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Mensagens captadas em operação indicam ruptura entre facções
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Mensagens captadas em operação indicam ruptura entre facções

Aproximação da GDE com facção amazonense teria motivado fim de aliança com o PCC
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Os 11 líderes fazem parte da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). (Foto: Evilázio Bezerra/O POVO)
Foto: Evilázio Bezerra/O POVO Os 11 líderes fazem parte da organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).

As facções criminosas Guardiões do Estado (GDE) e Primeiro Comando da Capital (PCC) romperam a aliança que mantinham no Ceará, indicam mensagens trocadas entre integrantes das duas organizações, captadas pela Polícia Federal (PF) na operação Reino de Aragão, deflagrada em dezembro último. Conforme o inquérito instaurado pela PF, ao qual O POVO teve acesso a trechos, mensagens trocadas ainda em setembro apontam que o motivo do rompimento foi a aproximação da GDE com a facção amazonense Família do Norte (FDN), considerada rival pelo PCC.

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Conforme a PF, uma dos principais chefes da GDE, Francisco Tiago Alves do Nascimento, o Tiago Magão, solicitou que um grupo no Whatsapp fosse feito reunindo integrantes do alto escalão de GDE e PCC para "melhor convivência entre ambas". O grupo foi criado em 2 de setembro último. Em 3 de setembro, outro homem apontado como chefe da GDE, Ednal Braz da Silva, o "Siciliano", envia uma mensagem ao grupo afirmando achar "errado criminoso oprimir outro por conta da camisa ou da sigla (facção) a que pertence".

Um integrante do PCC, não identificado, responde que tentou "por diversas vezes" diálogo com lideranças da GDE, mas "sempre fomos desrespeitados". Ele também diz que procurou integrantes da GDE para saber sobre a suposta aliança com a FDN, mas "ninguém mais falou com a gente". Ele também afirma que integrantes da GDE atacaram e tomaram "quebradas" dominadas pelo PCC. "Mediante a isso foi que foi feito o nosso comunicado que a gde passou de amiga a neutra pois uma facção amiga não ataca a outra", diz. "Até nossos fundadores nos matamos por errar (SIC)", complementa.

Em outra mensagem, o chefe do PCC diz que a FDN é "inimigo mortal" do PCC "assim como o CV" (Comando Vermelho). A operação captou o salve atribuído ao "Resumo Disciplinar dos Estados", do PCC, em que a facção anuncia o "rompimento da amizade" com a GDE. O texto é datado de 4 de agosto de 2019. "Deixamos claro que essa atitude estar sendo tomada em cima da amizade que os próprios G.D.E fez um laço de amizade com os nossos inimigos mortais os lixo do F.D.N (SIC)".

O texto ainda sustenta que o PCC não declarou guerra à GDE, que deve ser "tratado da melhor forma" — mas os integrantes do PCC deveriam desfazer negócios que tenham com a GDE. Em outra conversa, esta com um outro integrantes da GDE, Siciliano diz que a FDN está "em sintonia" com a facção cearense. "Tem até o gp deles cm nós, se vc quiser eu adiciono vc lá agora (SIC)", diz a um outro membro da GDE. A mensagem era uma resposta a Francinelio Oliveira e Silva, que comentava que "Zé Roberto da Compensa" tinha vontade de "fortalecer com a GDE". Zé Roberto é José Roberto Fernandes Barbosa, um dos fundadores da FDN.

Na operação Reino de Aragão, a Polícia Federal também se debruçou sobre a estrutura da GDE. Conforme a investigação, a facção está presente em cerca de 47 bairros de Fortaleza (38% do total) e 56 municípios do Estado (30% do total). Ainda segundo a apuração da PF, a cúpula da GDE é chamada de "Sétima Coluna", menção aos sete chefes da facção. Todos eles estão presos e, à época das mensagens, apenas Siciliano, recolhido em presídio pernambucano, era considerado como tendo comunicação com outros faccionados.

Abaixo da "Sétima", viria o "Conselho Final", em seguida, os "Legionários". "Segundo as investigações e relatos jornalísticos, a GDE possui mais de 8 mil filiados, estando organizada verticalmente, e subdividida em grupos específicos (comando, disciplina, finanças, missões arriscadas etc.), que possuem denominação própria (Sétimo, Conselho Geral, Sintonia Final...), de acordo com as normas estabelecidas em estatuto próprio", afirma o inquérito da PF.

 

REPORTAGEM

Conforme O POVO mostrou na edição de ontem, a operação Reino de Aragão também captou ameaças que a GDE fez, durante a série de atentados de setembro último, a autoridades e funcionários públicos. Pelo assassinato do governador Camilo Santana (PT), R$ 1 milhão teria sido oferecido

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