Cinco ou dez centavos dados a uma criança que pede no semáforo podem custar o futuro dela por estimular a permanência nas ruas. É nisso que acredita a Fundação da Criança e da Família Cidadã (Funci), que lançou ontem a campanha "Não dê esmola. Lugar de criança e adolescente é na escola". O objetivo é garantir que os jovens possam retirar documentação básica, além de encaminha-los para a escola e responsabilizar as pessoas que exploram o trabalho infantil.
A Funci fez parceria com redes de supermercados para que o trabalho de conscientização possa ser feito nas lojas. Conforme a presidente da Fundação, Glória Marinho, há planos de ampliar para barracas de praia, restaurantes e outros estabelecimentos. Ontem 45 agentes do Ponte de Encontro, projeto voltado para atendimento de crianças e adolescentes em situação de rua, foram para 15 locais da cidade como praças e cruzamentos de avenidas para realizar panfletagem.
Membro do conselho de administração do Super Lagoa, um dos supermercados que aderiu à campanha, Fabiana Moura destaca que os funcionários estarão orientados a acionar o Conselho Tutelar caso apareçam crianças ou adolescentes pedindo esmola na loja ou nas proximidades.
"Quase 100% das vezes a esmola que você dá não vai em benefício da própria criança, ali tem um aliciador que faz um uso diferente daquele dinheiro", critica Glória Marinho. Ela diz que, ao se deparar com jovens nesse tipo de situação a maior ajuda é ligar para o Disque 100, para que equipes do Ponte de Encontro possam acolher a criança ou adolescente.
"É por isso que não dar esmola não é uma atitude radical, é uma atitude de ajuda, de perspectiva, de novas oportunidades. Para que essa criança quando for adulta não seja mendigo mas que possa trilhar novos caminhos", pontua.
Membro da 6ª Promotoria da Infância e da Juventude do Ministério Público, Luciano Tonet aponta que desde 2014 o órgão fiscaliza a Funci para que seja cumprida toda a previsão orçamentária, dando destaque às crianças e adolescentes. "Se temos hoje nível alto de violência é proveniente de crianças e adolescentes que não foram acompanhadas minimamente". (Heloísa Vasconcelos)