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Após mais de 40 anos servindo sabores e histórias, morre o sorveteiro Juarez
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Após mais de 40 anos servindo sabores e histórias, morre o sorveteiro Juarez

| MEMÓRIA | Amigos e familiares se reuniram ontem para se despedir do fundador da sorveteria que leva seu nome e é referência na Cidade
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Por mais de quatro décadas, quem fosse ao Mercado São Sebastião bem cedo ia encontrar o sorveteiro mais famoso de Fortaleza comprando sua matéria-prima. Frutas diversas, selecionadas, sempre dos mesmos fornecedores, que seu gênio transformava em iguarias. Uma rotina de constante trabalho, de segunda a segunda. Ontem, 25 de janeiro, chegou a hora do descanso. Por volta das 3h45min, mesmo horário que João Juarez Albuquerque costumava acordar para trabalhar, o dono da sorveteria mais tradicional da cidade faleceu. Aos 90 anos, ele teve uma parada cardíaca após complicações de uma cirurgia de vesícula.

[SAIBAMAIS]
Uma história que começou na região de Santana do Acaraú (229 km de Fortaleza). “Ele era trabalhador demais”, lembra a irmã Maria Bernadete, 71. “Ia até pro Maranhão, trabalhar em carnaubal”. Do interior do Ceará, Juarez, já pai de família, foi para Parnaíba-PI, onde trabalhou na Panificadora Fortaleza, empreendimento do cunhado. Lá, fez o primeiros sorvete.

“Ele começou fazendo picolé”, conta a filha Isabel Maria, 63. “Do picolé, ele, sem estudo nenhum, criou o sorvete. Fazia, jogava fora, não dava certo; fazia de novo”. História que o próprio Juarez contou ao O POVO em 2015: “Papai com a minha mãe não deixava chegar perto de leite com manga. E foi o primeiro sorvete que eu fiz na vida, o de manga. Não botei uma gota d’água na manga e nem uma gota de leite.”

Quando as filhas começam a vir a Fortaleza para estudar, Juarez deixa Parnaíba e abre a primeira sorveteria, na avenida Santos Dumont, em 1973.  

 

Três anos depois, muda-se para a Barão de Studart, o ponto mais famoso das quatro lojas cearenses (três na Capital, uma em Sobral). O estabelecimento de mais de 40 anos na Aldeota é símbolo de resistência. “Ele se preocupava sempre com a qualidade acima de tudo”, conta Isabel. “Dizia: ‘não quero ficar rico, quero manter isso aqui como é’”.
 

Gostava também de receber os clientes no balcão, puxar conversa e fazer brincadeiras. “O gosto do sabão está forte?”, assustava os desavisados.
Juarez foi pai de oito mulheres, todas com Maria no nome. De homem, só Espedito, que trabalhou ao lado do pai. A nona Maria da casa era a esposa, 84, com quem foi casado por 67 anos. O sorveteiro adorava um Santana Quantum antigo, que trocou por um novo e depois por uma Parati 3ª geração. O motivo: no porta-malas desses carros cabiam as frutas que ele comprava diariamente. Não tinha estoque, era tudo fresco, tudo do dia.
 

Juarez tinha 16 netos e 12 bisnetos. “Pra ele, coisa boa era família reunida”, lembra o neto Roberto André, que se juntou aos demais familiares e a amigos na funerária Ethernus durante o dia de ontem. Local pertinho da sorveteria que faz parte da história afetiva de Fortaleza. “Acho que hoje o céu tá mais doce”, despede-se Roberto. (Iury Figueiredo) 

 

OP ONLINE WWW.OPOVO.COM.BR
Crônicas em homenagem ao sorveteiro: bit.ly/homenagemjuarez1 e bit.ly/fortalezasorvete   

 

SORVETERIA JUAREZ
Negócio começou em Fortaleza em 1973, na Avenida Santos Dumont. Três anos depois, mudou-se para a Barão de Studart  

 

 

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