Uma nova ocorrência da doença de Haff, diagnosticada em casal cearense que comeu peixe do tipo arabaiana, acende alerta para risco de surto. A enfermidade, também chamada "mialgia aguda a esclarecer" ou "doença da urina preta", tem causas pouco conhecidas e, segundo especialistas, não há métodos de prevenção específicos.
Os sintomas são dores musculares intensas e urina de cor escura e, se não tratado rapidamente, o quadro pode evoluir para insuficiência renal.
Gúbio Soares, pesquisador do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia, alerta que "não há como detectar (previamente) se o peixe tem a toxina que causa a doença". "É uma coisa que acontece raramente, mas pode acontecer. É uma fatalidade", aponta.
Segundo ele, a infecção é causada por uma toxina proveniente de um tipo de alga ingerida pelo peixe. A substância, ainda não conhecida, provoca necrose muscular, o que provoca as dores intensas nos pacientes.
Gúbio é um dos pesquisadores que identificaram o zika vírus e que também diagnosticaram os casos da doença de Haff registrados na Bahia entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017, foram mais de 50 casos.
Na mesma época, a doença também se manifestou no Ceará. Segundo a Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), foram registrados dois casos da doença de Haff em 2016 e dez em 2017. Destes, oito tiveram relato de consumo de peixe arabaiana.
"Esses pacientes foram identificados por meio de notificações ao Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs) e investigações hospitalares (em prontuários) e domiciliares. À época, houve monitoramento dos casos notificados, busca de novos casos, elaboração e divulgação de nota técnica para os profissionais da saúde", informou a Sesa, em nota.
Sobre o que poderia ter influenciado o surto nessa época, Gúbio indica que "o câmbio climático pode ter levado ao aumento de produção dessa alga no meio ambiente marinho".
O médico infectologista Anastácio Queiroz explica que os casos da doença têm relatos de ingestão de diferentes espécies de peixe, inclusive não só os de origem marinha, mas também os de água doce.
A destruição das fibras musculares pela toxina provoca aumento da enzima creatina fosfoquinase (CPK) na corrente sanguínea, o que acarreta numa sobrecarga dos rins.
Apesar de os casos serem esporádicos, Anastácio Queiroz ressalta a importância de buscar rapidamente o atendimento médico, uma vez que o agravamento da doença pode acarretar em insuficiência renal. Por isso, a necessidade de iniciar o tratamento de suporte, que inclui hidratação e analgesia, o quanto antes.
INVESTIGAÇÃO DA DOENÇA
Segundo o Ministério da Saúde (MS), a doença de Haff é caracterizada por um início abrupto de dor muscular intensa associada a níveis elevados da enzima creatina fosfoquinase (CPK). Esses sintomas aparecem menos de 24 horas após a ingestão de peixe além da dor, a urina fica escura e há insuficiência renal.
À época do aparecimento da infecção na Bahia, um pedaço de peixe que foi ingerido por uma paciente diagnosticado com a doença foi encaminhado ao ministério, que enviou o material a um laboratório dos Estados Unidos.
Em nota, o MS informou que o consumo de peixe arabaiana pode ter sido a causa da rabdomiólise. "Porém, não podem ser descartadas outras causas, como a atividade física intensa e o consumo de bebida alcoólica, visto que também estiveram associadas à rabdomiólise na investigação em 2017. Todos esses fatores estão descritos na literatura como possíveis causas de rabdomiólise. Sendo assim, a associação com o consumo de peixe arabaiana precisa ser mais estudada", diz o comunicado.
Números
52 Casos de doença de Haff foram registrados na Bahia entre dezembro de 2016 e janeiro de 2017
10 Pessoas tiveram a doença de Haff no Ceará em 2017, segundo a Secretaria da Saúde do Estado
O CASO
Handerson Castro, 38, e Karyne Castro, 39, foram diagnosticados com a doença de Haff após comerem peixe arabaiana, comprado em viagem ao Ceará. O caso foi descoberto no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, estado onde os cearenses residem.