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2020 tem mais assassinatos que ano mais violento da história do Ceará
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2020 tem mais assassinatos que ano mais violento da história do Ceará

Até dia 26, 1.464 mortes haviam sido registradas no Estado, aumento de 12,6% na comparação com 2017
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Atualizada às 11h15min

Até aqui, 2020 já tem número de assassinatos semelhantes a 2017, o ano mais violento já registrado no Estado, com 5.133 Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs). Até a última segunda-feira, 26, dia do mais recente balanço da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), já haviam sido registrados 1.464 CVLIs neste ano. Em 2017, até essa data, haviam sido 1.279 mortes — aumento de 12,6%. Na comparação com 2019, quando 726 assassinatos haviam sido registrados, o aumento é de 50,4%.

O aumento coincide com relatos de fontes policiais e de moradores de comunidades da periferia de Fortaleza, desde a última semana, apontando uma escalada do conflito entre facções. O motivo seria "salve" de uma facção ordenando vingança pela morte de um suposto chefe, conforme já havia noticiado por O POVO na quinta-feira, 23. Nas redes sociais, fotos e vídeos feitos pelos próprios criminosos mostram o que seriam invasões de "territórios inimigos".

Um dos bairros que estaria registrando essa "guerra" é a Praia do Futuro. Entre os dias 22 e 24, o bairro teve, pelo menos, três homicídios. Entre os crimes está o assassinato de Luis Felipe Brito da Costa, 18, que estaria diretamente ligado a essa suposta ordem de facção. O jovem foi morto na quinta, 23, por integrantes da facção Guardiões do Estado. Conforme consta no auto de prisão em flagrante, os três suspeitos do crime receberam ordem para matar quem pertencesse ou fosse simpatizante do Comando Vermelho. Os criminosos renderam um motorista de aplicativo, que os levou até a comunidade Luxou, onde Luis Felipe se encontrava. Ele, porém, não tinha relação com a facção, apurou a Polícia Civil, sendo morto apenas por se encontrar em área "dominada" pelo CV.

Já no dia 24, a vítima foi Josias Nunes da Silva. A Polícia Militar havia recebido ocorrência de tiroteio entre gangues rivais na "Favela da Embratel". No local, encontraram a vítima baleada, dentro de um casebre abandonado. Com ele, ainda foi encontrado um revólver.

Conforme o pesquisador do Laboratório de Estudos da Violência (LEV), Luiz Fábio Paiva, já no fim de 2019 começou-se a observar aumento em situações de "acerto de contas", após uma queda no número de homicídios que fez daquele ano o menos violento da década. Ele diz que o Estado optou por uma política de "desmantelamento na dinâmica das facções", com foco em operações policiais e encarceramento, que fez com os grupos recuassem, "mas essa política em nada mudou os problemas sociais ou as condições sociais que permitem ou possibilitam a existência deles".

Ricardo Moura, pesquisador da Rede de Observatórios da Segurança e colunista do O POVO, também aponta ter havido a aceleração da curva de crescimento de homicídios mesmo antes da paralisação da PM, período em que 315 pessoas foram assassinadas. "O mapa de domínio territorial das facções vem se alterando (desde janeiro). É um momento de incidência para que áreas sejam retomadas e lideranças sejam eliminadas", diz. 

Em nota, a SSPDS diz que intensificou ações para identificar e capturar pessoas envolvidas em diversos crimes, principalmente com os crimes violentos contra a vida. Nessa terça, 19 pessoas, incluindo adultos e adolescentes, foram capturados pelas Polícias Civil e Militar e irão responder pelos crimes na Justiça. Foram três prisões em Fortaleza, três em Caucaia, seis em Cascavel e sete em Pindoretama.

"Durante os motins no mês de fevereiro deste ano, foram registrados conflitos entre células de organizações criminosas no Estado, o que refletiu nos períodos seguintes e seguiu a tendência das disputas desses grupos em âmbito nacional", afirma a pasta. "Atualmente, as forças de segurança do Estado "trabalham para reorganizar suas atuações e traçar novas estratégias".

"Ressalte-se que o trabalho diário de policiamento preventivo e ostensivo visa coibir conflitos entre grupos criminosos que, durante disputas de territórios, ocasionam um aumento no número de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) no Estado", conclui a nota. (Com informações de Rubens Rodrigues).


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