Um desejo de Landry Pedrosa, cochichado ao ouvido da esposa, Regina Cavalcante, 72, será atendido hoje. No último percurso do jornalista pelas ruas de Fortaleza, o cortejo de sua despedida passará pelo jornal O POVO. Lugar onde trabalhou mais de 40 anos no ofício de reportar a vida como ela é segundo as ocorrências policiais. Landry faleceu, ontem, pelas 17h30min, em decorrência de uma leucemia, depois de experimentar a vida por 73 anos. Dia 20, agora, faria mais um aniversário.
Dona Regina Pedrosa, com quem Landry permaneceu casado durante 45 anos, disse ao O POVO que o companheiro tinha devoção desmedida pelo jornalismo. “Tenho certeza que o Landry me amou com as virtudes e os defeitos de um casamento longo, mas o jornal foi também o amor da vida dele. Nunca vi alguém gostar tanto de uma profissão”, disse a professora aposentada.
Os dois se conheceram pela apresentação do jornalista Paulo Karan.Foi em 1966 numa noite de quermesse de Santo Antônio, na porta da igreja do Otávio Bonfim. Seis anos depois, recorda dona Regina, os dois estavam casados. E dali a algum tempo se transformariam nos pais de João Marcelo e Emília Pedrosa.
“Vou sentir muita falta dele, sinto uma tristeza bonita.Penso que ele deixou um legado no jornalismo ao modo dele e, também, foi exemplo para os dois filhos.Era um homem simples e tinha dignidade”, homenageia a companheira.
Landry Pedrosa estava internado no Instituto do Câncer do Ceará (ICC) desde o último dia 23, no quarto 209. Diagnosticado com uma leucemia, não teve tempo de ser submetido a quimioterapia. O nível das defesas do corpo estava baixo e carecia recuperá-lo para buscar outros tratamentos. “Ele morreu como um passarinho, respiração tranquila, sem sobressaltos nem dores. Estava em companhia dos filhos e de outros próximos”, conta.
Nos últimos dias em que passaram juntos no hospital, relembra a esposa, Landry pedia que não o deixasse sozinho. “Fui com ele até a morte”.
Outro desejo, além da derradeira passagem pelo O POVO, também será seguida à risca por dona Regina. A cadelinha Tica, um terceiro amor de seu “elétrico cotidiano”, fora do jornal, o acompanhará na travessia. “Ele chorou feito um menino quando a cachorrinha morreu. Ela foi cremada e, agora, vai com ele”, descontrai.
Landry Pedrosa, ressalta dona Regina, tinha dessas. Foi um repórter de cobrir grandes tragédias da história imediata do Ceará, entre 1965 a 2013, mas se derretia por animais, pela família, pelo time do Fortaleza e por saudades de Catarina - município dos Inhamuns onde rebentou em 1944. Era dele o jargão: “Eu estava lá”, para dizer do testemunho de reporteiro. Foi assim em casos como a queda do avião da Vasp, na serra da Aratanha (1982), ou a cobertura sobre a morte do presidente Castello Branco (1967) - causada por outro acidente aéreo em Fortaleza. Ou na memorável manchete: “Morte aos pés da Justiça” para narrar sobre o padecimento do réu “Gumercindo” na hora do julgamento...
Quem quiser se despedir de Landry Pedrosa pode ir à funerária Ethernus (Padre Valdevino, 1688), onde seu corpo está sendo velado até às 13 horas. Ou vir ao O POVO, às 14 horas e seguir para o cemitério Parque da Paz, onde o repórter será sepultado às 17 horas.
Perdemos um bom companheiro. Landry era cioso do seu papel e o cumpria religiosamente. Ele deixa uma lacuna na imprensa cearense”
ADÍSIA SÁ
Ombudsman emérita do O POVO
Rápido como um raio, atropelando as palavras, querendo contar tudo o que apurara. Quando disparava redação a dentro, todo mundo sabia: era o Landry que acabava de chegar da rua. Nunca houve nem haverá um outro Landry. Ele foi único.
MÁRCIA GURGEL
Jornalista e ex-ombudsman do O POVO
Foi meu verdadeiro professor de jornalismo, me fez um repórter de Polícia. Era homem de rua, como todo bom repórter tem que ser”
FERNANDO RIBEIRO
Jornalista especializado na cobertura policial
Landry era um sujeito ímpar, uma pessoa de muita credibilidade e respeito na sua atividade jornalística. Ele dizia a verdade sem ferir as pessoas”
LUIZ CARLOS DANTAS
Delegado e assessor técnico da Delegacia Geral da Polícia Civil