Estacionamentos cheios, famílias reunidas, banhistas no mar e grupos praticando esportes — a maioria das pessoas sem máscara. Não fosse pelas barracas de praia fechadas, o último domingo, 5, teria parecido com um dia de fim de semana na Praia do Futuro em um cenário sem a pandemia do novo coronavírus. O POVO circulou por alguns pontos do local e presenciou a movimentação, mesmo com as restrições do decreto estadual.
Prorrogado por mais uma semana pelo governador Camilo Santana (PT) no sábado, 4, o decreto de isolamento social autoriza a prática esportiva individual e a circulação de pessoas em espaços públicos e privados acessíveis ao público, com o uso obrigatório de máscara, distanciamento mínimo e sem aglomeração. A medida é válida a partir desta segunda-feira, 6.
Na Praia do Futuro, O POVO não registrou o funcionamento de barracas de praia, que estavam previstas para ter suas atividades iniciadas na fase 3 do plano de retomada econômica. Apesar de a Capital ter avançado na reabertura, esses estabelecimentos não foram autorizados a retornar por enquanto, assim como bares e restaurantes ainda não podem abrir no período da noite. No entanto, a reportagem registrou quiosques sem regulamentação revendendo produtos como água e cerveja para os banhistas.
Há 13 anos, Francisco Evaldo é segurança de uma das barracas no local. Ele relata que a repercussão do adiamento da reabertura entre os donos dos empreendimentos foi negativa, pois muitos já tinham realizado compras para receber os clientes. Aquisição de produtos do mar e limpeza de mesas estavam entre os preparativos — que deverão aguardar pelo menos mais uma semana. "Muitos funcionários das barracas ligaram, mandaram mensagem e perguntaram para saber o que aconteceu. O mar está cheio de gente e não podemos abrir pra tentar ganhar nosso ganha-pão", diz.
A enfermeira Bruna Pereira era uma das banhistas presentes na Praia do Futuro. Ela afirma que é a primeira vez que saiu de casa para lazer. Desde o início de março, só saia para trabalhar na linha de frente do combate ao novo coronavírus. Na praia, de acordo com ela, não há tanto potencial de transmissão do vírus, principalmente se comparada à ida aos shoppings. "Eu decidir vir à praia hoje ao invés de aglomerar os shoppings. Viemos desopilar, mas tem riscos. Tudo tem risco. Mas hoje eu me permiti viver esse momento na praia", diz. Bruna ressalta que vem mantendo todos os cuidados em casa e que havia levado o álcool gel para o passeio.
O também enfermeiro Igor Silva, 29, surpreendeu-se com a lotação do local. Mesmo sem usar a máscara enquanto estava na praia, afirma que está tomando todos os cuidados de higienização em ambientes fechados, além de estar ciente das informações do novo decreto. O enfermeiro relatou que já teve Covid-19, com sorologia apontando positivo para anticorpo IgG e negativo para IgM.
"Os cuidados pessoais estão bem mais relaxados, uso máscara em supermercados, farmácias, espaços confinados com circulação de pessoas e higienizo produtos quando chego em casa. Basicamente é isso, porque tenho pessoas que convivem comigo e, apesar de eu não transmitir, existe o risco da contaminação de outros locais para as pessoas que convivem comigo", afirma.
Os testes rápidos para Covid-19 detectam apenas os relacionados ao Sars-Cov-2. Segundo a diretora do Núcleo de Biologia Estrutural (Nubex) da Universidade de Fortaleza (Unifor), Cristina Moreira, o IgG é um anticorpo mais específico que permanece circulando mesmo após o fim da fase aguda, indicando que a pessoa está, em tese, protegida de futuras infecções provocadas pelo agente causador da doença. Ainda não se sabe o grau de proteção contra a Covid-19 e se a imunidade será permanente ou não. (Colaborou Gabriela Custódio)