O Ceará iniciou o ano de 2020 com 14,5% da capacidade do sistema hídrico - 2,70 bilhões de m³, conforme a resenha diária da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) de ontem, 2. O número representa um aumento de 35% com relação ao mesmo período do ano passado, quando registrava 10,71% da capacidade. Apesar do aumento, contudo, o cenário ainda é considerado preocupante. Principalmente tendo em vista a disparidade entre a carga armazenada nas bacias hidrográficas localizadas nas regiões Norte e Litoral se comparadas às do Centro-Sul do Estado.
A situação do abastecimento neste ano é mais confortável se comparada ao ano de 2018. O registrado este ano representa o dobro do abastecimento registrado dois anos atrás, quando alcançou apenas 7,18% do total. As bacias do Coreaú (66,4%), Litoral (65,4%), Acaraú (50,7%) e Serra da Ibiapaba (58,9%) estão em melhor situação. Diferente das bacias do Banabuiú (6,4%), Sertões de Crateús (5,4%) e Médio Jaguaribe (2,9%) que enfrentam situação crítica de reserva hídrica.
Maior reservatório dos 155 monitorados pela Cogerh, o Castanhão, localizado na bacia do Médio Jaguaribe, está com apenas 2,79%. Há um ano, o valor registrado era de 4,23%. A situação é parecida com outros açudes relevantes para o Ceará, como Orós, no Alto Jaguaribe, e Banabuiú, na bacia de mesmo nome. Os reservatórios registram, respectivamente, 5,21% e 6,19%. Apenas um açude, o Germinal (94,96%), localizado na Bacia Metropolitana, está acima de 90% da capacidade. Nenhum está sangrando, 13 estão secos e 32 em volume morto.
Daqui a cerca de um mês se inicia a quadra chuvosa — fevereiro, março, abril e maio —, período determinante para o aporte dos açudes do Estado. O segundo mês desta pré-quadra chuvosa — dezembro e janeiro —, já registrou chuvas em todas as macrorregiões do Estado, conforme a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
"O fenômeno que está causando as chuvas são os Vórtices Ciclônicos de Ar Superior (Vcas) que estão atuando próximo ao litoral da Bahia e provocaram instabilidade atmosféricas em diversas regiões do nordeste", explica Davi Ferran, meteorologista da fundação. Segundo a Funceme, a previsão é de chuvas mais expressivas até hoje, "quando a tendência é de eventos de chuva no Centro Sul e isoladas nas demais áreas, ou seja, a área de abrangência deve ser maior para a porção mais ao sul do Estado".
O meteorologista frisa, entretanto, que as chuvas registradas na pré-estação não têm relação de qualidade com a quadra chuvosa pois são resultado da influência de fenômenos meteorológicos diferentes.
Inpe prevê chuvas abaixo da média, mas cenário pode mudar
O Ceará tem maior probabilidade de chuvas abaixo da média histórica nos meses de janeiro, fevereiro e março. O trimestre abrange os dois primeiros meses da quadra chuvosa do Estado (fevereiro e março). Janeiro, que começa com chuvas, é mês de pré-quadra chuvosa.
A análise é feita pelo Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em cooperação com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) e a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme).
A probabilidade de chuvas abaixo da média abrange praticamente todo o território do Ceará, além de Paraíba e Rio Grande do Norte, parte de Pernambuco, Alagoas e áreas do Piauí e Maranhão.
Há, porém, perspectiva de o cenário ser outro, conforme a mesma nota técnica. Existe possibilidade, inclusive, de as precipitações ficarem acima da média, a depender das condições. "No entanto, se houver persistência de águas mais quentes no Oceano Atlântico Tropical durante os meses de fevereiro e março, é possível que ocorram chuvas acima da faixa normal na região Nordeste", diz a nota técnica.
A Funceme ainda não divulgou o seu próprio prognóstico para a quadra chuvosa, especificamente do Ceará. A previsão para os três primeiros meses da quadra chuvosa, de fevereiro a abril, é aguardada para a segunda quinzena de janeiro. A quadra chuvosa no Ceará ocorre de fevereiro a maio.
Quanto à temperatura para os próximos três meses, a previsão é de que varie entre normal e acima da média tradicional em todo o Brasil, com exceção da região Sul. Lá a tendência é de temperaturas entre normal e abaixo do normal.
O ano começou com chuvas em Fortaleza e vários municípios do Estado. Entre as 7 horas do dia 1º de janeiro e as 7 horas desta quinta-feira, 2, choveu em 51 municípios cearenses. A maior concentração ficou na faixa litorânea, na Região Metropolitana de Fortaleza, Maciço de Baturité e parte do Sertão Central.