Imagine uma queda de cavalo ser narrada como uma drástica colisão entre carro e ônibus. Ou arranhões na perna de um motociclista que derrapou numa conversão requererem um tratamento que envolve uma complicada cirurgia traumato-ortopédica. Ou, ainda, uma mesma pessoa sofrer frequentes lesões no trânsito e ser atendida todas as vezes pelo mesmo médico. Há muitos anos, é com histórias assim que fraudadores conseguem trapacear o seguro Dpvat.
No Brasil, o Ceará lidera o ranking dessas fraudes. Só entre janeiro e junho deste ano, foram registrados 1.086 casos, de acordo com a Líder, responsável por administrar o seguro. Em todo o ano passado, foram descobertos 2.771 golpes, 79,5% deles documentais (53,04% boletins de ocorrência, 18,87% documentações médico-hospitalares e 12,82% procurações).
"Fraude é inerente a qualquer negócio no mercado de seguro", admite Mariza Trancho, superintendente de Prevenção e Combate às Fraudes da Líder. A seguradora tem, contudo, intensificado investimentos em tecnologia e capacitação de pessoal para melhor investigar os pedidos de indenização. Depois do Ceará, São Paulo (1.965) e Rio Grande do Sul (1.252) foram os estados que mais concentraram fraudes ano passado no País.
Existem quadrilhas especializadas que se aproveitam, por exemplo, segundo Mariza, da grande quantidade de motocicletas circulando nas cidades e da vulnerabilidade das pessoas que utilizam esse veículo para construir histórias de ocorrências que não existiram.
Em abril do ano passado, a Operação Lampana, em Boa Viagem, interior do Ceará, desarticulou um grupo criminoso especializado em fraudar o Dpvat composto por policiais civis, guardas municipais, intermediários e um médico. O grupo chegou a arrecadar ilicitamente pelo menos R$ 230 mil. Apesar dessa realidade, a Líder diz que existem, também, fraudadores que, na verdade, se utilizam das identidades de profissionais da saúde e da polícia, por exemplo, para praticar os crimes.
Embora afirme que os casos ilícitos estejam diminuindo em Fortaleza e que a preocupação maior seja com a realidade do interior, Evandro Alves, titular da Delegacia de Acidentes e Delitos de Trânsito (Dadt) da Capital, admite que persiste a fraude envolvendo profissionais como médicos, advogados e policiais. "Tem alguns casos que estamos analisando", disse. No entanto, segundo ele, fraudes como as citadas no início desta matéria, "de 2015 pra cá, não passam mais". "A documentação (para o B.O) que a gente exige é muito rigorosa", garantiu, e a investigação de suspeitas de fraudes não costuma ultrapassar o prazo de 30 dias. Na Dadt, atualmente, existem 60 inquéritos relacionados à fraude no Dpvat.
Ciente da frequência de ocorrências envolvendo intermediários, a Líder recomenda: "Pra solicitar o Dpvat não é preciso a assistência de ninguém". O solicitante tanto pode dar entrada nos postos autorizados disponíveis como pode fazer esse processo via aplicativo no celular.
Arrecadamentos e pagamentos
Em 2018, a Líder arrecadou R$ 4,7 bilhões para o seguro Dpvat e pagou R$ 1,4 bilhão em indenizações, equivalente a 328.142 ocorrências. Já em 2017, o arrecadado foi de R$ 5,9 bilhões e as indenizações pagas somaram R$ 1,7 bilhão, correspondente a 386.993 processos.
O que é o Dpvat?
O seguro Dpvat é cobrado anualmente de todos os proprietários de veículos automotores e se destina a vítimas e beneficiários de vítimas de ocorrências de trânsito. Cobre morte, com indenização de R$ 13,5 mil; invalidez permanente, com indenização de até R$ 13,5 mil, de acordo com o local e intensidade da sequela; e reembolso de despesas médicas e suplementares, com valor que pode chegar a R$ 2,7 mil.
Como a líder investiga as fraudes?
A Seguradora Líder trabalha com um sistema que analisa e cruza todos os dados referentes às ocorrências que chegam com pedidos de indenização. Exemplo: cidade, horário da ocorrência, horário do registro do B.O, horário do atendimento feito pelo Samu, horário de entrada no hospital de urgência e emergência.
Passado esse primeiro momento, o sistema categoriza as ocorrências por maior e menor probabilidade de fraude.
Uma equipe capacitada investiga caso a caso e conclui se a ocorrência e os documentos entregues pelo solicitante do seguro são verdadeiros.
Caso sobrem dúvidas, a equipe vai pessoalmente à cidade do solicitante concluir a investigação.
Constatada, a fraude é encaminhada para o setor jurídico da seguradora para que seja transformada em "notícia de crime" e investigada por órgãos competentes como Ministério Público e Polícia Civil.
*Esse processo dura, no máximo, 30 dias
Fonte: Seguradora Líder, administradora do Dpvat.
Serviço
Se precisar solicitar o seguro Dpvat, confira os documentos necessários e saiba quais são os postos de atendimento autorizados no site da Seguradora Líder: www.seguradoralider.com.br
Infográfico
Fraudes no Brasil
Em 2018, foram identificadas mais de 11 mil fraudes no Brasil. Aproximadamente 23% deste total (2.771) só no Ceará.
Os principais motivos das fraudes identificadas no País, foram:
Fraude documental – 71,8%
Falsa declaração – 9,88%
Nada pagou – 6,47%
Já os principais documentos fraudados:
Documentação médico-hospitalar – 35,7%
Boletim de Ocorrência – 32,5%
Laudo de lesões corporais do Instituto Médico Legal – 10,2%
Fraudes no Ceará
Os principais motivos de fraudes identificadas no Ceará, foram:
Fraude documental – 79,5%
Falsa declaração – 12,3%
Despesas médicas não pagas – 0,38%
Já os principais documentos fraudados:
Boletim de Ocorrência – 53,04%
Documentação médico-hospitalar – 18,87%
Procuração – 12,82%
De janeiro a junho deste ano, a Líder registrou já 1.086 fraudes no Ceará. O Estado se mantém na liderança do País, seguido de Pernambuco (372) e Rio Grande do Sul (300).
Fonte: Seguradora Líder, administradora do Dpvat.