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"Falta, sim, uma direita mais qualificada", avalia Kim Kataguiri
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"Falta, sim, uma direita mais qualificada", avalia Kim Kataguiri

Um dos criadores do MBL e hoje deputado federal, ele queixa-se, em especial, da bancada do PSL. Sobre sua vida com o DEM, ao qualestá filiado, alega ter independência garantida
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 22.11.2019: Kim Kataguari, deputado federal.  (Fotos: Fabio Lima/O POVO) (Foto: FÁBIO LIMA)
Foto: FÁBIO LIMA FORTALEZA, CE, BRASIL, 22.11.2019: Kim Kataguari, deputado federal. (Fotos: Fabio Lima/O POVO)

Aos 23 anos, Kim Kataguiri é o criador do Movimento Brasil Livre (MBL), grupo assentado em valores liberais surgido no furor das Jornadas de Junho, em 2013. O jovem de ascendência japonesa, principal liderança do movimento, ganharia projeção mais tarde, também em cenário de turbulência política, ao capitanear movimentos de rua que reivindicaram a deposição da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). A eloquência ao se comunicar com segmentos à direita e o discurso de renovação e eficiência na condução da coisa pública foram importantes para alçar o jovem à condição de quarto nome mais bem votado em São Paulo. Escolheu se filiar ao tradicional Democratas, daquelas legendas que levam a pecha de fisiológicas, o que ele minimiza, alegando que a filiação não implica em influência do partido sobre a atuação dele no parlamento. Onze meses após ter sido eleito, ele avalia que a Câmara "demora muito a dar respostas", muito disso em função de os debates serem dispersos e precários. Grande parte da desqualificação, ele diz, reside na própria direita, principalmente a pesselista.

O POVO - Um dos discursos que projetou o senhor foi o de um Estado eficiente e enxuto. A Câmara dos Deputados tem atendido às suas expectativas?

Kim Kataguiri - Acho que a Câmara demora muito a dar respostas para a sociedade, o processo legislativo é muito moroso, você tem muitos debates em relação à obstrução e pouco debate em relação à matéria. Nesse sentido eu acho que decepciona e acho que há frustração da maior parte dos deputados de primeiro mandato, porque tentam levar em frente rapidamente algumas pautas que são urgentes para o País, mas o próprio processo legislativo, em si, dificulta.

OP - Como é que o senhor analisa a qualidade do debate na Câmara dos Deputados? Principalmente quanto à chamada nova direita.

Kim Kataguiri - Infelizmente, a maior parte dos deputados do PSL não tem profundidade para o debate, nem interesse pelo processo legislativo. Chegam ali correndo no plenário, veem como o líder vota e aí acompanham a votação, mas não têm convicções próprias e não têm profundidade ideológica, doutrinária, para saber o que é um posicionamento de direita. Quando você vai perguntar qual é uma política pública de direita para a saúde, para educação, para o equilíbrio fiscal, dificilmente eles conseguem dar uma resposta que vá além da segunda página, então acho que falta, sim, a eleição de uma direita mais qualificada.

OP - O caminho é longo?

Kim Kataguiri - Não tem mudança rápida, mesmo porque para fazer um debate profundo é muito mais difícil do que simplesmente espetacularizar.

OP - O senhor lidera um movimento carregado de ideologias, que obteve protagonismo, inclusive, na queda da ex-presidente Dilma. Mas, quando entra na política, se filia ao DEM, que carrega a pecha do fisiologismo. Como é sua relação com o partido?

Kim Kataguiri - É uma relação de independência. Eu não tenho nenhuma opinião, nenhuma atuação dentro das definições de direção partidária, mas, ao mesmo tempo, em contrapartida, o partido respeita todas as minhas posições, inclusive quando eu vou contrariamente ao partido, como já fui na própria questão do fundo partidário, do abuso de autoridade, do Coaf. Em diversas ocasiões divergi do partido, discursei contra e sou respeitado em relação a isso.

OP - Ao ver Ciro Gomes (PDT), por exemplo, buscando ACM Neto visando o próximo ano, quando ouve que Lula (PT) sinaliza intenção de dialogar com Rodrigo Maia, isso lhe causa incômodo? Em que medida?

Kim Kataguiri - Eu não tenho responsabilidade, nem agrado ou desagrado por qualquer relacionamento de membros do Democratas com qualquer outra pessoa porque, como disse, eu não participo da vida partidária, não participo das direções do partido. Ele pode tomar qualquer direção que vou continuar na minha linha.

OP - Até onde quer chegar na política institucional?

