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Não podem nos tirar a primavera
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Não podem nos tirar a primavera

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Reportagem publicada em 23/06/2019 (Foto: O POVO.doc)
Foto: O POVO.doc Reportagem publicada em 23/06/2019

Da presença na Mostra de Tiradentes à realização da Mostra Negritude Infinita. Da vitória de Karim Aïnouz no Festival de Cannes com A Vida Invisível à produção das séries Lana & Carol e Meninas do Benfica. Da diversidade e potência de curtas como Aqueles Dois, Marco, O Bando Sagrado, Cartuchos de Super Nintendo em Aneis de Saturno, A Primeira Foto, Espavento e Veias de Fogo ao retorno de eventos que descentralizam o audiovisual no Estado como a Mostra de Cinema de Iguatu e o Cinefestival - Festival de Cinema do Vale do Jaguaribe. De janeiro a dezembro, o setor viveu período histórico de repercussão, produção, reflexão e discussão. Desde o Cine Ceará - cuja presença de longas com DNA cearense foi recorde nesta edição -, convencionou-se chamá-lo de "primavera do cinema cearense". Pode ser uma ideia romantizada, utópica, mas que diz sobre o florescer de uma produção que, em décadas passadas, viveu momentos de maior ou menor fôlego.

Segundo dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA) da Agência Nacional do Cinema (Ancine) que listam os lançamentos comerciais entre 1995 e 2017, houve anos em que o número de estreias cearenses variava entre zero ou uma. O maior foi cinco, ocorrido em 2013 e 2017. Neste ano, o recorde foi superado. O Último Trago, Cine Holliúdy 2 - A Chibata Sideral, Inferninho, O Clube dos Canibais, Greta e Bate Coração tiveram estreia comercial, isso sem contar António Um Dois Três, A Vida Invisível - lançamentos com DNA cearense -, Tremor Iê, Currais, Se Arrependimento Matasse, Soldados da Borracha e Pacarrete - que passaram por festivais.

Em distribuição e exibição, bons números também floresceram. O Cineteatro São Luiz bateu recordes diversos em 2019, alcançando a posição de sala pública do Brasil com maior média de espectadores por sessão, segundo a Ancine, tendo batido o recorde de público da faixa Férias no São Luiz, com mais de 51 mil espectadores, e, consta, tendo ultrapassado 120 mil na programação de cinema no ano. No Cinema do Dragão, 2019 se destaca por ter o segundo maior público da história do equipamento, superando 42 mil espectadores.

Em meio à atuação questionável no âmbito federal em 2019, é preciso lembrar que cada uma dessas conquistas é fruto de políticas públicas municipais, estaduais e nacionais construídas há anos. Cada espaço formativo deve ser celebrado. Cada ação afirmativa deve ser replicada. Cada promessa deve ser cobrada. Cada espaço deve ser conquistado. Cada diversidade deve ser contemplada. Assim, quem sabe, a primavera pode ser menos abstrata e mais concreta.

Entenda

Com prêmios importantes em festivais internacionais, repercussão massiva dentro do País e a força da descentralização geográfica das produções, o audiovisual brasileiro em 2019 viveu ano especial. No contexto local, a situação é histórica, com marcos como a participação e premiação de obras com DNA do Estado em eventos nacionais e internacionais, estreia comercial de vários filmes cearenses ao longo do ano, produção de séries e fortalecimento de discussões sobre espaços formativos.

Porém

Apesar do bom momento em termos de produção e repercussão, as políticas do Governo Federal para o audiovisual - e a cultura, no geral - são de esvaziamento, cortes de financiamento e descontinuidade. A Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão de regulação e incentivo da atividade, foi seguidamente atacada pelo presidente Jair Bolsonaro, tendo sua permanência ameaçada. A cota de tela, que garante exibição de filmes brasileiros nas salas de cinema, ainda não foi decretada e processos da Ancine estão parados por questões burocrático-administrativas.

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