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Feirantes voltam às ruas de Fortaleza dois dias antes do fim de decreto governamental
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Feirantes voltam às ruas de Fortaleza dois dias antes do fim de decreto governamental

Autônomos fazendo feira antes de acabar o período de isolamento revelam anseio de que o salário emergencial aprovado na Câmara dos Deputados não demore para de fato "cair na conta de quem precisa"
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Apesar das barracas postas, fluxo de clientes foi aquém do esperado  (Foto: Fabio Lima/O POVO)
Foto: Fabio Lima/O POVO Apesar das barracas postas, fluxo de clientes foi aquém do esperado

“Se você for na parte mais rica, está tudo parado. Por aqui, na periferia, é menino brincando, correndo no meio da rua. Os marmanjos jogando bola, e as mulheres sentadas na calçada conversando, algumas até tomam cerveja”, descreve Jéssica Santos, 25, enquanto desmonta a barraca onde trabalha na feira livre do bairro Santa Maria, em Fortaleza. O cenário desenhado pela jovem reflete a dinâmica das ruas na Cidade durante este período que deveria ser de isolamento social a fim de evitar a proliferação do novo coronavírus.

No próximo domingo, 29, vence o decreto do governador Camilo Santana (PT) para o fechamento de estabelecimentos comerciais de serviços não essenciais no Ceará. Feiras, como a do Santa Maria, onde dezenas de autônomos encerraram os trabalhos no fim dessa sexta-feira, se encaixam nesse perfil. Conforme Jéssica, esta é a primeira vez que ocorreu o comércio ao ar livre desde quando o líder estadual decretou as medidas preventivas em 19 de março. A expectativa é de que o petista publique novo decreto até segunda-feira, 30.

“O presidente disse que a gente podia trabalhar, viemos. Eu tenho dois filhos pequenos, um menino e uma menina, se não for eu, quem será que vai dar de comer para eles? Pode mandar eu parar um mês. Se eu tiver fruta, eu vou trabalhar. Eu coloco minhas coisas em qualquer esquina. Eu preciso sobreviver”, desabafa Jéssica, que se ocupa na feira desde os sete anos.

Durante o decreto do governador, a chefe de família já tinha tentado armar a barraca na feira da Messejana, mas foi impedida por policiais. Desta vez, ela e outros comerciantes explicaram a situação quando a fiscalização passou para fechar as vendas. Assim, ficaram durante todo o dia. Jéssica Santos trabalha no comércio ao ar livre em outros bairros da periferia de Fortaleza, como no Tancredo Neves e no Barroso.

Há 20 anos no ramo, o feirante Antônio Carlos dos Santos, 48, tio de Jéssica, critica a ordem do Estado para fechar o comércio. “Não pensou nas pessoas de baixa renda. Rico tem uma estrutura. Tem como se manter. Hoje, chegou uma mulher chorando aqui na feira pedindo ajuda. Dizendo que já não tinha mais o que comer. Olha que só foi uma semana. Imagina se fosse mais?”, questiona.

Para ele, medidas de ajuda aos mais pobres deveriam ser anunciadas pelo Estado. Enquanto três ajudantes guardam a mercadoria em caixotes vermelhos, Antônio Carlos revela anseio de que o salário emergencial, aprovado nessa quinta-feira, 27, na Câmara dos Deputados, não demore para, de fato, “cair na conta de quem precisa”. O pagamento de auxílio de R$ 600 segue para votação no Senado

Uma comerciante, que pediu para não ser identificada, guarda alguns produtos expostos, como acetona, álcool, esmalte e maquiagens, diz que a venda não foi tão lucrativa. “Vieram poucas pessoas. Foi fraco demais. A chuva ainda prejudicou um pouco”, comenta ao mesmo tempo em que balança a cabeça de um lado para o outro para ajustar a máscara que usava. Outros dois ajudantes do ponto de vendas também se protegiam da mesma forma. O lamento de pouca venda da mulher é o mesmo de Jéssica Santos e do tio, Antônio Carlos dos Santos.

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