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UPAs em tempos de Covid-19: sofre quem está dentro e quem está fora
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UPAs em tempos de Covid-19: sofre quem está dentro e quem está fora

Unidades devem ser procuradas por pacientes com suspeitas de infecção pela Covid-19
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 04-04-2020: Movimentação na UPA do Bairro Itaperi em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO) (Foto: Aurelio Alves/O POVO)
Foto: Aurelio Alves/O POVO FORTALEZA, CE, BRASIL, 04-04-2020: Movimentação na UPA do Bairro Itaperi em época de COVID-19. (Foto: Aurelio Alves/O POVO)

O POVO foi a três Unidades de Pronto Atendimento (UPA’s) em Fortaleza no último fim de semana. O cenário nos locais era o mesmo: pouco movimento, vendedores tristes em barracas de lanches, acompanhantes à espera de qualquer notícia dos entes em atendimento e funcionários assustados. A recomendação do Ministério da Saúde é de que apenas suspeitos de possível infecção pelo Sars-CoV-2, o novo coronavírus, procurem o serviço, para que depois sejam encaminhados a um hospital de referência.

No bairro Autran Nunes, o número de autônomos vendendo lanches e taxistas diminuiu. A justificativa de quem resolveu ficar é a mesma daqueles que insistem em furar o isolamento social imposto: necessidade de sobrevivência. Funcionários da Unidade do bairro relatam a falta de Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s): máscara, álcool em gel e luvas.

“Tudo (EPI’s) vai embora rápido”, relatou um profissional da linha de frente, que pediu anonimato, “e poucos chegam”. Se as cadeiras para espera de atendimento estavam vazias, dentro de uma sala de isolamento da Unidade, segundo ele, ao menos uma dezena de pacientes esperavam a testagem para Covid-19. “O perigo é ter infectados no meio de quem não está. Às vezes, a pessoa chega sem. Aí, vem pra cá. De repente, pode ficar”.

Por dois dias, o namorado de Beatriz Costa, 17, sentiu fortes dores no corpo e febre, variando entre 38 e 39 graus, mas decidiu procurar a UPA do Itaperi depois de o companheiro apresentar insuficiência respiratória. Lá, cinco pessoas esperavam por atendimento. “Ele suspeita porque a tia dele estava com sintomas. Ela foi fazer os exames no Hospital São José”, relata.

Segundo a jovem, a tia do namorado foi buscar uma amiga no aeroporto. A visitante chegava de São Paulo, antes mesmo de aumentar o número de casos na capital paulista e cearense. “Ele trabalha em supermercado. Então, ele tem contato com pessoas e com dinheiro. O cuidado, a gente tá tendo ao máximo. Mas ele tá morrendo de medo”, confessa.

Na UPA do bairro José Walter, o movimento registrado também era menor em relação aos dias comuns. Mas ainda sim superior ao das unidades do Itaperi e Autran Nunes. Algumas pessoas usavam máscaras e luvas. Há quatro dias, Maria da Conceição da Silva, 44, dera entrada no equipamento com insuficiência respiratória e de lá nunca mais saiu. Nem os parentes tiveram informações sobre o estado de saúde.

Por quase duas horas, Francisco Sousa, 46, companheiro de Maria, tentava o mínimo: saber se a esposa estava viva. Negociou com o médico e conseguiu: a paciente está entubada e só consegue respirar por uma balão de ar. “Ninguém poder ver, ninguém pode ir lá. Ninguém sabe se tá bem ou mal. Uma coisa que só vamos saber quando morrer. Infelizmente, a saúde é essa”, lamentava antes do parecer médico.

“O doutor diz que ela conversa, mas se tirar a máscara, não consegue respirar. Ele falou da suspeita. Mas ainda não fez o exame porque não tem. É cruel. Eu não me sinto bem. Me consultei aqui, mas me disseram que estou com virose”, comentou Francisco. Ele e a mulher vivem sozinhos. Ela é do grupo de alto risco, pois tem diabetes e hipertensão.

Em todas as três UPAS visitadas pelo O POVO, avisos colados em poltrona sim poltrona não pediam para manter distância. No balcão de atendimento, uma fita de isolamento delimitava a proximidade de quem chegava e o atendente da vez. No último sábado, durante visita ao hospital de campanha, no Estádio Presidente Vargas, o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), reforçou as medidas de segurança. O gestor destacou que, até maio, as Unidade de Pronto Atendimento receberão reforço de 140 leitos para acomodar suspeitos de infecção pela Covid-19.

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