Em poucos meses, o serviço de aluguel de bicicletas e patinetes elétricas compartilhadas estará operando em Fortaleza. O incremento da micromobilidade na Capital, regulamentado pelo prefeito Roberto Cláudio em abril último, é celebrado por especialistas. Eles apontam, no entanto, para o risco de aumento no número de acidentes, a exemplo do que aconteceu em São Paulo.
Ao longo do primeiro trimestre na capital paulista, os acidentes com veículos alternativos chegaram a superar os de carro, de acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET).
"Os meios de deslocamento elétricos devem facilitar percorrer distâncias maiores. Pessoas que não costumam pedalar ou usar o patinete por conta do desconforto, do suor, vão se estimular a usar o sistema", informa Mário Ângelo de Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Para Azevedo, se não forem estabelecidas regras bem definidas quanto às possibilidades de usos e o respeito a todos os partícipes do trânsito, a possibilidade é de crescer o número de atropelamentos e colisões com o uso compartilhado de vários modais, tanto nas ciclovias e ciclofaixas quanto nas calçadas.
"É lógico que quando se tem uma estrutura pequena, aumentam as dificuldades de transpor os buracos. Uma roda de bicicleta tem, em média, 20 polegadas e você já sente uma dificuldade, imagine com a de um patinete, que é de seis (polegadas)", alerta o professor.
"As vias com buracos têm um relevo muito ruim e acabam dificultando e tornando mais desconfortáveis e perigosos os trajetos e deixando os usuários sujeitos a acidentes", acrescenta. Se as vias da Cidade, de acordo com o professor, são um desafio para quem usa a bicicleta, avaliem para o usuário de patinete.
O publicitário Tarcísio Lima, 48, da associação Bike Viva, usa a bicicleta desde 2008 e, há cinco anos, comprou o transporte elétrico. Ele ressalta que o equipamento permite percorrer longas distâncias, com menos esforço e mais fluidez. Sobre as novas regras para micromobilidade em Fortaleza, Lima demonstra preocupação com o compartilhamento das calçadas por pedestres e patinetes elétricas. Ele enfatiza que o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) prioriza o pedestre. A circulação nos passeios, inclusive, foi proibida recentemente em São Paulo.
Da Associação de Ciclistas Urbanos de Fortaleza (Ciclovida), o analista de informática Lucas Landim, 36, acredita que o sistema de bicicletas compartilhadas da Prefeitura mudou a forma como muita gente encara a Cidade. A nova fase de expansão com os modais elétricos, segundo ele, deve provocar outras transformações. "Vai atingir a uma gama muito maior de pessoas, com problemas nas articulações, por exemplo", avalia.
Landim não vê problemas no compartilhamento das calçadas. Ele afirma que se a patinete respeitar limite de 6 km/h os riscos de acidentes graves são mínimos. No entanto, reconhece, podem acontecer lesões sobretudo em crianças e idosos. "É sempre o mais frágil que tem a prioridade no trânsito", avalia. O uso do patinete elétrico, no entanto, preocupa Lucas por conta da falta de manutenção da estrutura cicloviária em Fortaleza. "Não basta criar, é preciso manter. As pessoas vão ser estimuladas. É preciso que a a ciclovia ou ciclofaixa esteja em estado adequado", conta.