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Marisqueiras temem voltar a depender do marido
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Marisqueiras temem voltar a depender do marido

rejeição ao pescado
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Maria Eliane Pereira do Vale, a Maninha, marisqueira de Fortim (Foto: Arquivo pessoal)
Foto: Arquivo pessoal Maria Eliane Pereira do Vale, a Maninha, marisqueira de Fortim

Maria Eliene Pereira do Vale, 49 anos, conhecida por Maninha, é marisqueira e uma liderança na comunidade de Jardim de Cima, no município cearense de Fortim. A localidade, que fica a pouco mais de 135 km de Fortaleza, foi uma das mais atingidas no litoral oeste do Ceará pela invasão do petróleo cru.

Ela, mãe de sete filhos, tem receio que, por causa do desastre ambiental, as mulheres de sua comunidade percam a autonomia financeira e voltem a depender dos companheiros, que nem sempre mantém "relações saudáveis com a família".

"As marisqueiras continuam em uma situação difícil e, mais ainda, com rejeição na venda do pescado. As mulheres são as principais donas de suas casas e sustentam suas famílias. Continuam com toda dificuldade, por exemplo, para pagar as contas como água, luz, gás e comprar os alimentos", afirma Maninha.

Ao todo, explica Maninha, cerca de 60 famílias trabalham na cadeia da pesca na praia de Jardim de Cima. Sendo que, ativamente, 40 mulheres marisqueiras capturam aproximadamente 17 quilos por dia de mariscos durante quatro dias de coleta semanal. O quilo do produto é vendido a R$12 e o ganho final é dividido entre as chefes de família.

Desde que a mancha de óleo passou por Fortim e devastou o manguezal, a tragédia ambiental atingiu em cheio a principal fonte de renda que vem da pesca e da mariscagem. "Como o auxílio emergencial depende de uma burocracia para ser liberado, as famílias estão passando por momentos de muitas dificuldades sem contar que algumas não estão seguras em consumir o pescado", denuncia Maninha.

O prejuízo ambiental, descreve a marisqueira, interferiu também nos rios e os efeitos da poluição vão aparecendo no dia a dia. "Nosso ambiente está adoecido, os nossos corpos também adoecem. A gente sempre comeu o pescado como maior fonte de alimentação. Hoje, diante da dificuldade de conseguir outros alimentos, continuamos comendo do marisco. Mesmo sem saber se está doente ou não", reclama Maria Eliene.

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