A última semana foi de uma série de questões envolvendo a formação de Joana D'arc Félix. A professora doutora em Química pela Universidade de Campinas (Unicamp) teve a trajetória reconhecida por ter vindo de família pobre e ter chegado a um pós-doutorado em Harvard (EUA). No entanto, na última terça-feira, 14, o jornal O Estado de São Paulo revelou que a professora não possui a formação no exterior.
Na reportagem, tanto a instituição quanto o professor citado em assinatura negam a associação de Joana com a universidade. Em declaração nas redes sociais, Joana confirmou que não possui o título de PhD na universidade norte-americana e se desculpou. A professora ainda acusou de racismo a motivação para a realização da reportagem.
O POVO tentou entrar em contato com Joana, que não atendeu às ligações e nem retornou a mensagem enviada. Também tentou conversar com a assessoria vinculada a ela na época da passagem pela Capital, mas o telefone estava desligado. Em entrevista concedida ao O POVO, em junho do ano passado, Joana confirmou a vinculação com Harvard. Ela esteve em Fortaleza em março deste ano para palestra sobre sua trajetória de vida.
Acompanhando Joana desde 2017, o repórter Felipe Resk, responsável pela matéria publicada no Estadão, retomou a apuração após a divulgação do filme que seria feito pela GloboFilmes. A reportagem pediu documentos que demonstrassem o trabalho que havia sido feito nos Estados Unidos. Ela enviou um diploma, datado de 1999, com o brasão de Harvard, o nome dela e titulação de "Postdoctoral in Organic Chemistry". O Estado mandou o documento para Harvard que, ao analisá-lo, informou que não emite diploma para pós-doutorado. Também alertou sobre um erro de grafia (estava escrito "oof", em vez de "of").
Há, ainda, duas assinaturas no diploma: uma delas é do professor emérito de Química em Harvard Richard Hadley Holm. Procurado, ele respondeu por e-mail: "O certificado é falso. Essa não é a minha assinatura, eu não era o chefe de departamento naquela época. Eu nunca ouvi falar da professora Sousa".
Joana também chegou a ser condenada pela Justiça em 2014 a devolver R$ 369,2 mil para a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por uma pesquisa que ela não comprovou ter feito. Procurada, Joana afirmou ter documentos que comprovam a prestação de contas e que não foi notificada sobre o processo judicial, apesar de a sentença ter sido emitida há cinco anos.
Em entrevista à Veja um dia após a divulgação da matéria, Joana disse ter receio de que os recentes episódios prejudiquem o trabalho que ela realiza em escola técnica a com jovens em vulnerabilidade social. "Faço um trabalho muito importante. Tirar um jovem da vulnerabilidade não tem preço. Eu trabalho com vários jovens. Não pode sujar o trabalho que eu realizei. Tenho esse legado, de trabalhar exclusivamente com jovens na vulnerabilidade social. Com a pesquisa e a ciência, eu transformo vidas de pessoas que não tinham perspectiva de futuro. Esse legado não vai ser apagado", disse. (Com Agências)