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Falcão: Lições da Bodega do Ferrim
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Falcão: Lições da Bodega do Ferrim

Mercearia e Bodega do Ferrim
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FORTALEZA, CE, BRASIL, 09.04.2020: Especial Aniversario de Fortaleza - Vila Nazira, Bairro José Bonifácio (Foto: Thais Mesquita/O POVO) FOR 13.04 (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita FORTALEZA, CE, BRASIL, 09.04.2020: Especial Aniversario de Fortaleza - Vila Nazira, Bairro José Bonifácio (Foto: Thais Mesquita/O POVO) FOR 13.04

O simples fato de hoje residir em São Paulo já faz tudo aí em Fortaleza virar lembrança boa, até o que não presta. Nesses tempos de coronavírus, então, "chiqueirado" num apartamento, sem botar a canela do lado de fora nem pra ganhar dinheiro, aí é que aumenta a vontade de rever gente e lugares.

No tocante a esses pontos de encontro, "escritórios de negócios bebericativos", nem falar. Se eu pudesse, dava um pulo em bares e restaurantes alencarinos de gabarito, bodegas e mercearias, quitandas e churrascarias, mercantis e similares etc. e tal. Sinto uma falta medonha desses ambientes altamente terapêuticos, socializantes, palcos da invocação.

Para o aniversário da Fortaleza, na segunda-feira - 13 de abril, num isolamento social que bate ainda mais brabo, a saudade da cidade recai sobre a Mercearia e Bodega do Ferrim, no bairro José Bonifácio, proximidade de famoso colégio da Cidade. Meados dos anos 1990 e eu lá, refestelado numa cadeira de madeira dobrável, esperando terminar a aula do meu filho Pedro, perto do meio dia. Ouvindo quem? Waldick Soriano - "Amigo, por favor leve essa carta..."

É onde eu gostaria de estar quando acabar a pandemia.

Era tiro e queda: de segunda à sexta, saía de casa mais cedo só pra esperar o menino e ficar tomando água de coco, quando não muito, uma "bramosa", como diria o Sardinha - esse ama um bar. Tirar o gosto com panelada, limão e siriguela, conhecer uma ruma de gente, mangar do povo, cantar.

Eu ficava em ponto estratégico - o Ferrim era na esquina da Rua Padre Roma com a Vila Nazira. Daquela posição dava pra ver a moçada sair do colégio, observar bebim no pé do balcão tomando lapada de cana com queijo. E o melhor: olhar o povo comprando de tudo em quanto no armarinho do Ferrim; na cristaleira deveras sortida, no vão da bodega, viam-se pomada Minâncora, Leite de Rosa Tradicional (desde 1929), grampo preto e fino pra cabelo, pente Flamengo, botão, giz, elástico pra calção.

O ponto continua lá, com outra denominação. Um bar mais sofisticado. Ferrim não tem mais, mas continuo frequentador dessa saudade. Como eu gostaria de estar naquela catedral do mundo quando sair dessa pandemia!

 

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