico e turístico muito grande, que engloba desde o início das festas de fim de ano até o fim do Carnaval. Quais estratégias a Caixa de Eventos utiliza para manter esse mercado aquecido?

Kássio - Estamos com o Bloquinho Goxtoso, todos os finais de semana de Pré-Carnaval a gente tem o bloco de rua, com trio. A Cidade está cheia de turistas e precisa ter oferta. Quem oferece esses serviços é a iniciativa privada. Se o turista vem e não tem restaurantes, ele não vai ficar satisfeito. Se ele não tem opções de entretenimento, ele vai ficar insatisfeito. A iniciativa privada oferece isso de uma maneira mais frequente. E de janeiro a janeiro, a gente precisa ter ofertas de entretenimento contínuas.

OP - E como o Bloquinho Goxtoso se estrutura dentro do Pré-Carnaval?

Kássio - Ele é totalmente de rua e acontece no trio elétrico. Nós colocamos artistas diversos da Cidade, aproveitando toda a ambiência que Fortaleza tem para esse período de Carnaval. As pessoas têm predisposição para vivenciar esse momento, tanto que a gente adaptou o Bloquinho para vivenciar esse espaço da rua. A média do público está sendo de oito, dez mil pessoas. É um evento muito bacana, a gente faz ao lado do Teatro São José, você tem uma praça super bacana que não recebe visitação das pessoas, as pessoas não acessam. Tem a praça, o teatro, o Dragão do Mar, uma série de equipamentos culturais. Traz uma nova vida e outro olhar de empreendedores. Quando a gente evidencia, as pessoas pensam: "Como eu não pensei nesse espaço antes?". Outras possibilidades surgem. A gente precisa que a Cidade consuma cultura, entretenimento, e que sobretudo tenha responsabilidade sobre o consumo para que as ofertas continuem existindo.

OP - Quais vão ser os investimentos da Caixa de Evento em 2024?

Kássio - A gente já tem um calendário estruturado, já vamos adaptar. Para 2024 a gente vem com o Festival EnCaixa todo repaginado, com o Bloquinho Goxtoso com edições de primavera para o fim do ano. Sempre atento ao que está na cena. Teremos shows de alguns artistas nacionais, tem festival de férias, muito para 2024.

Setor de eventos

Kássio atua como empresário desde 2009 na Ideia de Eventos e desde 2018 na Caixa de Eventos. A primeira foca no setor corporativo, enquanto a segunda destaca a programação de entretenimento.

Bloquinho Goxtoso

Nova edição do Bloquinho Goxtoso acontece neste domingo, 4, das 16h às 00h, na Praia de Iracema. O bloco estará concentrado na rua Rufino de Alencar, no número 333, ao lado do Teatro São José.

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