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Redação Enem 2019: Como combater a violência contra professores no Brasil
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Redação Enem 2019: Como combater a violência contra professores no Brasil

Em pesquisa, 48,8% de educadores e diretores escolares questionados sobre terem passado por ameaças de algum aluno preferiram se resguardar e não dizer nada
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Foto: Wilson Dias/ABr "A escola é, sobretudo, espaço de convivência e relacionamento", ressalta Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza

No relatório anual que analisa o cenário da segurança pública no País, divulgado este ano pelo Fórum Brasileiro da Segurança Pública, há um capítulo dedicado somente a relatos de violências sofridas por professores em escolas brasileiras. Na pesquisa, se questionou, a educadores e diretores escolares: “Você foi ameaçado por algum aluno?”. Deles, 4,4% responderam que sim, 46,8% que não, mas 48,8% preferiram se resguardar e não dizer nada.

Por fatores de risco múltiplos, como desigualdade social, evasão escolar, problemas de aprendizagem, exposição a situações de violência e racismo, algumas relações entre aluno e professor podem ser tensionadas a ponto de romper em agressividade e aspereza.

No entanto, como diz Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza, “a escola é, sobretudo, espaço de convivência e relacionamento”. E a violência nela pode acabar sendo mais visível à sociedade porque se convencionou achar que formas tradicionais de disciplina e autoridade seriam capazes de conter episódios individuais ou coletivos de violência nesses espaços. Contudo, ainda segundo Rui, o que torna a escola vulnerável à violência, incluindo contra professor, “não difere dos fatores que tornam violentos outros espaços públicos e privados onde crianças e adolescentes convivem com outras crianças, adolescentes e adultos”.

Redação Enem 2019
Redação Enem 2019

Entenda melhor essa problemática.

Estatísticas no Brasil e no Ceará

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019 separa um capítulo exclusivo para a problemática da violência contra professor nas escolas brasileiras. Os números têm por base respostas de professores e diretores escolares de todo o País na Prova Brasil 2017.

A percepção dos diretores escolares

48,9% dos diretores de escola no Brasil afirmaram ter presenciado agressões verbais ou físicas de alunos a professores ou outros funcionários.

69,2% deles observaram agressões verbais ou físicas de alunos a outros alunos da instituição.

Bebidas nas escolas

15,8% dos diretores afirmaram que flagraram estudantes sob ingestão de bebida alcoólica. No Ceará, foram 11,3% deles.

21,3% dos diretores viram estudantes sob efeito de drogas ilícitas. No Ceará, foram 19,1%.

Porte de arma

14,9% dos diretores disseram que viram alunos na escola portando armas brancas, como facas e canivetes. No Ceará, esse número cai para 9,4%.

2,3% responderam que presenciaram alunos portando arma de fogo. No Ceará, foram 2,5%.

Ameaças e agressões

No Estado, quando professores foram questionados se já haviam sido ameaçados por alunos, 3,8% deles admitiram que sim, 47% disseram que não e 49,2% preferiram não responder. Realidade semelhante à maioria dos estados brasileiros.

Ainda em solo cearense, 2,1% dos professores foram vítimas de furto (sem uso da violência) e 0,7% de roubo (com uso da violência). Situação também semelhante ao restante do País.

“O fenômeno da violência em escolas não pode ser analisado dissociado do que acontece nas comunidades onde elas estão inseridas, uma vez que dinâmicas de violência na sociedade tendem a se reproduzir nas escolas”.

Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza

Airton Oliveira, professor e presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particular do Ceará (Sinepe-CE), disse que, quando um profissional concursado da rede pública desiste da função, principalmente, por questões psicológicas, e busca a rede privada, “é lamentável e um desafio para toda a sociedade combater”.

O que é possível fazer?

Rui, do Unicef, diz que não existe receita ou metodologia única. Mas, dá algumas dicas às escolas:

  • O projeto pedagógico e o regimento escolar devem ser elaborados e atualizados ouvindo a comunidade escolar;
  • Cada escola, dentro do próprio contexto, pode elaborar e estimular projetos interdisciplinares que abordem temas sobre violência, direitos humanos e cultura de paz;
  • Definir normas de convivência que garantam respeito aos direitos humanos e à diversidade.

Melhorar o clima escolar

Miriam Abramovay, socióloga e doutora em Ciências da Educação, escreveu, no Anuário Brasileiro da Segurança Pública, que há de se investir em políticas públicas estaduais e municipais sobre o tema, buscando impacto na melhoria do clima escolar e das relações sociais. Só assim, segundo a pesquisadora, será possível tanto combater a violência como melhorar ensino e aprendizagem e, consequentemente, reduzir repetência e evasão escolar.

Mediação escolar

42 municípios cearenses trabalham, hoje, com “Células de Mediação Escolar”, que, basicamente, são núcleos que promovem a cultura de paz nas instituições de ensino.

Betânia Gomes, orientadora da Célula de Mediação Escolar e Cultura de Paz na Secretaria da Educação (Seduc), defende que escola é lugar de respeito aos direitos humanos e de construção de cidadania. Para isso ser possível, porém, ela ensina: “Essa tessitura passa pelo desenvolvimento de uma convivência harmoniosa, respeitosa e ética entre todos os que fazem parte da comunidade escolar. A Seduc vem desenvolvendo um conjunto de estratégias, que compõem a política estadual de desenvolvimento de competências socioemocionais, objetivando educar para o respeito, para a empatia, para a transformação do conflito e para uma cultura de paz”.

A importância do socioemocional

A nova Base Nacional Comum Curricular (BNCC), referência obrigatória para a construção dos currículos escolares e das propostas pedagógicas das instituições de ensino infantil e fundamental de todo o País, determina que, até o próximo ano, 2020, todas as escolas contemplem as “competências socioemocionais” em seus currículos.

E o que são essas competências?

  • Autoconsciência;
  • Autogestão;
  • Consciência social;
  • Habilidades de relacionamento;
  • Tomada de decisão responsável.

Aposta do Enem

O tema desta inforreportagem foi escolhido por uma comissão de professores que compõem a banca do concurso “Redação Enem: chego junto, chego a 1.000”, uma parceria entre a Fundação Demócrito Rocha (FDR) e a Secretaria da Educação do Ceará.

A partir deste tema, estudantes da terceira série do ensino médio da rede pública e da Educação de Jovens e Adultos (EJA) são convidados a escrever uma redação nos moldes do exame. As inforreportagens vinham sendo publicadas às quartas-feiras. A última é a de hoje.

Fontes: Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019 / Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef em Fortaleza / O POVO.Doc / Airton Oliveira, professor e presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino Particular do Ceará (Sinepe-CE) / Betânia Gomes, orientadora da Célula de Mediação Escolar e Cultura de Paz na Secretaria da Educação (Seduc) / Ministério da Educação (MEC).

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