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TJCE nega devolução de bens de namorada de Fuminho
CIDADES

TJCE nega devolução de bens de namorada de Fuminho

O pedido foi feito pela defesa da estudante. Fuminho é apontado por envolvimento na morte dos chefes do PCC, em 2018, no Ceará
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GILBERTO APARECIDO dos Santos, o Fuminho, momentos antes de ser preso em Moçambique, em abril deste ano (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução GILBERTO APARECIDO dos Santos, o Fuminho, momentos antes de ser preso em Moçambique, em abril deste ano

A Justiça do Ceará negou provimento, na tarde desta quarta-feira, 24, ao pedido feito por Maria Caroline Marques Gonzaga, de 25 anos. Através de um mandado de segurança, a jovem tentou reaver bens apreendidos pela Polícia Federal numa operação realizada em seu apartamento em São Paulo, no dia 17 de abril deste ano. Celulares, quantias em dinheiro em quatro moedas diferentes (reais, dólares, euros e rands - moeda sulafricana), cartões e documentos com possíveis indicações para uma outra investigação ainda em andamento: os assassinatos de Gegê do Mangue e Paca, os chefes do PCC executados no Ceará em 2018.

Paulista, estudante de Medicina em Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, ela é namorada de Gilberto Aparecido dos Santos, o "Fuminho". Ele é apontado como mandante das mortes de Rogério Jeremias de Simone (Gegê) e Fabiano Alves de Souza (Paca). Manteve-se foragido por 21 anos, tido como o braço direito de Marcos Willians Herbas Camacho, o "Marcola", o número 1 da organização criminosa.


O mandado de segurança foi julgado pelo judiciário cearense porque o material apreendido consta no processo do duplo homicídio, incluindo o delito de associação criminosa, que tramita na 1ª Vara da Comarca de Aquiraz. Fuminho e a namorada estavam juntos em Maputo, capital de Moçambique, até poucos dias antes da prisão dele acontecer. Ela havia deixado o país africano de volta ao Brasil no dia 24 de fevereiro.

A pandemia do coronavírus e o fechamento de aeroportos brasileiros impediu o retorno imediato de Fuminho. Já rastreado havia dois anos, ele foi enfim capturado por agentes da PF no dia 13 de abril. Quatro dias depois houve a apreensão dos bens, por ordem judicial. O casal residia na África do Sul, mas estaria em território moçambicano por causa de negócios.

Entre os bens a recuperar estavam quatro celulares, um cartão que seria de um banco em Joanesburgo, na África do Sul, documentos diversos com informações sobre emails. A PF acredita em possíveis contatos de Fuminho neste material. Ou provas que ajudem a confirmar a ordem das execuções de Gegê e Paca por ele, mais nomes e sua participação em outros delitos. Os advogados da estudante também solicitavam a eliminação do material recolhido como objeto da investigação.

Houve quantia significativa em dinheiro na apreensão: um maço com R$ 34.700 e outro com R$ 24 mil, 22.250 dólares americanos (uma parte com US$ 125 e outra maior com US$ 22.125), 200 euros e 2.450 rands (moeda sul-africana). No dia em que o mandado de busca e apreensão foi cumprido, as partes com US$ 22.125 e a de R$ 24 mil estavam num outro quarto do apartamento que não seria o da estudante. Os demais itens foram achados num quarto onde ela se instalava.

Livre, Fuminho circulava usando documentos com o nome de Luiz Gomes de Jesus. Nas duas décadas de fuga, com várias identidades adotadas, ele é descrito pela Federal como o principal articulador do fornecimento de cocaína do PCC. Era um homem da confiança de Marcola. A droga era comprada de países da América do Sul (Colômbia, Bolívia, Venezuela) e enviada para África e Europa via portos e aeroportos. Em toneladas.

O mandado de segurança foi julgado em sessão virtual da 2ª Câmara Criminal do TJCE. O relator foi o desembargador Antônio Pádua Silva, que considerou a retenção dos itens como importante para elucidar a trama da morte de Gegê e Paca.


Sessão virtual da 2ª Câmara Criminal do TJCE que negou pedido para devolver bens apreendidos da namorada do traficante Fuminho, acusado de autoria nas mortes de Gegê e Paca
Sessão virtual da 2ª Câmara Criminal do TJCE que negou pedido para devolver bens apreendidos da namorada do traficante Fuminho, acusado de autoria nas mortes de Gegê e Paca (Foto: REPRODUÇÃO )

Na sustentação oral e no recurso, o advogado Augusto de Arruda Botelho, de São Paulo, argumentou que o dinheiro não estava com a estudante e que o material levantado deveria ser devolvido e desconsiderado da investigação. O Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 18 de maio último, já havia negado liminar para pedido semelhante. O POVO não conseguiu contato telefônico com o advogado.


Acusados de traidores pela facção

Gegê e Paca teriam sido mortos por traírem a facção, acusados de desvio de dinheiro do grupo. Estavam morando em Aquiraz, haviam comprado imóveis de luxo, carros e atuado paralelamente à facção. A ordem para matá-los teria partido de Marcola, sob a coordenação de Fuminho.

O crime aconteceu no dia 15 de fevereiro de 2018. Os corpos só foram encontrados dois dias depois, dentro de um manguezal na área da aldeia indígena jenipapo kanindé. Dos dez réus do processo em Aquiraz, dois anos depois, Fuminho foi o quarto a ser preso. Ele está na penitenciária federal de Catanduvas, no Paraná.

A operação para prender Fuminho em abril, sob extremo sigilo, teve participação de membros da PF e do Itamaraty, pelo Brasil, do Departamento de Polícia de Moçambique e da principal unidade antidrogas do Departamento de Justiça dos Estados Unidos - o Drug Enforcement Administration (DEA).

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