Logo O POVO+
Cresce a caça ilegal no interior do Ceará durante a pandemia
CIDADES

Cresce a caça ilegal no interior do Ceará durante a pandemia

Fiscalização diminuiu no período. A crise econômica agrava o quadro. Algumas pessoas voltaram a caçar para alimentar suas famílias
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Tatu-peba: fauna da Caatinga, um dos biomas mais afetados (Foto: FOTOS DIVULGAÇÃO/ ASSOCIAÇÃO CAATINGA)
Foto: FOTOS DIVULGAÇÃO/ ASSOCIAÇÃO CAATINGA Tatu-peba: fauna da Caatinga, um dos biomas mais afetados

Regiões no interior do Ceará sofrem com o aumento da caça ilegal de animais silvestres da fauna brasileira durante a pandemia do novo coronavírus. De acordo com a 2ª Companhia do Batalhão (Cia) da Polícia de Meio Ambiente (BPMA), em Juazeiro do Norte, responsável por fiscalizar 71 municípios, as áreas mais visadas pelos infratores, no interior do Ceará, são as de Jaguaribana, Crateús, região do Cariri e Sertão Central.

Yrtonny Alencar, segundo tenente da Polícia Militar na 2ª Cia/BPMA,  aponta que, nos últimos quatro meses, a situação se agravou devido à redução da fiscalização. Áreas distantes das sedes policiais estão desassistidas. Além disso, os agentes de segurança foram remanejados para dar suporte às ações de enfrentamento à Covid-19, como fiscalizar o isolamento social, as barreiras sanitárias e de segurança instaladas nos municípios.

Contexto similar vivem os órgãos ambientais do governo brasileiro. No entanto, a situação é ainda mais grave: há falta de investimento para execução dos serviços. O 2º tenente lamenta pela suspensão dos trabalhos do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama) na região onde administra. "Nós fazíamos ações constantes com eles. Desde o início da pandemia, nunca mais houve trabalho conjunto entre o BPMA e o Ibama."

"Os caçadores são muito organizados. Com menos policiais em campo, o que acontece: por meio das redes sociais, eles divulgam que há menos fiscalização e organizam a prática. Neste momento de pandemia, como não tem policial fiscalizando, o caçador faz a caça ilegal sem ser molestado", descreve Yrtonny.

O Batalhão da Polícia Ambiental do Ceará tem três subdivisões: a sede e a 1º Companhia localizadas em Fortaleza. A 2ª Companhia em Juazeiro do Norte e a 3ª em Sobral. Respectivamente, cada Companhia é responsável por 12, 71 e 83 cidades.

Na zona rural do município de Aiuaba, Rômulo Sampaio Ribeiro, vereador em Antonina do Norte, foi preso em flagrante com armas, munição e dois tatus mortos. Em seu poder, ainda foram encontradas aves vivas: uma araracanga, dois papagaios e um sabiá laranjeira. O procedimento foi instaurado na Delegacia de Tauá. Rômulo foi enquadrado por posse ilegal de arma de fogo e crime ambiental. Após pagar fiança de R$ 4 mil, foi liberado.

"Eu não tenho muito o que falar. Eu não estava caçando. Estava dentro da minha casa. Os tatus não eram meus, a arara não era minha. Não fui eu quem pegou. Eu assumi tudo para não prejudicar mais ninguém", disse Rômulo Sampaio Ribeiro ao O POVO. 

Daniel Fernandes, coordenador geral da Associação Caatinga, atua no monitoramento de 400 espécies em uma área de mais de 6 mil hectares, na Reserva Natural Serra das Almas, no limite entre os municípios Crateús, no Ceará, e Buriti dos Montes, no Piauí. Ele pontua que a caatinga é um bioma que sofre muita pressão da caça. Antes, era para sobrevivência. Mas devido aos programas de assistência social nos últimos anos, a prática reduziu, mas continuou pelo fator cultural.

No entanto, o cenário da Reserva mudou nos últimos quatro meses. Com a redução dos funcionários no local e a suspensão de visitas e pesquisas, animais, antes escondidos, se aproximam da mata aberta. Por outro lado, é possível encontrar em maior frequência e quantidade vestígios de caças na região. Segundo ele, armadilhas são deixadas na área para a captura da fauna.

Conforme o coordenador geral, as famílias que moram no entorno da Serra das Almas, diante da situação de dificuldade financeira agravada pela pandemia, estão em situação de desespero e caçando novamente para se alimentar. A prática, alerta Daniel, põe os indivíduos em perigo sanitário.

"As pessoas estão precisando de uma fonte de proteína e vão caçar para isso. Essa carne de caça transmite uma série de doenças. Para nos alimentarmos da carne suína ou bovina, os animais tomam uma série de vacinas, os animais silvestres, não. Artigos apontam ligação de consumo de morcegos e pangolin às causas da própria pandemia do novo coronavírus. Essas famílias podem ficar doentes."

 

Clique na imagem para abrir a galeria

Campanha Catingueiros #TODOSUNIDOS

Site: https://www.acaatinga.org.br/

Doe via transferência bancária

Associação Caatinga

Banco do Brasil (001)

Agência: 3515-7

Conta Corrente: 5343-0

CNPJ: 02.885.544/0001-03

Animais mais caçados no Ceará

Veado catingueiro

Porco caititu

Preá

Cutia

Tatupeba

Tatu-galinha

Tamanduá-mirim

Aves

Jacu

Perdiniz (lhambu)

Ribança ou avoante

Rolinha

Asa branca

Répteis

Teju

 

O que você achou desse conteúdo?