Pesquisa do Núcleo de Biomedicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) pode ser chave no combate à desnutrição. Importante não só para a digestão, mas na produção de vitaminas e proteção contra doenças, a flora intestinal pode dizer muito sobre a saúde. É o que conclui o estudo feito pela UFC em parceria com instituições da América Latina, África, Ásia e Estados Unidos. O trabalho indica 15 bactérias que servem para a criação de um grupo-controle. Crianças desnutridas podem desenvolver os micro-organismos e atingir melhorias na saúde.
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"Microbiota (ou flora) intestinal é importante na interação com os hospedeiros (o ser humano). Ela tem uma contribuição significativa porque produz vitaminas, ácidos graxos e outros componentes. Isso protege a pessoa contra patógenos (causadores de doenças) intestinais", explica o professor do Núcleo de Biomedicina da UFC, Aldo Lima.
A pesquisa foi iniciada nos anos de 1990 e, há cerca de cinco anos, passou a acompanhar cerca de três mil crianças, saudáveis e desnutridas, com até 60 meses de idade. Foram adicionados à dieta dos meninos e meninas com desnutrição um suplemento, batizado de MDCF-2 (microbiota-directed complementary foods), um tipo de prebiótico. As crianças com desnutrição moderada passaram a ter microbiota semelhante à das crianças saudáveis. Já as gravemente desnutridas conseguiram uma evolução semelhante à das crianças com desnutrição apenas moderada. No corpo, os prebióticos se transformam em probióticos.
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Probióticos são alimentos que contêm micro-organismos vivos cuja ingestão traz benefícios à saúde. "Vários são os fatores que podem alterar a microbiota de uma criança. Se ela está no meio de uma infecção intestinal ou normal pode causar impactos na absorção e produção dos nutrientes", expõe o professor. A ideia é que haja investimento para a fabricação de medicamentos com os probióticos indicados para evitar déficit no crescimento e no desenvolvimento físico e cognitivo das crianças.
Os estudos avaliaram os efeitos em relação a fatores como inteligência e memórias visual, auditiva e semântica nas crianças. Realizada desde os anos 1990, a pesquisa já apontava a falta de uma flora adequada pode afetar em até quatro centímetros o crescimento e reduzir em 10 pontos em teste de quociente de inteligência (QI), levando em conta a comparação com crianças saudáveis.
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Um fator agravante apontado pelas pesquisas foi percebido na relação entre a diarreia e a frequência escolar: a perda de um ano de estudo era mais frequente entre as crianças que apresentavam frequentemente a doença. A análise das amostras fecais das crianças ocorreu por nove semanas. As duas primeiras foram um período de observação pré-tratamento. Durante as semanas seguintes, houve a administração das dietas, em que as crianças receberam os suplementos alimentares. As últimas duas semanas foram de observação pós-tratamento, com a obtenção de resultados pelos pesquisadores.
REVISTA
Os resultados da pesquisa desenvolvida pela UFC e parceiros foram publicados em julho deste ano na revista Science, uma das mais importantes do mundo.