"Depois da recomposição do aterro, a profundidade pode sim estar um pouco maior para os banhistas, mas não temos como dizer que se deve às obras", afirma Fábio Perdigão, professor do curso de Geografia na Universidade Estadual do Ceará e doutor em Oceanografia Ambiental e Costeira. Ele coordenou uma equipe de especialistas contratados pela Prefeitura para fazer o diagnóstico ambiental da engorda da faixa de praia, depois que o Ministério Público Federal solicitou estudos complementares sobre a intervenção.

Perdigão destaca que aspectos da natureza precisam ser levados em conta. "Primeiro, existe uma variação durante o ano entre o chamado perfil de verão e o perfil de inverno das praias. Aqui no Ceará, entre setembro e dezembro, nós temos ventos mais fortes que geram ondas mais fortes e elas acabam escavando mais a orla". Assim, ele acredita que a praia pode voltar ao perfil de verão e ficar naturalmente mais suave durante este primeiro semestre.

O geógrafo menciona ainda o fato de área da orla vistada pelo O POVO ter tido nos anos 2000 "a mesma largura de areia" observada agora. "Não é para ter fenômenos novos em um perfil geográfico que já existiu antes". "E, o mais importante, estamos no inverno do Hemisfério Norte, quando temos situações de tempestade no Atlântico Norte. Isso gera ondas do tipo swell, que chegam a ser até 1,5m mais altas que o normal e entram no nosso litoral de novembro até fevereiro", completa.

Por fim, o professor conta que o mar da região dos espigões tende a ser tranquilo devido à proteção oferecida pelo Porto do Mucuripe, que "amortece as ondas". Porém, entre novembro e fevereiro as ondas swell chegam "de frente para o nosso litoral, sem qualquer tipo de diminuição de energia". Segundo ele, a Praia de Iracema deve voltar ao normal em até quatro meses, quando esses fenômenos naturais passarem.