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Investigação de morte de líder indígena é lenta
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Investigação de morte de líder indígena é lenta

Paulo Paulino Guajajara foi morto no Maranhão com tiro no rosto
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PAULINO era um guardião da floresta, responsável por fiscalizar e denunciar invasões na mata (Foto: AFP PHOTO)
Foto: AFP PHOTO PAULINO era um guardião da floresta, responsável por fiscalizar e denunciar invasões na mata

Um dos Guardiões da Floresta, o índio Paulo Paulino Guajajara, foi assassinado em emboscada protagonizada provavelmente por madeireiros. O crime aconteceu na última sexta-feira, 1º, dentro da reserva indígena Araribóia, no município de Bom Jesus das Selvas, no Maranhão. Aos 26 anos, o líder indígena conhecido como "Lobo Mau" deixou um filho.

No episódio, um madeireiro teria morrido e outro índio, Laércio Souza Silva, atingido. De acordo com procurador-chefe do Ministério Público Federal (MPF) do Maranhão, José Leite, foi a Polícia Civil quem chegou primeiro ao local do crime. "É um lugar muito inóspito. Eles tomaram as medidas iniciais, ouviram a vítima que sobreviveu e fizeram exame de corpo de delito", disse.

A Polícia Federal, conforme o procurador, chegou apenas no domingo. As informações oficiais ainda são imprecisas. O corpo de "Lobo Mau" foi resgatado pelos índios para realização de rituais de morte. "Não teve como ser submetido à perícia. E a negociação para isso é delicada", afirmou José Leite. Conforme ele, a investigação será lenta, principalmente porque precisa cobrir uma longa faixa de terra. O território indígena Araribóia, registrado em 1990, possui 413 mil hectares e lá vivem seis mil indígenas. As florestas da região, ressalta o procurador, são exploradas por madeireiros. "Passam por processo de invasão constante", reconhece.

O delegado da Polícia Federal Natan Viana afirmou ao O POVO que a investigação ainda não tem uma conclusão. "Estamos fazendo levantamento, aguardando laudos periciais, exames de corpo de delito e oitivas. Não temos elementos sólidos para poder traçar uma linha cronológica dos fatos e da motivação", destacou. Em setembro, lideranças das etnias indígenas Ka'apor, Guajajara e Awá-Guajás denunciaram às autoridades que estavam sendo ameaçadas. No município de Zé Doca, a 302 km de São Luís, índios apreenderam quatro caminhões, duas motos e uma motosserra utilizadas em extração ilegal.

Os Guardiões da Floresta são grupos de ribeirinhos e indígenas que têm a missão de proteger a natureza. São equipes de multitarefas, que devem receber apoio de órgãos como Governo do Estado, Fundação Nacional do Índio (Funai) e Ministério do Meio Ambiente. Através de uma rede social, o ministro da Justiça Sérgio Moro disse que a Polícia Federal vai apurar o crime. Considerou o ato um "crime grave à Justiça".

De acordo com informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Paulino e Laércio foram surpreendidos enquanto caçavam. Os madeireiros teriam exigido que ambos entregassem arcos e flechas e começaram a atirar. Paulino foi atingido no rosto e Laércio no braço e nas costas. Ao perceber que Paulino já estava morto, Laércio conseguiu escapar pela mata. Conforme relatório do Cimi, entre janeiro e setembro de 2019 ocorreram 160 casos de invasão a 153 terras indígenas de 19 estados.

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Funai promete forças de segurança na região

Desde 2016 há uma Ação Civil Pública que prevê ações de fiscalização na Terra Indígena Arariboia, intensificadas nos últimos meses. A informação é da Fundação Nacional do Índio (Funai), que garante, a partir de agora, presença maciça das forças de segurança na região. Conforme a nota da Fundação, Laércio Souza Silva, atingido durante a emboscada, já teria saído do hospital e foi incluído no programa de direitos humanos do Estado.

O caso, que teve repercussão internacional, fez com que uma força-tarefa fosse criada pelo Governo do Maranhão. O objetivo é prevenir conflitos, fazendo uma ponte entre lideranças indígenas e órgãos federais.

Entre 2017 e 2018, o número de assassinatos de indígenas no Brasil aumentou 22,7%, passando de 110 para 135. O mapeamento foi feito pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Conforme o estudo, como a invasão de terras indígenas e a exploração ilegal de recursos acontecem há décadas, muitos invasores já se apropriaram das áreas. Grilagem e loteamento de parte dos territórios já são realidade. O levantamento listou ainda, em 2018, 22 tentativas de assassinato, 18 homicídios culposos, 15 episódios de violência sexual, 17 casos de racismo, 14 ameaças diversas, 11 situações de abuso de poder e oito ameaças de morte.

 

Número

O pesquisador sênior da Human Rights Watch, César Muñoz, afirmou que o nome de Paulo Paulino Guajajara se junta a uma lista de 300 pessoas assassinadas na última década na Amazônia

 

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