Empresário do ramo da educação há 20 anos, o senador em exercício Prisco Bezerra, 47, assumiu vaga deixada temporariamente por Cid Gomes, que se licenciou para tocar o PDT no Ceará. Irmão de Roberto Cláudio (PDT), já coordenou campanhas do então candidato a prefeito em 2012 e 2016. Entre uma e outra, a do governador Camilo Santana (PT) em Fortaleza. Em conversa com O POVO no seu escritório, no 18º andar de um edifício no Meireles, o parlamentar avalia que o petista "está alinhado 100%" com RC e que, "se o PT vai ter candidato ou não, é outra coisa". O senador avalia ainda que o partido da ex-prefeita e deputada federal Luizianne Lins "tem todo o direito de ter" um postulante próprio ao Paço. Questionado sobre os possíveis nomes para suceder RC, Prisco elogiou o secretário Samuel Dias: "Tem um excelente perfil. Conhece tudo da Prefeitura. Acho que é um grande nome. Está preparado e pronto para isso". E ressalvou: "Mas gosto de outros nomes também".
O POVO - Como suplente, o senhor assumiu temporariamente a vaga de Cid Gomes (PDT) no Senado. Como projeta o trabalho até abril?
Prisco Bezerra - Eu sou empresário da educação. Na política, sempre trabalhei nos bastidores. Fui coordenador das duas campanhas de deputado estadual do Roberto (Cláudio, prefeito de Fortaleza e irmão de Prisco). Em seguida, fui coordenador da primeira campanha a prefeito do Roberto, em 2012. Nesse intervalo, coordenei a campanha do governador Camilo em Fortaleza. Depois, em 2016, novamente na do Roberto. Por último, agora na campanha do Ciro a presidente. Sempre trabalhei nos bastidores. Não tive experiência nenhuma no Legislativo. Mas estou muito animado. É um desafio novo. Como todo desafio, a gente costuma se animar. Não vou ter muito tempo, é só o período da licença do Cid, mas a gente tem que fazer um trabalho consistente nesse período. Assumi as mesmas comissões do senador Cid. Participo de todas as reuniões. Estou muito interessado. Tento aprender. Mas o foco é na área de educação, não tem como escapar.
OP - Qual a principal diferença entre esse trabalho de bastidores, como o senhor disse, e o exercício do mandato?
Prisco - Na realidade, nesse mandato eu vou procurar fazer uma coisa mais técnica. Não tem como eu ser um expoente político no Senado, até pelo meu perfil. Por isso estou mergulhando mais nas comissões, que é uma maneira de propor mais coisas. Inclusive, a gente está tendo uma ideia de, ao final desses meses, fazer um resumo do que foi produzido.
OP - Como estão as conversas com o senador Cid? Ele retoma mesmo o mandato?
Prisco - Retoma, sim. Retoma em abril. Como foi divulgado, o Cid saiu por interesse partidário. Foi tratar de cuidar do PDT, e ele sabe fazer isso muito bem. O PDT tem cinquenta e poucas prefeituras no Ceará. Tenho certeza de que esse número vai aumentar com esse trabalho que ele vem fazendo nesses meses. Ele volta no início de abril, e eu volto para as minhas atividades.
OP - Quando voltar, o senhor deve assumir alguma função na campanha de sucessão do prefeito de Fortaleza?
Prisco - Se eu for convidado, com o maior prazer. Provavelmente vão me convidar para ajudar. Tenho experiência e estou à disposição, sim, até porque eu acredito muito no projeto.
OP - Cogita algum futuro político, como disputar uma prefeitura ou outro cargo?
Prisco - Não, não mesmo. Está sendo ótima a experiência, vai ficar para a minha vida toda, é uma honra, mas temos que respeitar nossas qualidades. Sempre quero trabalhar com política, vou ser sempre empresário. Mas quero ter essa função de bastidor, que é o que eu gosto de fazer.
OP - Qual a avaliação que o senhor faz do cenário eleitoral na Capital? O prefeito já acenou que tem um nome de preferência?
Prisco - O que é que eu acho: naturalmente, nesse tipo de eleição que não é reeleição, que é uma coisa nova, a oposição vem com todos os nomes, de todos os partidos. Já sobre o candidato do governo, eu sou a favor, particularmente, de que seja um tema que a gente coloque pra frente. Até porque a gestão está indo muito bem, com excelentes resultados. O Roberto está muito bem avaliado. E quanto mais tempo ele tem agora, com a quantidade de obras que há em Fortaleza, é importante. Se a gente antecipa muito essa decisão de quem vai ser o candidato, acho que a população perde porque vai ficar discutindo muito política. Sou a favor de que "barrigue", no bom sentido, até junho. Estrategicamente falando, o Roberto vai estar mais forte ainda. O candidato vai ser discutido pelo grupo, incluindo o governador Camilo, Ciro, Cid e o Roberto. Basicamente essas quatro pessoas é que vão discutir as melhores opções.
OP - Quais são as opções?
Prisco - Esses nomes todos que estão aí, vocês sabem mais do que a gente. Todos têm perfil. Sou a favor de um perfil que trabalhe em gestão, político ou que já tenha tido experiência na gestão pública. É muito difícil pegar uma prefeitura de uma cidade complexa como Fortaleza, cheia de problemas, cheia de desigualdades, e colocar uma pessoa que nunca participou da gestão pública, direta ou indiretamente. Isso é uma coisa perigosa.
