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Bate pronto com Paulo Speller
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Bate pronto com Paulo Speller

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Paulo Speller foi o 1º reitor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), entre 2010 e 2013. Foi também secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (2013 - 2014) e secretário-geral da Organização de Estados Ibero-Americanos (2015 - 2018). (Foto: Iana Soares)
Foto: Iana Soares Paulo Speller foi o 1º reitor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), entre 2010 e 2013. Foi também secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (2013 - 2014) e secretário-geral da Organização de Estados Ibero-Americanos (2015 - 2018).

O POVO - Há 10 anos, o cenário e os horizontes do Brasil eram muito distintos dos atuais. O que se projetava com a criação da Unilab?

Paulo Speller - Tinha um duplo objetivo: ir para uma cidade como Redenção para servir de motor para o desenvolvimento da região e, ao mesmo tempo, viabilizar a internacionalização do Ensino Superior nos países de língua portuguesa.

O Brasil, historicamente, é muito isolado, com pouca ou quase nenhuma integração com os países vizinhos de língua espanhola e menos ainda com os países da América do Norte. Então, foi uma porta que se abriu e com uma vantagem muito grande: era um momento de crescimento e otimismo. Todo mundo apoiou a ideia - governo do Estado, prefeitura, organismos internacionais - e tinha orçamento. Estávamos a mil naquele momento.

OP - Na época em que o senhor ocupou a reitoria da Unilab, quais foram as principais dificuldades enfrentadas?

Paulo - Tínhamos muito apoio, mas houve sim dificuldades de se instalar em uma região com pouca infraestrutura. Foi preciso que a prefeita me entregasse a chave da prefeitura de Redenção e dissesse “Instale-se aqui, ocupe a prefeitura”, porque ia demorar a construir. Naquela altura não tinha hotel. A gente ficava em Fortaleza e ia pela manhã e voltava de noite todos os dias. Tinha uma pensão muito simples onde acabei quase morando até que se construísse o primeiro prédio de apartamentos na cidade. Então, quer dizer, a infraestrutura era muito precária, e ainda há dificuldades, né? Mas esse é o papel da interiorização também. Quando uma universidade vai para o interior, acaba estimulando, abre frentes e a região muda.


OP - E quais conquistas destacaria?

Paulo - Uma coisa muito importante foi a abertura dos nossos olhos para o mundo. Nós, brasileiros, somos muito voltados para dentro. “O Brasil é grande, tem tudo, pode tudo, somos campeões do mundo” e acabamos não olhando muito para fora. A Unilab tem esse papel, mesmo no Ceará, que aposta muito na relação com o mundo.

Foi muito bom também porque os estudantes estrangeiros de língua portuguesa todos falam uma língua a mais; além das línguas nacionais e do português, eles sempre falam ou inglês ou francês. Isso eles trouxeram para dentro da Unilab e mostraram para os estudantes brasileiros como é importante falar uma segunda língua. Tanto que criamos cursos de línguas em que os estudantes africanos eram os monitores e todo mundo queria fazer.

OP - Na atual conjuntura do País, especialmente em relação à Educação, o que o senhor enxerga como importância e possibilidades da Unilab?

Paulo - A educação brasileira, em todos os níveis, está sofrendo muito, por uma ausência de direção federal, corte de verbas e abandono do Plano Nacional de Educação, mas tudo isso vai passar. A crise do Covid vai passar, o crescimento vai ser retomado.Mas a Universidade, sua ideia fundadora e, sobretudo, a lei permanecem.

Só a Unilab tem, na sua lei de criação, autorização do Congresso Nacional para fazer a cooperação internacional fora do Brasil, coisa que outras universidades têm muita dificuldade.Agora, claro, a ideia da Unilab depende muito da postura do País no multilateralismo, na presença em organismos internacionais, na cooperação internacional. O Brasil, nesse governo atual, se fechou muito e está parado. É uma questão que tem que ser retomada.


Paulo Speller foi o 1º reitor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), entre 2010 e 2013. Foi também secretário de Educação Superior do Ministério da Educação (2013 - 2014) e secretário-geral da Organização de Estados Ibero-Americanos (2015 - 2018).

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