Dezenas de manifestantes caminharam pela avenida Barão de Studart em direção ao Palácio da Abolição na manhã de ontem, 8. Famílias removidas para implantação do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Fortaleza reivindicavam a regularização do pagamento do aluguel social e seu reajuste anual; urbanização e melhoria da acessibilidade no entorno do VLT; e prazo para construção de conjuntos habitacionais em áreas próximas ao lugar de que foram retirados.
Edileusa Silva conta que as comunidades foram à rua após atrasos recorrentes no repasse do aluguel social - previsto até a entrega da nova moradia. Aos 58 anos, a trabalhadora autônoma mora na comunidade da Trilha do Senhor há 40 anos e conta que o valor de R$ 550 é insuficiente.
Representantes do governo estadual receberam uma comissão. A advogada Mayara Justa, do Escritório de Direitos Humanos e Assessoria Jurídica Popular Frei Tito de Alencar (EFTA), participou da reunião e afirma que ficou acertado o pagamento com urgência do aluguel social em atraso.
Quanto à entrega das novas casas, o governo garantiu a entrega do Residencial Alto da Paz II, no Vicente Pizón, em outubro próximo, contemplando algumas das famílias desapropriadas. Para os demais não há previsão. A construção dependeria da liberação de verba federal em 2020.
O forneiro Otoniel Alves, 37, mora na Trilha do Senhor, cortada pelo VLT, e conta a dificuldade de quem ficou na região. Os muros que isolam os trilhos como medida de segurança, também separam as comunidades. "Até hoje não construíram uma passarela. Quando a gente precisa fazer compras, sair para trabalhar ou visitar amigos aqui na vizinhança mesmo, tem que passar pelo túnel", explica, fazendo referência a uma passagem que não foi projetada para esse propósito.
Teresa Fernandes, 62, vivia na comunidade do Rio Pardo e recebeu indenização do Governo pela desapropriação. Porém, o valor recebido "só foi suficiente para comprar uma casinha no bairro Vila Velha". Distante de amigos e familiares, a diarista relata com lágrimas nos olhos a separação do lugar onde morou "quase a vida toda".
Também presente na manifestação, Miguel Rodrigues, advogado do EFTA, afirma que se trata de "flagrante rompimento do direito à cidade". "Essas pessoas tinham o direito garantido à saúde e à educação nas proximidades, além dos laços de memória e vizinhança. De repente tudo isso foi arrancado e depois de sete anos elas ainda não tem condições mínimas reestabelecidas", explica.
O POVO entrou em contato com a Secretaria das Cidades, a Secretaria da Infraestrutura do Estado do Ceará e a Procuradoria-Geral do Estado, mas não obteve retorno.
Impacto
As obras do VLT, previsto no plano de mobilidade para a Copa de 2014, atingiram 3.500 imóveis, sendo 2.500 imóveis com remoção total.