OP - Fala de participação na gestão pública não necessariamente com mandato?
Prisco - Pode ser um secretário de Estado, um secretário de município, um deputado... Alguém que tenha sensibilidade com os problemas sociais. Pega um empresário de fora. Nada contra os que estão colocados, gosto de todos, mas acho que é perigoso pegar uma pessoa 100% de fora (da gestão) para entender uma cidade cheia de desigualdade como Fortaleza. É importante que tenha a experiência.
OP - Tem pré-candidato com esse perfil, que é o Geraldo Luciano.
Prisco - Acho que o Geraldo nem mais é (pré-candidato). Acho que é um grande executivo, talvez um dos maiores do Nordeste e está lá muito bem como vice-presidente do Hapvida. Ele está muito feliz lá, e acho que é o que ele sabe fazer mais.
OP - Considera que a avaliação da gestão do prefeito vai ser mais determinante do que do nome escolhido pelo grupo?
Prisco - Acho que as duas coisas. Mas se a gente dá tempo até junho para consolidar mais ainda, tem tempo para decidir. A eleição começa em agosto. Se eu tenho um nome a partir de junho, acho tranquilo. Até porque todos que estão aí têm perfil. Não vai cair ninguém de paraquedas. Eu acredito que não vá. Pode ser que apareça, essas coisas ninguém sabe.
OP - Qual avaliação faz do perfil do secretário Samuel Dias?
Prisco - Tem um excelente perfil. Muito preparado, conhece tudo da Prefeitura. Acho que é um grande nome. Está preparado e pronto para isso. Mas gosto de outros nomes também. Tem o nome do Queiroz (Filho, deputado estadual), o Élcio (Batista, titular da Casa Civil de Camilo), que é um cara supercompetente e está fazendo um grande trabalho no Governo do Estado. Tem o Sarto (José Sarto, presidente da Assembleia Legislativa), que é um cara que tem 11 anos na política e nos ajudou muito na primeira campanha de 2012. Foi fundamental na articulação e conhece a cidade. Nosso grupo está muito unido. Isso ajuda. O que eu sinto é que qualquer nome vai ser apoiado pelos outros.
OP - Quando fala que não vai cair ninguém de paraquedas, é porque o nome vai sair desses citados?
Prisco - Não, eu posso citar outros. Tem um cara como o Salmito (deputado estadual pelo PDT), que tem muita experiência também. Tem tanto nome. Quando digo "de paraquedas" é um nome que nunca foi citado pela imprensa. Não acho provável. Fora do grupo, principalmente, eu acho difícil.
OP - Qual papel vai ter Camilo nesse processo?
Prisco - Já está tendo desde o ano passado. O Roberto nunca esteve tão afinado com o Camilo e vice-versa. Praticamente desde a eleição do Camilo que o programa "Juntos por Fortaleza" vem caminhando e está tendo um sucesso tremendo. Só quem ganha é a população e a cidade cresce mais. Ele já está exercendo o papel. Ele está alinhado 100%. Você vai ver foto de inauguração de obra em Fortaleza, estão o Roberto e o Camilo juntos. Você lê também a política nessa parceria da gestão. Estão realmente afinados. Se o PT vai ter candidato ou não é outra coisa. Acho que o PT tem todo o direito de ter. É natural que tenha. Só lembrando que o PT foi derrotado pelo Roberto em 2012, no segundo turno, e em 2016. Então fica difícil. Como é que um grupo que já cuidou da Prefeitura não vai ter um candidato? Mas o papel do Camilo é parceria com o Roberto, isso é o mais importante.
OP - Avalia que o Camilo consegue contornar a resistência que tem dentro do partido?
Prisco - Acho que ele não deve gastar energia com isso. Não precisa. É muito melhor pra cidade e pra gente, pro projeto, ele gastar energia apoiando as ações da gestão do prefeito Roberto Cláudio. Deixa o PT ter o candidato.
OP - Em relação à Fortaleza que Roberto Cláudio assumiu e esta que ele vai entregar ao fim do mandato, quais as principais diferenças que o senhor vê?
Prisco - São muitas diferenças. Posso citar duas áreas: educação e mobilidade urbana. A diferença é abissal. Se você for comparar índices de educação, vagas de educação integral, vaga de creche, quantidade de escolas. Nem tinha tempo integral. Hoje tem 42% de cobertura na rede. Mobilidade urbana é visual, não é nem dado. Você olha a cidade, mudou completamente. E não é só obra de infraestrutura, não é só túnel nem viaduto. São soluções criativas para a mobilidade urbana. Acho que houve muito avanço.
OP - Quem seria o melhor adversário para o candidato governista na eleição, Capitão Wagner ou a ex-prefeita Luizianne Lins?
Prisco - O que você chama de melhor? Pra gente ganhar (risos)? É difícil dizer. A gente teve uma experiência recente, na última eleição. Por incrível que pareça, e isso não é normal acontecer, o Roberto está tendo uma segunda gestão melhor do que a primeira. Isso está avaliado. Estou falando de pesquisa, não é de impressão. Normalmente é o contrário. Então estamos muito otimistas. Eleição sempre é dura, os candidatos são fortes. Os dois (Luizianne e Wagner) têm forte "recall", mas acho que o Roberto está preparado.