978 mil pessoas com 15 anos ou mais de idade estavam analfabetas no Ceará em 2019. O percentual de 13,6% da população coloca o Estado na quinta posição entre as unidades da federação em que os indivíduos não sabem ler ou escrever. Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o País tem 11 milhões de pessoas na situação. O Nordeste brasileiro concentra mais da metade desse grupo (56,2%). Os nove estados da região ocupam as nove primeiras posições no ranking nacional do analfabetismo.
Divulgada nesta quarta-feira, 15, pelo Instituto, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) - Educação 2019 mostra leve aumento do analfabetismo no Ceará, mas, oficialmente, a taxa é tida como estável. Em 2016, o percentual cearense estava em 15,2%, passando para 12,2% no ano seguinte e, na sequência, para 13,3% no grupo de pessoas mais jovens. O acréscimo de pessoas analfabetas foi de 22 mil nessa faixa etária, de 2018 para 2019.
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No Ceará, assim como no País, o analfabetismo está diretamente associado à idade. Quanto mais velho o grupo populacional, maior a proporção de analfabetos. De acordo com o IBGE, os resultados indicam que as gerações mais novas estão tendo maior acesso à educação e sendo alfabetizadas ainda enquanto crianças. Por outro lado, os analfabetos continuam concentrados entre os mais velhos e mudanças na taxa de analfabetismo para esse grupo se dão, em grande parte, devido às questões demográficas como, por exemplo, o envelhecimento da população.
O analfabetismo se apresenta de modo mais evidente em pessoas de 60 anos ou mais, chegando a 35,3% no último ano A taxa representa um total de 490 mil cearenses idosos que não sabiam ler ou escrever em 2019. observa-se queda ao passar, por exemplo, para 24,2% no grupo de idade de 40 anos ou mais; e para 16,7% no grupo de 25 anos ou mais.
Eloisa Vidal, professora do Programa de Pós-graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará (Uece), considera muito difícil reverter essa situação entre os idosos. A especialista destaca a necessidade de implementar programas de alfabetização de adultos na busca por caminhos para solucionar o problema. "Além do que só alfabetizar não é suficiente, necessitando de oferta de educação de jovens e adultos para assegurar a continuidade dos estudos, do contrário, parcela dos adultos alfabetizados volta à situação anterior", afirma.
A região Nordeste foi a única do Brasil a não apresentar queda na taxa de analfabetismo em 2019. Ao contrário das outras regiões, o percentual sofreu variação para cima em relação a 2018 e ficou em 13,9% entre as pessoas de 15 anos ou mais, correspondendo a 6,2 milhões de jovens que não sabem ler ou escrever. Dos nordestinos de 60 anos ou mais, 37,2%, ou um total de 3,1 milhões, eram analfabetos em 2019.
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A média de analfabetismo do Nordeste é mais que o dobro da nacional, que é de 6,6%, estando 7,3 pontos percentuais acima. "Esse dado é mais um indicador que acentua as desigualdades regionais e ele é intergeracional", avalia Eloisa Vidal. Para a professora, o analfabetismo adulto é consequência de problemas educacionais anteriores e exigem "solução complexa e de longo prazo". A professora observa que o dado atinge diretamente a População Economicamente Ativa (PEA), entre 15 e 65 anos.
Além disso, Vidal analisa que o analfabetismo interfere ainda na renda das pessoas já que a ausência ou baixa escolaridade leva a empregos precários, com baixos salários e alta rotatividade. Ainda segundo a especialista, o problema "inibe também o interesse de empresas com maior valor tecnológico agregado a seus produtos, em se instalar em regiões que apresentam baixos indicadores educacionais, pela dificuldade de mão de obra. Assim, alimenta o círculo vicioso das desigualdades regionais."
Para Marlene dos Santos, professora da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a estagnação da Região Nordeste é reflexo do projeto posto de desmonte da educação pública. A doutora da Faculdade de Educação da UFBA frisa houve sucateamento das políticas públicas e programas desenvolvidos para buscar avanço na qualidade do ensino no país. "Se antes nós já tínhamos dificuldade de diminuir e fazer avançar o direito de todas pessoas a alfabetização, com o governo atual, a dificuldade vai se tornar muito mais severa e intensa."
A especialista sugere ao Consórcio Nordeste, grupo formado pelos nove governadores da região, que pensem em estratégias também para educação a fim de reduzir os impactos com as ações tomadas pelo Governo Federal. "A educação é um dos pilares importantes que precisa ser tomado como um projeto prioritário para avançarmos. Não só superar o analfabetismo, mas para a garantia do direito, desde a educação infantil", propõe. (Colaborou Lais Oliveira/Especial para OPOVO)