O primeiro dia do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2019 seguiu a tradição de abordar questões como os direitos das mulheres e de minorias, além de questões raciais como a situação dos refugiados, escravidão e discursos de ódio. No entanto, o tema da redação surpreendeu muitos professores, que apostaram em temas das áreas da saúde, meio ambiente, tecnologia e educação. A prova foi aplicada na tarde de ontem, 3, junto com os cadernos de linguagens e ciências humanas.
O tema da redação foi "Democratização do acesso ao cinema no Brasil". As informações sobre a redação foram divulgadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) após às 13h30min, quando o exame começou a ser aplicado em todo o Brasil. A redação do Enem é do tipo dissertativo-argumentativo, com até 30 linhas, desenvolvida a partir da situação-problema proposta e de subsídios oferecidos por textos motivadores. Na edição deste ano, os textos destacaram trechos de artigos sobre o cinema e um infográfico com percentual de brasileiros que frequentam salas de cinema. Um recorte de um texto da Agência Nacional do Cinema (Ancine), foi usado para indicar que o Brasil é apenas o 60º país na relação de habitantes por sala de cinema.
"A redação teve um tema interessante, porque não foi apolítico, não se eximiu de discutir política", destacou Igor Mascarenhas, professor de Língua Portuguesa que participou de transmissão ao vivo promovida pelo O POVO Online na noite de ontem. "Quando se fala da democratização do cinema no Brasil, também se discute a questão da distribuição, do acesso da população às salas de cinema do preço dos ingressos, inacessível à boa parte dos brasileiros. Além disso, não nos vemos representados nas telas, já a maior parte do consumo é de material de origem estrangeira", afirma.
Para Yara Fernandes, 18 anos, o tema foi "interessante" por trazer discussões sobre desigualdade social à pauta. "A redação abordou um pouco daquilo que precisamos também, que é incluir as classes de menor poder aquisitivo nesse mercado que é o cinema", afirmou ela, que quer cursar Medicina Veterinária. Já a universitária Maria Eduarda, 18, simpatizou com o tema pela facilidade de associação a diferentes situações. "Consegui desenvolver bem porque gosto muito de cinema, e usei o exemplo dos meus avós, que não tinham essa facilidade toda de ir ao cinema". O tema da redação foi uma surpresa para Luan Cavalcante, 22. "Foi um tema bem aleatório que eu não esperava de jeito nenhum". Antes da realização da prova, ele apostava produzir o texto sobre política ou desastres naturais.
Seguindo a repercussão da prova em todo o País, alguns professores consideraram o nível de dificuldade da prova como médio, ainda que algumas questões apresentassem vocabulário rebuscado e demandassem uma maior capacidade de leitura. O professor de História Paulo Airton Damasceno comentou na transmissão que o teste se manteve atual, como em outras edições: "Foi um teste que envolveu temáticas sociais, ainda que evitasse o termo feminismo, preferindo tratar apenas da condição feminina e da atuação das mulheres na história. Assim como no ano passado, a questão da deficiência física foi abordada. A meu ver, o Enem manteve a linha que se percebeu nos outros anos", destaca.
O professor de Geografia Davi Costa concordou que o teste manteve o viés político. "Destaco a menção ao uso de agrotóxicos e a relação com a morte de abelhas. É uma espécie de contradição, porque na prática, o governo vem aprovando o uso massivo de agrotóxicos", aponta o professor, também participante da live. "No mais, a prova teve um viés político e tratou de temas atuais que refletem a realidade brasileira", completa. (Colaborou Wanderson Trindade/ Especial para O POVO)