O plano era conhecer o Rio de Janeiro este ano e, depois, a Austrália, um dos templos do surfe. A lista de destinos estava nos sonhos da surfista Luzimara Souza, 23, e colada no garrafão de d'água que ela usava como cofre improvisado. A atleta morreu após ser atingida por um raio enquanto treinava na praia da Leste-Oeste, na última quarta-feira, 27. Na manhã de ontem, o lugar foi palco de homenagens para a surfista, campeã da 1ª etapa do Circuito Cearense de Surf 2019, na categoria Feminino Open, e ganhadora do título da temporada 2018.
Familiares e amigos relembraram a história de Luzimara e as dificuldades para continuar no esporte. Na areia, eles oraram e mandaram energias positivas ao recordar a memória da atleta. Os presentes usavam camisas com homenagens estampadas e levaram flores e balões brancos. Um círculo de surfistas se formou ao redor da prancha de Luzimara no mar - homenagem tradicional no surfe. Artistas devem grafitar o rosto da surfista em uma caixa d'água no local onde ela costumava surfar, próximo à Associação Esportiva Cultural da Praia do Mero.
"Isso aqui é a Luzimara: alegria, praia, sorriso no rosto. E choro, ela chorava também. Ela amava viver, ela era a vida. A gente batalhou para que ela tivesse um destaque nacional", contou o irmão, Alisson de Souza, 23.
Ele conta que a morte da irmã foi lamentada pelo americano Kelly Slater, considerado o maior surfista de todos os tempos. "O próprio Kelly Slater falou comigo pelo Instagram dela, lamentou a morte da Luzimara. Se ela soubesse disso, ia ser a coisa mais feliz da vida dela".
Sem patrocínio, a atleta amadora juntava dinheiro para competir vendendo batatinhas. Graças às vendas e à ajuda de amigos, no ano passado, a cidade de São Paulo foi riscada na lista de desejos. "Organizamos tudo. Ela foi e voltou sem faltar nada. Este ano ia ser a mesma coisa, a gente já estava enchendo o cofre. Era o sonho dela surfar e competir lá no Rio. Encontrar as surfistas que ela vê na TV", relata Alisson.
"O grande legado e lição que a gente pode ter tirado disso tudo é o incentivo ao esporte. O esporte feminino nunca teve notoriedade no Estado", diz a surfista Dinha Gomes, 32. "O esporte é transformação social e o pessoal da comunidade precisa dessa esperança. A mesma esperança que a Luzimara tinha e sempre acreditou. A gente quer que o esporte seja um caminho de ajudar os jovens e dar oportunidades de crescer", defende a amiga.
No dia da morte de Luzimara, outro surfista também foi atingido por um raio, na mesma praia. Felipe Cardoso Nogueira foi socorrido e encaminhado ao Instituto Doutor José Frota (IJF). Ainda na quarta-feira, ele foi estabilizado e levado para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). O POVO procurou a assessoria de imprensa do hospital para obter atualizações sobre o estado de saúde de Felipe, mas não teve resposta até o fechamento desta página.
Este ano, conforme dados do Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), quatro pessoas morreram atingidas por raio no Ceará.
Para evitar acidentes com raios
Em caso de tempestade, o ideal é procurar abrigo em:
> Casas ou prédios, de preferência que possuam proteção contra raios
> Veículos fechados, desde que não se encoste à lataria
> Metrôs e túneis subterrâneos
É recomendado evitar:
>Praticar atividades de agropecuária ao ar livre
> Ficar ao lado de veículos ou andar de bicicleta e moto
> Ficar em campo aberto, como gramados esportivos e praias, sob árvores ou perto de cercas
> Tocar em objetos condutores de eletricidade (telefones fixos com fio, celulares conectados a carregadores ou objetos metálicos grandes)
> Acolher-se em abrigo aberto, como deques, sacadas, toldos e varandas.
Fonte: Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe)
Raios
No dia da morte de Luzimara, Fortaleza registrou 360 raios que atingiram o solo, conforme o Grupo de Eletricidade Atmosférica (Elat) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).