No último dia da Romaria de Nossa Senhora das Candeias, neste domingo, 2, um grande cordão luminoso tomou as ruas do centro de Juazeiro do Norte. A tradicional "procissão luminosa" reuniu cerca de 45 mil romeiros, segundo a organização. A caminhada partiu da Capela do Socorro em direção a Basílica de Nossa Senhora das Dores, onde a festa foi oficialmente encerrada com a bênção do Santíssimo Sacramento.
Os devotos seguravam velas ou lamparinas e entoavam cânticos religiosos em referência à Mãe de Deus das Candeias e ao Padre Cícero Romão Batista. "Bendita e louvada seja a luz que mais alumeia. Valei-me, meu Padim Ciço [...]", cantavam os peregrinos.
A primeira grande Romaria do ano em Juazeiro começou na quarta-feira, 29. Ao longo dos quatro dias, a cidade se tornou o destino de aproximadamente 250 mil fiéis, segundo cálculo da Secretaria de Turismo e Romarias do Município (Setur).
Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte são os estados de origem da maioria dos romeiros, segundo a Diocese do Crato. Antes de desembarcarem em Juazeiro, os fiéis de Nossa Senhora das Candeias e do Padre Cícero enfrentaram horas de viagem em ônibus nas tradicionais caravanas. Mas para a aposentada Luíza Maria de Aquino, de 70 anos, o que menos importa é a distância. Segundo relata, há mais de 50 anos ela viaja de Quipapá (PE) a Juazeiro do Norte para participar da Romaria das Candeias. "No começo eu vinha de pau-de-arara. Passava dois dias para chegar aqui. As rodagens (estradas) eram tudo de terra. Hoje tá é bom. Muita coisa mudou", relembra a romeira.
Assim como a aposentada, milhares de devotos contabilizam décadas de participação na festa religiosa das Candeias. Por outro lado, a cada romaria, surgem os chamados "romeiros de primeira viagem". Esse é o caso da potiguar Maria do Rosário, que viajou de Natal a Juazeiro do Norte pela primeira vez para participar das celebrações. "Aqui eu sinto a presença de Deus. Estou encantada com a fé do povo no nosso santo nordestino (Padre Cícero)", conta Maria. "Vou voltar, com certeza, e trazer pessoas que nunca vieram", garante.
A fé que motiva o deslocamento dos devotos de lugares distantes para Juazeiro do Norte é materializada em graças atribuídas ao Padre Cícero e à santa homenageada. A paraibana Rosângela Silva, de Minador do Negrão (AL), participou da festa das Candeias pelo segundo ano consecutivo. Ela diz acreditar que a intercessão da santa evitou a perda da visão em um de seus olhos. "Eu estava quase cega do olho esquerdo. No ano passado vim pedir que ela (Nossa Senhora das Candeias) me curasse e depois da romaria eu comecei a enxergar bem. Agora, eu não deixo de participar nunca mais", afirmou a devota enquanto percorria o trajeto da procissão luminosa, ontem. "Estou muito satisfeita e agradecida por estar aqui", conclui Rosângela.
Segundo a tradição popular, a Romaria das Candeias é uma das mais antigas de Juazeiro do Norte, com origem datada no fim do século XIX. A manifestação teria sido idealizada pelo padroeiro de Juazeiro para ajudar um artesão desempregado que havia o procurado para pedir a bênção antes de ir embora da cidade.
"O Padre Cícero pediu que o artesão não fosse embora, lhe deu uma quantia em dinheiro e disse: 'faça muitos candeeiros que nós vamos ter uma procissão em breve'. Quando anunciou aos romeiros a procissão, ele (Padre Cícero) indicou a rua e o número da casa onde os devotos deveriam comprar as lamparinas. Foi tanta a fabricação que o artesão conseguiu sustentar sua família por muito tempo", descreve padre Cícero José, pároco-reitor da Basílica, local que recebe o maior número de visitantes durante a romaria.