O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani), encomendado pelo Ministério da Saúde e iniciado em outubro do ano passado em Fortaleza, Maracanaú e Caucaia, sofre com a divulgação de notícias falsas na rede social WhatsApp. Como muitas famílias não concordam em participar, os pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) ainda não conseguiram concluir a coleta de dados feita em domicílios. A previsão inicial era que o trabalho de campo no Ceará fosse encerrado em dezembro.
"O Enani passou pelos problemas de fake news em algumas cidades do Brasil. Aqui no Ceará, os boatos se dão de forma muito expressiva e de quase todos os tipos", afirma a doutora em Ciências da Nutrição pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Nadya Santos. Líder nacional do projeto, realizado por pesquisadores da UFRJ, Nádia conta que a coordenadoria do Enani no Estado recebeu vários áudios espalhando a suspeita de que os pesquisadores tinham interesse de infectar as crianças com doenças.
O Enani realiza coleta de sangue em meninos e meninas entre seis meses e cinco anos de idade para fazer uma análise nutricional. Segundo Santos, o pesquisador vai até as residências, uniformizado, e inicia o trabalho com um interrogatório. Se houver consentimento prévio dos pais, ele agenda uma data para um técnico de laboratório ir até a casa daquela família coletar as amostras das crianças entre seis meses e cinco anos para exames. A família assina um termo de consentimento.
As amostras são enviadas para o laboratório da UFRJ. Em 30 dias, as famílias recebem o laudo do exame de sangue e, se houver alguma deficiência de nutrientes, o encaminhamento para a unidade básica de saúde mais próxima da residência. Os exames são enviados pelos Correios, por e-mail ou pelo WhatsApp, se a família assim desejar. "A criança não tem prioridade no atendimento no posto de saúde, mas ela será atendida e poderá marcar com um nutricionista, pediatra ou outro profissional de saúde", informa ela.
"Temos vivenciado diariamente a propagação de notícias falsas e, por mais que tomemos medidas, elas não conseguem caminhar na mesma velocidade das fake news", confirma. Ainda não existe um estudo, no Brasil, sobre os dados que serão coletados na pesquisa. O trabalho pretende percorrer um total de 15 mil domicílios em 123 municípios de todo o País. A previsão inicial era de atingir 370 residências no Ceará num período de três meses.
A doutora em Nutrição Maiara de Freitas, pesquisadora e integrante da Coordenação Nacional da Enani, explica que os hábitos alimentares das crianças serão avaliados a partir do cruzamento com informações de renda, classe social, localização, condições sociais. "Vamos visitar os lares que foram selecionados e estão incluídos em todas as classes sociais. Nós vamos catalogar dados sobre amamentação, doação de leite e de suplementação, de vitaminas e minerais, habilidades culinárias, ambiente alimentar e condições sociais da família", explica.
Os dados coletados serão usados pelo Ministério da Saúde para um banco de informações e devem servir de referência para a formulação de políticas públicas de educação, saúde, saneamento, entre outras, ainda de acordo com a pesquisadora.
A participação da população é voluntária. No início da pesquisa, o entrevistador explica todos os procedimentos e entrega aos participantes um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A realização da pesquisa segue rigorosa metodologia científica e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFRJ. Um site também será disponibilizado, com as informações de cada um dos pesquisadores para que a população confirme a veracidade do nome do pesquisador.
SERVIÇO
Dúvidas
Para tirar dúvidas sobre a identidade dos pesquisadores, a pesquisa disponibiliza um número com ligação gratuita: 0800 808 0990.