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110 municípios do Ceará estão com aulas remotas; na rede privada, 7 em cada 10 escolas
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110 municípios do Ceará estão com aulas remotas; na rede privada, 7 em cada 10 escolas

Segundo o Sinepe-CE, 25% das escolas particulares optaram por férias antecipadas no último mês para se adaptar ao ensino emergencial remoto
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Criança em exposição à internet (Foto: Fábio Lima )
Foto: Fábio Lima Criança em exposição à internet

Dos 184 municípios cearenses, cerca de 110 estão com aulas remotas nas escolas públicas do ensino fundamental(1º ao 9º ano). Em relação às escolas privadas, considerando todas as etapas do ensino, sete a cada dez ofertam conteúdo desta forma. O restante optou por antecipar as férias escolares, mas retornam em maio próximo. Os levantamentos são da seccional cearense da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe), respectivamente.

Conforme a Undime, órgão de assessoramento e orientação aos dirigentes municipais de educação, a pesquisa recebeu respostas de 144 municípios. Desses, 80 aplicam conteúdo que deve ser aproveitado na carga horária mínima de 800 horas exigidas pelo Ministério da Educação (MEC). Outros 30 usam atividades remotas, mas ainda há incertezas se o material alcançará às exigências para validação. No restante, 34, não há nada sendo aplicado.

Tendo em vista esses dois últimos conjuntos de cidades, a Undime-CE montou um grupo de trabalho, com seis dirigentes educacionais, para orientar como se preparar e retornar às escolas. Conforme a presidente do órgão e secretária de educação do município de Crateús, Luiza Aurélia Costa, durante a semana de aula, os professores devem preparar o alunado para, na sexta-feira, encaminhar atividades a serem feitas em casa. A cada exercício serão atribuídos minutos de estudo.

"No final, o tempo deve compor a carga horária exigida. Assim, os professores terão condições de aferir se o estudante conseguiu apreender as competências propostas", considera. O material deve ser disponibilizado às cidades. As orientações são feitas aos técnicos em educação das localidades. As recomendações são para o ensino fundamental. Uma coletânea de atividades está sendo feita para o ensino fundamental.

No entanto, a líder educacional confessa não conseguir mensurar a qualidade do ensino ofertado nos municípios que adotaram a educação remota. "O que fizemos foi para saber se há a oferta, qual o percentual atingia, como o município está realizando e se melhorou as condições de conectividade, cada município tem o poder discricionário de optar pela atividade." 

Luiza destaca que algumas redes de ensino do Ceará, como a de Fortaleza, São Gonçalo do Amarante e Eusébio, começaram a investir e apresentam condições favoráveis para a oferta dessa modalidade.

"Os municípios não investem em softwares ou aplicativos, por conta disso não há capacitação dos professores para isso. Há limitação desses profissionais no uso de mídias. Não é algo universal, mas há um alto percentual assim. A baixa escolaridade dos pais influenciam consideravelmente na orientação domiciliar das atividades", comenta ainda sobre os fatores que dificultam aulas remotas.

Por outro lado, o cenário se desenha de forma diferente na rede de ensino privado, mas ainda assim é desafiador, segundo o professor Airton Oliveira, presidente do Sinepe-CE. O representante destaca que 25% das escolas particulares optaram por férias antecipadas no último mês para reforçar os sistemas e adaptar para o ensino emergencial remoto. Enquanto o restante, intensificou as atividades domiciliares e ganhou um novo ator no processo de aprendizagem: os pais. Há 4,9 mil unidades particulares no Estado.

"A escola tem de ser ágil. Não podemos ficar de braços cruzados se essa pandemia chegar a agosto. É um novo modelo. É um momento de resolução imediata para salvar o ano letivo na educação básica e o semestre, no ensino superior", considera. Oliveira frisa ainda que muitas instituições se endividam para adaptar e receber a demanda dos estudantes em um ambiente virtual.

"É uma modalidade que vai permanecer. Esse período tem atraído o interesse dos alunos e despertado famílias a se envolverem mais. Talvez, apareça uma ou outra resistência porque querem delegar a obrigação da educação apenas à escola. Mas a educação domiciliar é uma riqueza porque os pais estão participando, convivendo e nós estamos em permanente contato."

Para ele, há receio por parte do Ministério Público do Ceará se o conteúdo está sendo cumprido. Ele afirma que as escolas estão repassando de forma correta o material. "Na volta, vamos fazer a avaliação. Nós iremos fazer reforço daquilo que pode não ter sido compreendido, utilizar o mês de julho, dezembro e janeiro para complementar o ano letivo", garante.

