Um em cada três estudantes que tentam vaga em universidades por meio do do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não tem acesso à internet e a dispositivos que permitam aprender remotamente. É o que indicam as respostas ao questionário socioeconômico aplicado aos candidatos nos últimos cinco anos e levantadas pela plataforma Quero Bolsa. Essa realidade se estende durante o período dos cursos superiores e complexifica o atual cenário.
Na Uece, dos 1.004 docentes e 14.387 discentes de graduação, apenas 27% (4.149) responderam a consulta sobre inclusão digital. Entre os estudantes, 91% têm acesso à internet em casa e 90,5% acessa por celular. Entre os professores, 98,5% tem acesso à internet em casa e 92% acessa por notebook."Os professores têm muita vontade de voltar à plenitude dos trabalhos, mas, quando pensamos na concretização, é inviável", afirma Sandra Gadelha, presidente do Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Ceará (SindUece). "A maioria dos alunos, principalmente dos campi do Interior, são das classes populares. Como prosseguir com o calendário acadêmico sem nossos alunos terem acesso?"
No IFCE, professores também argumentam sobre prejuízos pedagógicos e aprofundamento de desigualdades. Nota do Sindicato dos Servidores do IFCE (SindsIFCE) afirma que o ensino remoto "realizado em espaço doméstico limitado, em regiões ou comunidades sem cobertura de Internet ou rede de dados móveis, desorganiza os processos formativos, reproduz e amplia o desnível de aprendizagem". Um levantamento da Pró-reitoria de Ensino do Instituto foi respondido por um terço dos estudantes matriculados e 95% afirmaram ter acesso à internet. O resultado norteou a aquisição de 20 mil chips com acesso a 20 GB de internet. De acordo com a Reitoria, "2.000 tablets estão em processo de aquisição para suprir as necessidades dos alunos que não têm equipamento de informática".
Decisão da UFC também propõe a distribuição de chips de internet. Pesquisa da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (Prae) indica que 13% dos consultados só utilizam a rede por meio de pacote de dados 3G e 4G. O levantamento foi respondido por 10.069 alunos, o que corresponde a cerca de 34% de todos os campi. Outra pesquisa, realizada pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE), foi respondida por 3.013 alunos. Destes, 33,6 % afirmam que o principal problema nas suas turmas é a falta de acesso à internet.
Em 21 de junho, a Universidade encerrou o prazo para inscrições para receber os 6 mil chips de planos de 20 GB. Os dispositivos ainda serão distribuídos a cada campus e em local a ser definido. A Reitoria afirma que os pacotes são suficientes para o aluno assistir todas as aulas e que abrangem 20% da comunidade estudantil. Para quem não conseguir acessar as aulas remotamente de casa, serão disponibilizados computadores em salas na Universidade.