Fazer folia não é fácil. Uma estratégia para colocar o bloco das Travestidas na rua foi dialogar com pessoas mais experientes no Carnaval de Fortaleza. "No primeiro ano, foi muito complicado por causa da documentação que é exigida. Para começar, não é um processo simples, é preciso ser pensado com muito cuidado quando se faz uma coisa aberta, de rua. A segurança, os moradores. Para começar a se planejar, foi muito importante o auxílio de pessoas que já eram desse convívio", conta a empresária Luana Caiube, 27. Para a produtora do bloco, ele é uma forma de acolhimento das pessoas Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros (transexuais e travestis), Queer, Intersexo, Assexuais e mais (LGBTQIA ).
Integrante do bloco Luxo da Aldeia, Mateus Perdigão, 34, frisa a importância de fomentar o caráter popular e público da festa. "É promoção de cultura, valores, além de geração de renda, questões identitárias com o próprio local", suscita.
Para o sociólogo, colocar um bloco na rua é militar. "Não deixa de ter a militância da causa da cultura. A gente tá aqui, a gente tá na cidade, dialogando na sociedade. Mesmo que seja uma festa, tem um componente social muito forte", defende.
"É muito difícil conseguir recursos, pagar cachês condizentes com os trabalhos. É uma renda muito mais de apoio do que uma renda que consiga sanar os custos", relata Luana, sobre o valor advindo do Poder Público. A partir da perspectiva do edital, o bloco das Travestidas, tem "a possibilidade de formar um espaço seguro para as pessoas LGBTQIA , onde a gente possa se encontrar e conhecer quem tá fazendo arte".
Assim, Carnaval também é acolher, no sentido de "promover um espaço de segurança, alegria, liberdade, grito, afirmação dentro do Ciclo Carnavalesco de uma Cidade".
"Um dos pontos máximos é isso de fincar o pé e dizer que a gente tá aqui, que a gente está pronto para ser porto de pessoas que não se sentem seguras em ambientes heteronormativos e das questões polêmicas das aceitações dos corpos", discute.
Em uma festa em que "tudo vira piada e tudo é permitido para as pessoas", ela compara, "há uma luta diária de uma vida toda". "As questões de luta e de militância LGBT. O bloco está longe de ser puramente entretenimento, ele é um ato político e de resistência, de apoio para toda uma rede na qual estamos inseridos", frisa.