Kim Kataguiri - Para mim, o topo da carreira política seria a presidência da Câmara.

OP - Não almeja disputas ao Executivo?

Kim Kataguiri - Não, não tenho pretensão de cargo executivo, não.

OP - Já que a gente falava de partidos, como o senhor olha para as primeiras demonstrações do que pode vir a ser a Aliança pelo Brasil?

Kim Kataguiri - Acho que vai ser mais um dos partidos que Jair Bolsonaro faz parte, que no final das contas ele não consegue lidar e é ainda mais grave nesse sentido, porque ele ser o presidente do partido e que no final das contas vai ter mais um racha, até que sobrem o presidente e seus filhos. Basicamente, você vê o histórico do PSL, menos de um ano e já está absolutamente destroçado. Agora, com a Aliança pelo Brasil, você já tem briga pelo fundo partidário, pelo fundo eleitoral, pelo tempo de televisão e por quem vai lançar e se vai lançar candidaturas nos municípios, que já vai gerar outro racha entre aqueles que são fiéis ao Bolsonaro, mas não ligam para eleições municipais, e aqueles que são fiéis, mas querem disputar ou apoiar alguém para a eleição municipal, mas não vão poder por causa do partido.

OP - O Bolsonaro governa ou vivemos um parlamentarismo branco ou à brasileira?

Kim Kataguiri - Hoje o governo Bolsonaro não tem base e a pauta é definida pelo Legislativo.

OP - Recentemente o senhor pediu à PGR a prisão do ministro Dias Toffoli, presidente do STF. Com isso, não atenta contra uma instituição importante à estabilidade democrática?

Kim Kataguiri - O pedido não é contra Suprema Corte, o pedido é contra o ministro da Suprema Corte. O pedido se baseia em crimes cometidos pelo presidente do Supremo. Primeiro, a abertura de um inquérito ilegal para achacar com os críticos do Supremo, então a gente tem tido casos de busca e apreensão na casa de cidadãos comuns que, simplesmente, no seu Twitter, nas suas redes sociais, criticam ministros. E você tem a abertura de um ofício de um inquérito ilegal, porque você não tem previsão de abertura de inquérito para crimes que aconteçam fora das dependências físicas do Supremo. Quem abre e quem conduz o inquérito é a suposta vítima do crime cometido, o presidente do Supremo, e quem relata é também outra suposta vítima do crime cometido, o ministro Alexandre de Moraes. Ou seja, é um completo destroçamento do processo penal porque uma parte está presidindo e está relatando o processo. Outro ponto foi em relação ao pedido de mais de 600 mil informações ao Banco Central pelo Toffoli. A gente sabe que não existe nenhum inquérito com 600 mil investigados. Isso é, claramente, uma quebra do direito à intimidade do sigilo fiscal e bancário. Enquadrei ele na lei de Abuso de Autoridade justamente em razão disso, por pedir informações de pessoas que sequer estão sendo investigadas e ele está usando essas informações sabe-se lá pra quê.

OP - Como avalia movimentos pela instauração de uma CPI do Judiciário, a chamada Lava Toga?

Kim Kataguiri - Vejo com bons olhos, acho que a gente não pode fingir que não existe corrupção no Ministério Público e no Judiciário, existe sim, e precisa ser investigado. Assim como parlamentares são homens públicos, membros do Judiciário também o são e precisam responder. E vejo com temor o fato de o próprio presidente e o filho (Flávio) atuarem para que a CPI da Lava Toga não tenha as assinaturas necessárias para serem levadas em frente.

OP - Câmara e Senado se apressam com a tramitação da PEC da 2ª Instância em razão da liberdade do ex-presidente Lula?

Kim Kataguiri - Acho que é uma questão que transcende o Lula ser preso ou solto, mas da própria visão do Supremo de impedir a prisão após a segunda instância. Isso atinge milhares de pessoas, não só o ex-presidente Lula e o fato de o Judiciário ter tomado essa decisão e depois os ministros, principalmente o ministro Dias Toffoli e a Rosa Weber terem jogado a responsabilidade no parlamento fez com que a gente decidisse de maneira rápida.

OP - Processos judiciais pelos quais parte da classe política responde podem pesar contra a proposta quando ela estiver em votação nos plenários?

Kim Kataguiri - Acho que o maior peso é a pressão popular, você viu deputado com condenação criminal nas costas votando a aprovação da PEC na CCJ (da Câmara) justamente porque a pressão e a visibilidade foram grandes, catalisados por veículos de comunicação, e a própria cobrança da população, que fez o temor de ser mal visto por não votar fosse maior do que qualquer coisa.

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