Jogue a primeira pedra quem nunca passou por uma situação de exposição pública durante a adolescência. Numa época da vida em que quase tudo é descoberta, ter fotos íntimas vazadas em grupos de Whatsapp certamente desnuda vulnerabilidades de uma sociedade com telhado de vidro. Homens expondo mulheres que são culpabilizadas ao primeiro sinal de reação coletiva.
A hashtag #exposedfortal, que vem sendo divulgada no Twitter, trouxe relatos de jovens que tiveram imagens compartilhadas por rapazes que demonstravam se divertir trocando nudes pelo Whatsapp. Até as 20h desta terça (23 de junho de 2020), mais de 62,7 mil tuítes com a hashtag já haviam sido compartilhados na rede social. O assunto até então estava entre os mais comentados da plataforma em Fortaleza.
Uma mulher que manda nudes não está autorizando que sua imagem seja divulgada para qualquer um, assim como andar sozinha numa rua escura não pode ser apontado como motivo para uma mulher ser violentada. Julgá-la publicamente por ter a intimidade exposta é revitimizá-la. A culpa não é da vítima.
Compartilhar imagens íntimas de outra pessoa pode configurar prática criminosa. Organizar-se em torno de uma hashtag é dizer não à banalização. Discutir publicamente esse tema é fundamental para que casos assim sejam menos frequentes e para que mais mulheres sintam-se apoiadas a denunciar esse tipo de comportamento.
Numa observação inicial sobre a repercussão da #exposedfortal, é possível ter acesso a ameaças veladas de supostos responsáveis por compartilharem nudes de mulheres. Ver postagens nas quais as jovens que denunciaram chantagens sofridas são chamadas de "putas" e ameaçadas de serem estupradas é sinal evidente de um discurso violento e misógino que persiste como se a internet não estivesse submetida às leis. O tuíte do secretário de Segurança do Ceará, André Costa, estimula vítimas a registrarem boletins de ocorrência e declara prioridade nesse tipo de investigação.
Há aspectos delicados que podem ser analisados a partir de episódios assim, tais como o acesso e o uso responsáveis de aparelhos celulares por adolescentes ou por pessoas de qualquer faixa etária. Sem falso moralismo, existe diálogo sobre educação sexual na sua casa? Já orientou seu filho ou sua filha adolescente sobre como reagir caso receba fotos assim? A vulnerabilidade não é só de uma mulher. Não é apenas das mulheres. É de todos nós como sociedade.