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Municípios vivem incertezas no alcance de conteúdo durante isolamento

A rede de ensino de 64 municípios, monitorados pela seccional cearense da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), enfrenta problemas para chegar aos alunos durante a suspensão das aulas presenciais. Em Banabuiú, distante 216,6 quilômetros de Fortaleza, foi adotada a estratégia de aulas emergências remotas. No entanto, o formato não alcança todos os estudantes. Enquanto em Catunda, a 266,9 km da capital cearense, o método deve ser adotado apenas após a retomada do calendário escolar. 

Dirigente educacional do município de Banabuiú, Imaculada Silveira desenha um cenário precário quando se trata de ambientes virtuais. Para a gestora, em tempos de situações extraordinárias, há necessidade de se entender o novo cenário. "Para o público maior, está interessante. As coisas estão fluindo. Mesmo eu não conseguindo atingir percentual interessante. Nós estamos aprendendo no dia a dia", afirma.

Segundo Silveira, a experiência bem sucedidas de outras localidade serve como parâmetro para o município, que tem na rede 3,2 mil estudantes. A secretária afirma que o principal recurso utilizado é o WhatsApp. "A gente está tentando levar as orientações pedagógicas por meio das próprias pessoas que moram na região."    

Apesar disso, Imaculada destaca que a equipe técnica trabalha para o voltar já com calendário adaptado. "Tudo o que tínhamos feito em outubro, novembro e dezembro, estamos refazendo para que a criança tenha o que lhe é de direito: educação de qualidade", projeta.

Enquanto isso, em Catunda, o responsável pela educação do município, Rondinele de Oliveira,  utiliza do rádio para se comunicar com o alunado das 12 unidades de ensino. "Estamos aguardando o retorno das aulas para fazer as atividades remotas dos alunos." Ele destaca que, por enquanto, a plataforma sonora é usada apenas para informação às comunidades. Um programa semanal é veiculado no rádio. 

"Este é o momento para tranquilizar as famílias, para entender que não se trata de férias, mas de isolamento social". Segundo ele, dicas em vídeos são divulgadas nas redes sociais do município para orientar pais em como lidar com a criança em casa. Para algumas séries, os professores deixam atividades em casa ou enviam por WhatsApp.

"Vai chegar o momento de montar um programa de rádio por disciplina.  e vamos fazer no mês de maio. Se isso se estender mais, vamos sentar e elaborar os programas.  O aluno vai perder muito. Quando se trata da educação infantil e anos iniciais, a presença do professor, o espaço escolar é essencial para que o aprendizado aconteça. Sem contar que parte das famílias não têm instrução", considera.

Aquiraz e Jijoca de Jericoacora recebem apoio da Fundação Lemann

Os municípios de Aquiraz, na Região Metropolitana de Fortaleza, e Jijoca de Jericoacoara, distante 283,4 quilômetros da capital cearense, foram selecionadas pela Fundação Lemann para receber apoio técnico para o ensino remoto. O suporte deve durar dois meses, mas há possibilidade de renovação. A interrupção no calendário escolar ocorreu para prevenção ao contágio do novo coronavírus.  

O apoio é personalizado conforme o cenário e as necessidades específicas de cada uma das cidades e o planejamento de todas as ações feito com a participação e envolvimento das equipes de cada rede.

"Nada substitui o trabalho do professor e a vivência em sala de aula, mas é vital que busquemos medidas de redução de danos para os alunos, com materiais de qualidade pedagógica e de fácil acesso", diz Denis Mizne, diretor executivo da Fundação Lemann.

O apoio da fundação envolve diagnóstico dos desafios e condições da rede de ensino; e planejamento de ações de ensino remoto, com co-construção ou finalização de planejamentos já iniciados. O item inclui a curadoria de conteúdos pedagógicos de qualidade (analógicos e digitais) e o apontamento de estratégias para garantir a aprendizagem remota.

Além disso, há o apoio à implementação das ações planejadas. Por fim, acompanhamento para aprimorar as ações em curso. Depois de tudo isso, há uma sistematização e divulgação das ações, visando a multiplicação de práticas que se provarem efetivas.

Carga horária

A partir de consulta feita pela Undime, 80 municípios do Ceará responderam que estão aplicando conteúdo que deve ser aproveitado na carga horária mínima de 800 horas exigidas pelo MEC.

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