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Mais de 800 pessoas estão na fila de espera por transplante de rim
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Mais de 800 pessoas estão na fila de espera por transplante de rim

Os dados são da Central de Transplantes do Ceará. OMS declarou doença renal crônica como epidemia global
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HOSPITAL Universitário Walter Cantídio é uma as unidades que realiza transplante de rim no Ceará (Foto: Mauri Melo)
Foto: Mauri Melo HOSPITAL Universitário Walter Cantídio é uma as unidades que realiza transplante de rim no Ceará

No Ceará, 819 estão na fila de espera por um transplante de rim. Até 26 de fevereiro deste ano, 55 cirurgias do tipo foram realizadas e, em 2019, 292 pessoas receberam um novo órgão. Os números, fornecidos pela Central de Transplantes do Ceará, mostram o aumento da doença renal crônica, que passou a ser considerada epidemia global pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

Conforme a Secretaria da Saúde do Ceará, 4.963 pacientes fazem hemodiálise no Estado. O tratamento consiste na remoção de líquido e de substâncias tóxicas do sangue (funcionando como se fosse um rim artificial). De acordo com o presidente da Associação dos Pacientes Renais do Ceará, Sebastião Sobreira, apenas 436 pacientes são atendidos por planos de saúde, o restante necessita do Sistema Único de Saúde (SUS).

"Não só aqui no Ceará tem crescido o número (de pacientes renais), como no mundo inteiro. Cresce em torno de 10% a 15% ao ano, mundialmente. Aqui em Fortaleza, no ano passado, entraram 616 pacientes novatos", explica Sobreira.

Ele, que faz hemodiálise há 24 anos, acrescenta que hipertensão e diabetes estão entre os principais motivos para o aumento das doenças renais. "O diabetes leva a pessoa a perder o rim com algum tempo, se ela não cuida para manter alimentação saudável. Mesmo caso da hipertensão. Hoje em dia as pessoas comem muito sal", completa.

O trabalho que a Associação dos Pacientes Renais do Estado realiza é o de visitar todas as 28 clínicas no Ceará, orientando e ajudando os pacientes. "Orientar como devem se comportar durante a sessão, dicas de uma alimentação mais saudável. Também conversamos com assistentes sociais", conta Sobreira. Segundo ele, o mais urgente é informar aos pacientes a importância de realizar o transplante.

É o caso de Nielsen Araújo, transplantado há quase um ano. Hoje, ele conta que valeu a pena ter passado pela cirurgia que teve duração de oito horas. "Agora consigo fazer coisas que não fazia antes, como viajar. De vez em quando visito meus amigos da clínica para incentivá-los", diz. Antes de conseguir receber o novo rim, Nielsen foi chamado pela Central de Transplantes 108 vezes, mas em nenhuma houve compatibilidade.

Nielsen lembra que, da última vez que foi chamado, recebeu a ligação do hospital e saiu de casa apressado com medo de perder a chance. Quando acordou da cirurgia, a primeira coisa que fez foi colocar a mão na barriga e sentir o tamanho da cicatriz. "Quando fica uma cicatriz pequena é porque tem mais chance do transplante ter dado certo", conta. Era o caso da sua, de 35 pontos.

Hoje ele participa da associação, trabalhando na área administrativa. É uma atividade sem fins lucrativos, mas onde ele vê uma chance de ajudar outros pacientes. O homem de 40 anos continua se cuidando, com alimentação e medicamentos regrados. "Já posso comer feijão preto, viajar. Minha pele e cor melhoraram", comemora.

Agnel Conde Neto, presidente da Associação Cearense dos Renais e Transplantados, lamenta que a rede pública ofereça hemodiálise em poucos hospitais no Estado. "Muita gente não pode pagar. Também costuma faltar medicamentos para transplantados. É preciso melhorar", avalia.

Sobreira contou ao O POVO que uma nova clínica já está pronta na avenida Lineu Machado, com capacidade para mais de 200 pacientes. Outra está em construção no município de Tianguá, a 333,5 quilômetros de Fortaleza. Uma outra será feita Horizonte, Região Metropolitana de Fortaleza.

 

Números

Segundo a Sesa, em 2019 foram realizados 1.617 transplantes de órgãos e tecidos, sendo 292 transplantes de rim, 4 de rim/pâncreas, 25 de coração, 229 de fígado, 1 pâncreas, 4 de pulmão, 132 de médula óssea, 899 de córnea e 31 de esclera.

 

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