Já obtiveram liberdade dois dos nove acusados presos no episódio que ficou conhecido como "Tragédia de Milagres", a tentativa de assalto a dois bancos que resultou na morte de seis reféns e oito assaltantes, em dezembro último. O mais recente deles foi Girlan Araújo dos Santos, que obteve habeas corpus (HC) no último dia 17 de abril. Ele foi denunciado por ser responsável, ao lado de outras três pessoas, pelo resgate dos assaltantes.
Na decisão, os desembargadores da 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado (TJCE) afirmaram não haver na denúncia "sequer menção a algum ato concretamente praticado pelo paciente que justifique sua segregação cautelar". Conforme cita o acórdão, Girlan é réu primário, tem ocupação lícita e residência fixa. O crime que teria praticado, argumenta, não foi violento ou de grave ameaça.
Na denúncia do Ministério Público Estadual (MPCE), a qual O POVO teve acesso, Girlan é descrito como parte do grupo de apoio da quadrilha que atacou o banco. Ele foi preso em um carro, quando se dirigia a Brejo Santo, junto com Geronilma Serafim da Silva, Jaine Pereira Nogueira, Denilson Moreira da Silva e Elivan de Jesus da Luz. Este último, conforme o MPCE, participou diretamente do ataque.
Em seu corpo constavam "marcas típicas de quem estava em um matagal", resultado, conforme o MPCE, da fuga que empregou após o tiroteio. No carro, foi apreendido um carregador de pistola e um pacote com 40 munições. A defesa alega que o grupo estava na cidade para liberar o corpo de Mackson Junior Serafim da Silva, um dos assaltantes mortos na ação. Geronilma, Jaine e Denílson são, respectivamente, mãe, companheira e irmão dele. Girlan seria um amigo da família, que, "por ser o único que conhecia a região", transportou-os de Delmiro Gouveia (AL), onde moravam, até o Ceará. A versão foi considerada "absolutamente razoável" pelo relator do caso na 2ª Vara Criminal, o desembargador Sérgio Luiz Arruda Parente.
Em entrevista a O POVO, o advogado dos acusados afirmou que todos os cinco integrantes do carro são inocentes. Ele, que pediu para não ter a identidade divulgada, afirma que a prisão só ocorreu porque a Polícia suspeitou de Elivan, passando, então, a associar a organização a todos eles. "Não há nada que prove a participação (de Elivan), exceto a mera suspeita da Polícia, segundo eles, porque deu nome falso e aparentava estar correndo no mato".
Conforme o inquérito policial, os depoimentos dos acusados foram conflitantes. Geronilma, Jaine, Girlan e Denílson negaram conhecer Elivan, afirmando que apenas deram uma carona a ele. Elivan, porém, disse conhecer tanto Girlan, quanto Denílson. Este último disse ainda ter apenas recebido uma mensagem de Elivan, em que pedia carona, não sabendo, no entanto, como ele obteve seu número. No pedido do HC, a defesa cita que houve tortura e que os acusados foram obrigados a assinar termos de declaração não condizentes com suas versões.
A respeito das munições, o advogado afirma que o material já estava no carro, que era de Mackson. Jaine, suspeitando ser algo comprometedor, por medo, quis escondê-lo. Conforme o MP, ela guardou, dentro de sua calça, a sacola contendo as munições. Sobre o carregador, a defesa afirma que nenhum dos acusados presenciou a vistoria que achou o carregador. Já sobre a acusação de latrocínio, a que eles também estão respondendo, o defensor diz que a tese é um "equívoco".
Conforme O POVO noticiou em 21 de fevereiro último, já havia sido concedida prisão domiciliar para Geronilma Serafim da Silva. Entre os argumentos, a 2ª Câmara Criminal reconheceu que ela era a única responsável pela neta, uma criança menor de 12 anos.
Denúncia contra PMs
> A Tragédia de Milagres vai completar cinco meses na próxima terça-feira, 7. Além da denúncia dos nove suspeitos de integrar a quadrilha de assaltantes, o MP irá apresentar à Justiça uma segunda acusação, com relação à operação policial que resultou na morte dos reféns. O POVO apurou que mais de 30 pessoas serão acusadas nessa peça, conforme publicou em 7 de abril.
> O procurador-geral Plácido Rios chegou a dizer, em 7 de abril último, que a denúncia seria tornada pública até a Semana Santa. O documento, no entanto, ainda não foi apresentado.
> Na ocasião, morreram os seguintes reféns: João Batista Campos Magalhães, de 49 anos; Vinícius de Souza Magalhães, de 14; Claudineide Campos de Souza Santos, 41; Cícero Tenório dos Santos, 60; Gustavo Tenório dos Santos, de 13 anos, e Francisca Edneide da Cruz Santos, 49.
> Os assaltantes mortos são: Claudervan Santana Aquino, 26 anos; José Eraldo do Nascimento, 44; Rivaldo Azevedo Santos;
Mackson Junior Serafim da Silva, 26; e Lucas Torquato Loiola Reis (18).