Atualizada e corrigida às 16h40min do dia 12/08
O exemplo sempre vale mais do que teorias e palavras. Quando alguém conta a história de João Nogueira Jucá vale ainda mais. Um estudante de 17 anos que, enquanto andava pelas ruas do Centro de Fortaleza, se deparou com um incêndio em um hospital, entrou, salvou vidas, teve quase 100% do corpo queimado e morreu cinco dias depois, no Dia do Estudante. E nos dias de hoje, o que os jovens acham que significa salvar uma vida?
Durante a solenidade de homenagem aos 60 anos da morte do estudante, ontem, alunos do Colégio Militar do Corpo de Bombeiros que participaram do evento disseram como podem também ajudar a quem precisa. Em tempos de depressão e distanciamento, ouvir o outro e ter empatia pode fazer a diferença.
"A gente vive muitos males psicológicos que não se curam da noite para o dia. É preciso perceber isso e ter empatia para descobrir o que o outro está sentindo", afirma Monyque Lima, 16.
Para seu colega, Gustavo Barros, 15, isso já foi realidade. "Um amigo estava em depressão, sofrendo com problemas familiares. Eu conversei, ele contou o que estava vivendo e eu disse que a vida era mais do que aquele sofrimento", diz. Ser um herói pode estar aquém de arriscar a própria vida, e sim em prestar uma ajuda cotidiana àquele que, muitas vezes, quer apenas uma escuta.
É união entre as pessoas. Assim pensa o também estudante Ediel Maciel, 15. "As pessoas juntas são mais fortes. Não é porque alguém pensa diferente que isso vai fazer não ajudar essa pessoa", pondera. O ser humano, para ele, é feito dessa vontade de ajudar, de se sacrificar em algum momento da vida para suprir a necessidade do outro. "Hoje é mais difícil isso acontecer, por causa do egoísmo", frisa.
Renata Martins, 13, sonha com o futuro em que ao mesmo tempo em que poderá pilotar aviões fará doação de parte do seu salário para crianças carentes. Ela acredita que assim estará salvando vidas. "É um ato de bravura, é bonito e precisa de coragem. É fazer por conta própria sem ter medo. Quero ser aviadora e, quando necessário, talvez salvar alguém em um acidente. Mas também quero fazer doações, porque sei que todo mundo precisa de alguém".
Quem foi João Nogueira Jucá
No dia 4 de agosto de 1959, o estudante João Nogueira Jucá, 17, estava caminhando pela atual avenida do Imperador, no Centro. Quando visualizou um incêndio na Casa de Saúde Dr. César Cals (hoje, Hospital Geral Dr. César Cals). De pronto, com roupa de ginástica, entrou no local e ajudou a levar as vítimas para fora. Numa das idas e vindas, foi atingido por uma explosão. Teve quase 100% do corpo queimado e morreu cinco dias depois, no dia 11 de agosto.
"Nas visitas que meu avô fazia, ele perguntava porque João tinha feito aquilo. Ele apenas dizia que faria tudo de novo", lembra João Nogueira Ponte Jucá, sobrinho do herói-estudante. A história do tio perpassa a família e chega à neta de João. "Meu avô falava que tocava no corpo dele e perguntava se doía. A resposta era de que não doía, ardia. Os órgãos dele foram queimados", diz. Para a neta, ele conta da autenticidade do ato cristão do tio, ressaltando que salvar vidas é "se doar
por amor".
João Nogueira Jucá era filho de um juiz e de uma professora e tinha dois irmãos. Após sua morte, ele foi nomeado o primeiro bombeiro honorário do Ceará. Um busto seu está localizado na praça ao lado do Hospital César Cals e vários equipamentos públicos carregam seu nome como homenagem. "Esse reconhecimento ao ato dele é também para que outros garotos não morram salvando vidas de pessoas em acidentes evitáveis. Quantos prédios com rachaduras caem? Quantos incêndios começam com fios desencapados? Com esse alerta, João continua salvando gente", afirma Luis Carlos Aires Barreira Nanan, que estudou com João.