Logo O POVO+
Ceará se despede do jurista cearense Carlos Roberto Martins Rodrigues
CIDADES

Ceará se despede do jurista cearense Carlos Roberto Martins Rodrigues

Carlos Roberto Martins Rodrigues, jurista cearense, morreu aos 90 anos. Ele deixa legado de estudo, pesquisa, disciplina e docência na área do Direito
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Carlos Roberto morreu no sábado, dia 29
 (Foto: Cau Borges, em 08/07/1998)
Foto: Cau Borges, em 08/07/1998 Carlos Roberto morreu no sábado, dia 29

O jurista cearense Carlos Roberto Martins Rodrigues - conhecido nacionalmente por seu trânsito no Direito Administrativo - morreu neste fim de semana. Ele tinha 90 anos e dedicou a vida ao estudo, à pesquisa, à investigação e ao cumprimento das leis. O velório foi na Funerária Ethernus, na Aldeota, na manhã deste domingo, e foi seguido por missa de corpo presente, realizada às 11 horas. Advogados, autoridades e familiares participaram da série de homenagens.

"O doutor Roberto Martins Rodrigues foi um exemplo na luta por uma advocacia sempre respeitada e um defensor das nossas prerrogativas. Um estudioso incansável e um influente pensador dos nossos tempos. Me solidarizo com a família de Roberto Martins Rodrigues neste momento de dor e pesar", pontuou o atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil - Seção Ceará (OAB/CE), Erinaldo Dantas, em comunicado divulgado pela entidade.

Carlos Roberto Martins Rodrigues foi conselheiro federal da OAB e também exerceu o cargo de presidente da entidade, entre os anos de 1960 a 1963 e de 1970 a 1977. "O homem que mais vezes foi eleito presidente da OAB-CE. Foram cinco mandatos. Não consecutivos", disse Erinaldo Dantas. Ao longo da carreira, ficou conhecido pelo zelo com as legislações e por ser um profundo conhecedor dos meandros do Direito Administrativo. "O Professor Roberto, ao longo da sua trajetória acadêmica, foi responsável pela formação de centenas de advogados e advogadas, que hoje atuam em todo o País. Com o seu falecimento, o direito perde um dos seus mais valorosos e respeitados operadores, a sociedade perde um cidadão ético e humanista, e intelectualidade cearense fica mais pobre. Descanse em Paz!", afirmou o atual diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), Cândido Albuquerque, em comunicado oficial.

Ele foi vitimado por um quadro de septicemia e pneumonia. Permaneceu internado em hospital particular da Capital desde o dia 10 de maio, morrendo na noite de sábado, 29.

"Teve a humildade de envelhecer, morreu com a simplicidade dos justos e solidários, curtiu os amigos e desafiou o tempo. Foi sempre assim, de um tirocínio oportuno. Guardo lembranças do homem apaixonado, irreverente e de conceitos sólidos. Foi uma parte da minha admiração, que guardo da vida para encontra los, a ele e ao meu pai", afirmou o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues (Cabeto), que é sobrinho do advogado e publicou texto sobre a perda nas redes sociais.

"Morreu meu tio Roberto, meu homônimo. Aprendi, ao longo do tempo, algumas lições que me são caras, a solidariedade aos mais simples, a paixão aos amigos, o orgulho daqueles que amamos, a ironia à perfeição e o desafio aos preconceitos. Conheci um tio mais velho que me ensinou a ser mais jovem, a renovar os conceitos diariamente e a curtir a solidão", finaliza o depoimento publicado pelo secretário Cabeto.

Em artigo publicado no Portal O POVO online, o desembargador Jefferson Quesado Jr. relatou a vivência com o jurista enquanto professor na universidade e relembrou o tratamento sempre igualitário que ele desprendia para todos. "Apesar de ginasiano, sempre tive do professor Roberto, um tratamento, digamos, de gente, aliás, como tratava a todos. Fui acadêmico de direito (e seu aluno), advogado e depois magistrado, mas, o respeito e a forma de tratar com a minha pessoa nunca mudou", pontua o desembargador. E finaliza: "A vida continua e guardo do professor a figura de um mestre intelectualmente independente, dirigente de entidade de classe decidido e, acima de tudo, um senhor cidadão".

A OAB-CE decretou luto oficial de três dias.

 

Saudades de um Mestre

Conheci o professor Carlos Roberto Martins Rodrigues em meados dos anos 60, no Edifício Oriente [Castro e Silva com Major Facundo], onde Papai e o Professor tinham escritório no terceiro andar. Assisti o professor Roberto em várias sessões na presidência da Ordem dos Advogados, à época, no 1º andar do Clube do Advogado, na Praça do Ferreira.

Por ocasião do VIII Conamat - Congresso Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho [1998] um palestrante faltou, com aviso no dia anterior. Corri ao professor Roberto, expliquei-lhe o drama, e pedi para substituir o faltante, não só se dispôs a ir, apenas perguntando qual seria o assunto, dispensou o transporte e chegou uma hora antes da palestra, a qual, como sempre, foi um sucesso.

Ao encontrar o professor, sempre ia lhe fazer todas as referências possíveis, que o mesmo sempre mereceu. Na minha lembrança, a última vez que conversei com ele, no restaurante do Ideal Clube, chamou-me, pediu que sentasse à mesa e, muito chateado, contou-me de sua saída da universidade onde ministrava aulas. Foi uma saída injusta e o meu mestre sentiu.

A vida continua e guardo do professor a figura de um mestre intelectualmente independente, dirigente de entidade de classe decidido e, acima de tudo, um senhor cidadão.

Abraço-o, meu amigo e mestre Carlos Roberto Martins Rodrigues.

Jefferson Quesado Jr, desembargador do Tribunal Regional do Trabalho 7ª Região

O que você achou desse conteúdo?