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Muito além do nome
CIDADES

Muito além do nome

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Cauê Henrique Ayo, de 21 anos, mora no Crato (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Cauê Henrique Ayo, de 21 anos, mora no Crato

A facilidade para retificação dos documentos talvez seja uma das grandes conquistas que acumulamos nos últimos anos. Apesar das ondas de conservadorismo, é uma possibilidade que tem mudado completamente vidas trans e nos dado algum conforto. Mas, como em tudo, existem ressalvas.

Adquirimos um direito básico: o direito ao nome. Isso é ótimo, certo? A meu ver, seria se existisse, de fato, interesse em nos nomear também cidadãos. Mas o que acontece, na realidade, está muito distante de podermos considerar como política pública ou medida inclusiva. O Estado pode reconhecer nossos gêneros e nomes, mas continua agindo como se não nos devesse também uma vida com dignidade.

A comunidade de pessoas trans e travestis ainda é a parcela LGBT que mais sofre repressões físicas e está mais distante do convívio social. Apesar de ser importante, a retificação não significa acesso à saúde, à educação, ao trabalho ou, mesmo, ao próprio corpo. Além disso, são muitos os relatos de cartórios que se negam a realizar o procedimento ou impõem problemas a quem os solicitar. A retificação não previne ou educa sobre a transfobia. Ela própria impõe um "modo de vida cis". Nossas conquistas precisam ser conjuntos pensados, não 'tapas-buracos' de nossas existências.

 

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