Um método simples, com custo de R$ 3, pode ser chave no combate ao mosquito causador da dengue, zika e chikungunya. Desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Estação Disseminadora de Larvicida usa potes de água com inseticida para atrair o Aedes aegypti. O objetivo é que o mosquito espalhe o larvicida num raio de 400 metros - média de atuação do inseto. Na manhã de ontem, 27 agentes de endemias que atuam no bairro São João do Tauape foram treinados na sede da Coordenadoria de Vigilância em Saúde para aplicar o método.
A técnica funciona como armadilha. Um pote é encoberto com saco plástico preto, já que os insetos são atraídos por cores escuras. Nas bordas do pote com água é aplicado larvicida. Ao serem atraídos para depositar ovos na água, os mosquitos acabam por encostar nas bordas do pote. As patas ficam cobertas pelo pesticida e o Aedes aegypti leva o inseticida para um raio médio de 400 metros, chegando a pontos como as partes ocas das árvores.
O projeto foi desenvolvido por pesquisadores do Instituto Leônidas & Maria Deane, da Fiocruz Amazônia. Coordenador de Vigilância em Saúde de Fortaleza, Nélio Moraes diz que a técnica traz esperança para o que ele classifica como guerra entre o ser humano e o Aedes aegypti há 33 anos no Ceará. "Nos últimos cinco anos, com advento da chikungunya e do zika vírus, o problema se tornou maior".
A ameaça da urbanização da febre amarela e a possível chegada de outra arbovirose ao Ceará, a Febre do Nilo Ocidental (FNO), exigem alerta. Enquanto a primeira doença é transmitida pelo Aedes Aegypti e Aedes albopictus no meio urbano, a segunda é transmitida pelo mosquito culex (muriçoca) e provoca febre, dores de cabeça, fadiga, dores musculares, náuseas, perda de apetite, vômitos e lesões vermelhas na pele. A FNO teve dois casos confirmados no Piauí em seres humanos; no Espírito Santo, foi diagnosticada em cavalos.
O colombiano Joaquim Cortez, coordenador técnico do projeto Estações Disseminadoras de Larvicidas avisa que, para funcionamento eficaz, a unidade precisa de uma manutenção mensal. Por conta disso, é fundamental que a população seja treinada corretamente, para que as pessoas adicionem sempre água na armadilha e o larvicida nas bordas. "É preciso que as pessoas verifiquem. Evitar que crianças e cachorros possam derramar a água".
O método foi testado em uma ilha de Manacupuru (AM). O teste realizado durante quatro meses garantiu que a infestação do mosquito chegasse a zero. "A parte acadêmica do novo método foi testada entre 2012 e 2015. Ele chegou ao Ministério da Saúde em 2016 e Fortaleza é a primeira cidade do Estado em que vai ser implantado" conta Cortez. Outros cinco estados já experimentam a técnica: Rio Grande do Norte, Pernambuco, Goiás, Minas Gerais e São Paulo.
O bairro Álvaro Weyne, com condições urbanísticas, socioeconomicas e índices de arboviroses semelhantes ao São João do Tauape, será usado como parâmetro para medir a eficácia do método. Lá será mantida a técnica atual de combate.
A Estação Disseminadora de Larvicida pareceu bastante simples para a agente de saúde Aparecida Lopes, 42. Uma das 27 profissionais que trabalham no bairro, ela atua há 15 anos no São João do Tauape. Pela facilidade de uso, ela acredita que o novo método é bastante viável. "Mas precisamos também da ajuda da população. Sem a colaboração das pessoas, nada será possível", aponta.
Combate
Nélio Moraes, coordenador de Vigilância em Saúde de Fortaleza, aponta que 80% dos focos dos mosquitos estão nas residências, por isso a necessidade de engajamento da população colaborando com essa estratégia.