Existe um antigo dito que apregoa "enquanto alguns choram outros vendem lenços". Em Fortaleza, vemos situação semelhante na relação entre motoristas, que sofrem com os buracos nas vias, e empreendedores, que veem a demanda aumentar consideravelmente com o início da quadra chuvosa.
Pneus, suspensão, freios e motores de veículos são os que mais se desgastam. O aumento de demanda nas borracharias visitadas pelo O POVO chegam a 60%. No caso de oficinas, o período é visto como o mais lucrativo do ano.
A queixa de motoristas é uníssona: as vias estão cheias de buracos que são camuflados pela água das chuvas. Com isso, é comum que condutores tenham algum dano no carro.
Proprietário da Borracharia O Carlinhos, no bairro Joaquim Távora, Carlos Augusto da Silva disse que, com as chuvas, a procura aumentou bastante. "Os motoristas caem em buracos, cortam o pneu e todos os dias chego a pegar pelo menos seis pneus furados ou rasgados para vulcanizar".
O método de vulcanização é uma opção dos motoristas que rasgam pneus e não podem realizar a troca. A alternativa, mais econômica - chega a custar menos da metade de um pneu novo -, só deve ser utilizada a depender da situação após rasgo ou furo.
No momento em que a reportagem estava na borracharia, Carlos consertava um pneu de aro 21 de uma caminhonete Land Rover. Ele comentava que até um veículo como esse enfrenta problemas nas rodovias cearenses. O trabalho não sairia por menos de R$ 150.
"Chega serviço de todos os tipos de pneus para vulcanizar. A procura aumentou desde que começaram as chuvas. Aumentou uns 60% a demanda de pneus cortados nesse inverno", contou.
O borracheiro ainda relatou que, em alguns dias, a demanda por consertos é tão grande que não há tempo para resolver os problemas de todos os motoristas. "Falta espaço para tantos carros".
Dias de chuvas torrenciais na Capital representaram sinônimo de muitos transtornos para motoristas. Alguns, impacientes, resolvem enfrentar ruas cheias de água e acabaram por ter grandes prejuízos. Gerente da Willians Serviços Automotivos, no bairro Fátima, Cirliane Falcão mencionou que o tipo de problema relacionado à água no motor, o cálcio hidráulico, aumentou cerca de 80% desde o início do ano.
"O serviço que a gente mais recebeu nestes dias de chuva foi de injeção eletrônica, bobina, velas e motor com cálcio hidráulico. Num carro pequeno, uma reforma de motor sai por, no mínimo, R$ 5 mil. O prejuízo é grande", revelou.
Os gastos causados pelo cálcio hidráulico, que é quando o motor do carro aspira água e vai direto para a câmara de combustão, entortando as bielas, podem variar com o caso. Pablo Bezerra é chefe de oficina da Beto's Car e afirmou ter recebido um Hyundai Veloster, em que o dono passou por um túnel alagado. O orçamento foi fixado em R$ 9 mil "porque algumas peças consegui seminovas", o que fez o valor do serviço cair 50%, calculou.
"Não passe (por ruas alagadas). Se o motorista enxergar que a poça está próximo da altura do pneu, não arrisque porque pode haver grande prejuízo se o motor aspirar água", acrescentou.
O conselho é seguido à risca pelo corretor de imóveis Valdeci da Rocha, 47. Enquanto renovava os pneus de seu carro, ele disse que resolveu trocar uma moto por um carro por temer se acidentar por causa de buracos nas ruas.
Contava ainda que já viu acidentes com mortes por causa de quedas de motociclistas, que caíram após passar por buracos, e acreditava ter feito boa escolha com a troca. "É bem mais sério cair em um buraco com a moto. No carro não tive problemas ainda, porque estou dirigindo com cautela redobrada".
Essa cautela também pode ser prejudicial. Gerente da Oficina O Damião, Damião Júnior pegou demandas por problemas de freio, pois os motoristas param bruscamente ou repetidas vezes por causa dos buracos nas vias.